No post anterior falei sobre a distribuição da renda média
dos países do mundo. Mostrei que pelos dados da Penn World Table não é possível
falar que os países pobres foram os perdedores da globalização. A análise
simples dos dados sugere o contrário, países pobres cresceram mais que países
ricos. Neste post vou falar sobre pobreza. O fato de países pobres terem
crescido mais que países ricos não implica em redução na pobreza mundial, é
possível que a renda dos países pobres esteja se concentrando nas mãos dos mais
ricos destes países. Neste caso o aumento da renda média não implica em aumento
da renda dos mais pobres. Olhemos para os dados relativos a pobreza.
Como a Penn World Table não trata de pobreza desta vez os
dados utilizados serão do Banco Mundial, especificamente da Poverty &Equity Data. Se é para falar de pobreza é melhor começar por onde o problema é
mais grave: a África subsaariana. É comum ver na Internet ou em revistas e
jornais estatísticas assustadoras a respeito da miséria nesta região, qualquer
pessoa normal sente algum mal estar quando se depara com imagens de crianças
passando fome e/ou com estatísticas mostrando que o número de miseráveis
(pessoas que vivem com menos de $1,25 por dia, corrigidos por PPP) nesta região
mais que dobrou entre 1981 e 2010. Eram pouco mais de 200 milhões de pessoas
nesta situação em 1981 e em 2010 já passavam de 400 milhões. Números como este
são desconcertantes para civilização, é inaceitável que em pleno século XXI com
todas as técnicas de produção agrícolas que dominamos pessoas passem fome.
O impacto dos números é tão forte que dificulta nosso
raciocínio, e disto se aproveitam os críticos do livre mercado. O aumento do
número de miseráveis foi maior ou menor que o aumento da população? Sem
considerar este efeito qualquer análise está comprometida, pior, é possível que
os mecanismos que criam miséria passem a ser defendidos por pessoas que
sinceramente querem o fim da miséria. É como um obeso fazendo dieta que ao
perceber que ainda é o mais gordo da turma afirma que a dieta não funciona e
ignora que antes da dieta ele pesava duas vezes a média da turma e agora pesa
uma vez e meia a média. Mas deixemos de coisa e cuidemos da vida, vamos aos
números. A percentagem de miseráveis na África subsaariana era 56,5% em 1981 e
caiu para 48,5% em 2010. O pico foi de 59,4% em 1993, curiosamente na década de
1990, o auge de neoliberalismo, começou o processo de queda na proporção de
miseráveis, foram mais de dez pontos percentuais de queda entre 1993 e 2010!
Entre 1993 e 2010 também caíram as proporções do que vivem com menos de $2,50
por dia e dos que vivem com menos de $5,00 por dia. A figura abaixo ilustra a
proporção dos que ganham menos de $1,25 por dia, as outras podem ser obtidas
aqui.
Mas a África é distante, entre nossos intelectuais não
faltam os que acreditem que a miséria está aqui em nuestra América. Continente
devastado pela exploração do império, pelas políticas neoliberais, pelo FHC,
pelo aquecimento global, pelo ET de Varginha e pelo homem do saco. A figura
abaixo ilustra a proporção dos que vivem com menos de $1,25 por dia na América
Latina. Eram 11,9% da população em 1981, subiu para 13,6% em 1984 e chegou a
5,5% em 2010. No Brasil ocorreu fenômeno semelhante, em 1990 o percentual dos
que viviam com menos de $1,25 ao dia era 17,2% da população, este percentual
subiu a 17,9% em 1992 e, a partir deste ano começou a cair. Em 1995 já era
11,3% (há quem diga que o Plano Real foi ruim para os pobes!), em 2002 estava
em 10,6%. Caiu continuamente até 2008 quando chegou a 6%, em 2010 subiu para
6,1%.