domingo, 27 de março de 2016

Uma breve nota sobre ALCA, NAFTA e a manufatura no Brasil e no México.

Em 2005 deveria ter começado a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), deveria, mas não aconteceu. Um grupo de países barrou a ALCA alegando que o acordo destruiria as indústrias locais, o Brasil teve destaque nesse grupo. Na ocasião a FIESP lançou um estudo mostrando as perdas que teríamos com a ALCA, também não faltaram especialistas apontando como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) havia destruído a indústria mexicana e que a ALCA faria o mesmo com a nossa. O gráfico abaixo mostra a produção manufatureira como proporção do PIB no Brasil e no México desde 2005, como podemos ver mais de dez anos depois é bem provável que nossa indústria estivesse feliz tendo o desempenho da indústria mexicana.




Da onde tiraram a ideia que o NAFTA destruiu a indústria do México? Para responder a pergunta basta olhar o mesmo gráfico começando em 1995, logo após a entrada em vigor do NAFTA a produção manufatureira do México subiu em relação ao PIB, a subida teve folego curto, de forma que entre 1998 e 2005 foi observada uma queda consistente na produção industrial mexicana. Tal queda poderia ter sido causada por vários motivos, mas os “combatentes do império” na época preferiram colocar a culpa no NAFTA. Mais dez anos se passaram e a manufatura mexicana se estabilizou em torno de 17% do PIB, a nossa está em 11% e caindo.




Cuidado ao leitor apressado, os gráficos acima não permitem concluir que a indústria mexicana se beneficiou do NAFTA nem que a queda na indústria brasileira teria sido evitada com a ALCA, longe disso, os gráficos acima apenas mostram que os que tentavam nos assustar com o exemplo do México poderiam ter sido mais cuidadosos. Não vou cometer o mesmo erro.

P.S. Os dados são do Banco Mundial e foram obtidos por meio do Quandl (link aqui).




sexta-feira, 25 de março de 2016

Crescimento no Brasil, Na América Latina e no Mundo nos Governos Lula, FHC e Dilma

Segundo os dados do FMI (link aqui) em 2002, um ano antes do PT chegar ao governo federal, o PIB brasileiro correspondia a 3,2% do PIB mundial, hoje, segundo estimativas do FMI, corresponde a 2,84%, menos do que em 2002 e menos do que os 3,17% de 2010, último ano de Lula. No período FHC a participação do Brasil no PIB mundial caiu de 3,47% em 1994, ano anterior a posse de FHC, para 3,2% em 2002. Tais números mostram que crescemos menos que o mundo nos anos FHC, ficamos mais ou menos estáveis nos anos de Lula e caímos muito com Dilma, de fato, nos cinco anos de governo Dilma perdemos mais proporção do PIB mundial do que nos dezesseis anos de FHC e Lula. A figura abaixo mostra a participação do Brasil no PIB mundial, a série observada são os dados do FMI e a série simulada consiste nos dados até 2002 nos anos seguintes foi aplicada a taxa de decrescimento médio do período 1995 a 2002.




É relevante que o abandono da agenda de reformas e a volta de políticas desenvolvimentistas onde o governo tentava induzir e coordenar o crescimento tenha levado a um aumento da participação do Brasil no PIB mundial. De fato, políticas desenvolvimentistas conseguem gerar uma onda de crescimento, porém, a onda gerada pelo desenvolvimentismo petista foi muito curta, quase uma “marolinha”, durou de 2006 a 2011 e depois nos jogou em queda livre. Hoje estamos caindo mais rápido do que antes e nem mesmo temos o consolo da melhora em indicadores de bem-estar ou da inflação controlada. De fato, praticamente todo o ganho do crescimento entre 2006 e 2011 já foi perdido e, a valer as projeções para os próximos anos, em breve a linha observada ficará abaixo da simulada.

Os números acima devem ser lidos com cuidado, vários fatores que não estão relacionados a nosso governo podem afetar nossa participação no PIB mundial. Um exemplo é a ascensão da China, nenhum governo conseguiria colocar o Brasil para crescer no mesmo ritmo da China. Sendo assim é conveniente comparar um país com países semelhantes por algum critério, como já expliquei em outros posts aqui no blog meu grupo favorito de comparação é a América Latina. Temos PIB per capita semelhantes, temos tradições culturais semelhantes e, ao contrário do que diz a lenda, o Brasil não é muito mais industrializado que os outros países do continente, pelo contrário (link aqui). Comparações com países ricos não são adequadas porque tais países possuem uma dinâmica de crescimento muito diferente da nossa, tanto no sentido do que é necessário para crescer quanto nas escolhas entre crescimento e outros objetivos. Por motivos semelhantes não gosto de comparar o Brasil com todos os países em desenvolvimento porque na lista existem países com dinâmicas muito diferentes da nossa, destaque para os milagres de crescimento da Ásia.

Comparando com a América Latina estamos mais pobres hoje do que estaríamos se tivéssemos seguido como nos anos FHC. Para fazer essa afirmação calculei nosso crescimento em proporção a América Latina e Caribe entre 1995 e 2002 e apliquei a proporção nas taxas de crescimento observadas na América Latina e Caribe entre 2003 e 2015 para criar uma nova série de crescimento para o Brasil. Para ser mais preciso: entre 1995 e 2002 nosso crescimento foi aproximadamente 10% maior que a média da América Latina e Caribe, calculei quanto teria sido crescimento entre 2003 e 2015 se tivéssemos continuado crescendo 10% mais do que a média da América Latina e Caribe. A metodologia subestima o que teria sido nosso crescimento sem a crise atual, isso ocorre porque o Brasil está puxando para baixo a média da América Latina e Caribe e eu não tive ânimo de construir uma série excluindo o Brasil. Mesmo assim achei os números interessantes e resolvi compartilhar com vocês.




De acordo com o FMI em 2015 nosso PIB per capita foi de $15.690,00 em dólares internacionais (corrigido por paridade do poder de compra), segundo minha estimativa no universo alternativo onde tivéssemos continuado crescendo em proporção a América Latina e Caribe da forma como crescemos durante o período FHC nosso PIB per capita seria de $17.126,87, ou seja, em média ganhamos 8% menos do que estaríamos ganhando mantida a tendência do período FHC ajustado pela América Latina e Caribe. A Figura abaixo mostra o PIB per capita observado e o simulado.

Observe que o PIB per capita simulado está sempre acima do observado o que significa que ajustando pelo que ocorreu na América Latina e Caribe a economia brasileira teve um pior desempenho nos governos Lula e Dilma do que no governo FHC (o mesmo resultado foi discutido aqui). Se o exercício apresentado fizer algum sentido, ou seja, se a América Latina e Caribe formarem um grupo de comparação adequado para o Brasil então podemos dizer que o Brasil não soube aproveitar as oportunidades que apareceram com o boom das commodities nem mesmo no período Lula.