Hoje a revista Época deu uma notícia que me deixou
preocupado. Segundo a revista “Temer quer uma ‘forcinha’ do BNDES para ajudar a
destravar a economia” (link aqui). É um erro, não um erro simples, mas um erro
que pode custar caro e colocar a economia em mais uma década perdida em um
futuro próximo. Pior, é um erro que foi cometido há pouco tempo e que, em
última instância, selou o destino de Dilma e colocou Temer no Planalto. Ao
comprometer o lado fiscal para estimular uma economia que não respondeu aos
estímulos o governo Dilma acabou sendo empurrado para as pedaladas como forma
de financiar o gasto público sem escancarar o problema fiscal. Tivesse a
economia crescido como previsto pelos entusiastas do BNDES ou não tivesse o
governo gasto bilhões com o BNDES as pedaladas não teriam alcançado o volume
que alcançaram e Temer ainda seria vice-presidente.
É fato que usar o BNDES é tentador para o governo. A crise é
grande e mesmo que o fim da queda esteja próximo ainda vai demorar um bocado
para voltarmos aos níveis de renda de 2013. O desemprego alto é um problema para
qualquer político, principalmente um ano antes das eleições. Neste cenário de
caos empresários aparecem dizendo que se receberem dinheiro barato vão aumentar
a produção e tirar a economia da crise. O problema é que isso não vai
acontecer. O dinheiro barato vai deixar os empresários mais ricos, mas não vai
criar empregos e, se criar, será por pouco tempo, exatamente como aconteceu no
passado.
A figura abaixo mostra os desembolsos do BNDES para
indústria de transformação entre 2001 e 2015. Os dados de desembolso estão na
página do BNDES (link aqui), os dados de variação real da produção da indústria
de transformação são do IPEA e do IBGE. O intervalo foi determinado pela disponibilidade
de dados, a série de variação do PIB da indústria de transformação pela
metodologia nova das contas nacionais só está disponível para este período.
Escolhi a indústria de transformação porque é onde os empréstimos do banco tem
mais potencial de estimular a produção, agropecuária e indústria extrativa são
muito influenciadas por fatores externos que estão fora de controle do BNDES.
Como pode ser visto não existe relação positiva entre os
desembolsos do BNDES para indústria de transformação e o a variação na produção
desta indústria. De fato, se retiramos o ano de 2010, como é feito na figura
abaixo, a relação fica negativa. Não esqueçamos que 2010 foi um atípico em vários sentidos.
Isto quer dizer que o dinheiro do BNDES reduz a produção
industrial? Não! Esta não é uma conclusão que possamos tirar destas figuras,
para fazer tal afirmação seria preciso trabalhar os dados para além do objetivo
deste post. É sempre possível que relação negativa venha do governo aumentar o
desembolso em épocas de crise. Porém, as figuras mostram que não há razões para
acreditar que desembolsos do BNDES vão dar uma “forcinha” para tirar a economia
da crise. Sendo assim, não vejo motivos para comprometer o lado fiscal com mais
desembolsos do BNDES. Se o governo quer dar as indústrias uma força para sair
da crise deveria começar a trabalhar seriamente para reduzir os custos de nossa
burocracia, melhorar o ambiente de negócios e, se possível, emplacar a reforma
trabalhista. O resto é conversa para agradar doador de campanha.