sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Venezuela, preço do petróleo e óleo de peroba

Vez por outra me assusto com o que vejo no FB, ontem foi um desses dias. Apareceu no meu feed de notícias um texto afirmando que a crise na Venezuela é por conta da queda do preço do petróleo e não das desastrosas medidas econômicas do tirano de Caracas. Não creio que alguém acredite nisso, mas, por via das dúvidas, resolvi juntar e compartilhar alguns dados com os leitores do blog. Nada de muito impressionante, mas que pode útil na pouco provável hipótese de algum leitor esbarrar com alguém que acredite nesta conversa.

Começo por mostrar quais são os países que são mais dependentes do petróleo. A base de dados do Banco Mundial (WDI) lista o quanto a renda do petróleo representa no PIB de cada país. O dado mais recente para Venezuela é de 2013, desta forma fiz a média da proporção da renda do petróleo no PIB para todos os países entre 2010 e 2013. A figura abaixo mostra os dezenove países onde a renda do petróleo foi maior que 20% do PIB entre 2010 e 2013. A Venezuela aparece na décima quinta posição, com a renda do petróleo correspondendo a 23,9%. Em primeiro lugar está o Congo com 60,88%, além do Congo no Kuait, na Líbia e na Guiné Equatorial a renda do petróleo corresponde a mais de 505 do PIB.




Fosse a queda do preço do petróleo a principal responsável pela crise que se abateu na Venezuela a partir de 2014 era de se esperar que os outros países da lista tivessem passando por crises semelhantes. A figura abaixo, construída com dados do FMI, mostra a taxa média de crescimento dos países que estão na figura anterior no período 2014 a 2016. Apenas a Líbia teve um desastre maior que o da Venezuela. Para quem não lembra a Líbia está em guerra civil desde 2011 quando da queda Muammar Kadhafi que tiranizou o pais por várias décadas, guerra que ficou mais intensa a partir de 2014 com o conflito entre o governo oficialmente reconhecido, a Irmandade Muçulmana, o Conselho de Benghazi e o Estado Islâmico.




Mesmo o Congo, onde a renda do petróleo corresponde a 60,88% do PIB, conseguiu uma média de crescimento positiva entre 2014 e 2016. De fato, da lista de países apenas quatro tiveram crescimento negativo no período: a Líbia e a Guiné Equatorial, ambos com renda do petróleo acima de 50% do PIB, a Líbia em guerra civil e a Guiné Equatorial governada por um dos mais antigos ditadores no cargo. Os outros dois foram o sultanato de Brunei e a tirania de Caracas.

Enfim, é claro que a queda do preço do petróleo teve efeitos na economia da Venezuela, mas a destruição que está acontecendo no país vizinho está longe de ser o padrão em países ainda mais dependentes do petróleo que a Venezuela. Ainda não posso dizer que o chavismo tem o potencial destruidor de um Estado Islâmico, por outro lado digo sem dúvidas que quem culpa o preço do óleo negro pelo desastre venezuelano está precisando de outro tipo de óleo, um tal óleo de peroba.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Avaliação da CAPES por área: uma olhada bem rápida na distribuição dos centros de excelência.

Quem me conhece sabe que não sou exatamente um entusiasta do modelo de avaliação da CAPES, tenho problemas tanto com a forma que a avaliação é feita quanto com o conceito de uma agência do governo avaliar a pós-graduação e classificar a pesquisa em todo o país. Mas independente de meus questionamentos ou mesmo de meu inconformismo a avaliação é feita e é considerada pela comunidade acadêmica brasileira. Sendo assim resolvi dar uma olhada nos programas de excelência por área de conhecimento.

A comparação é delicada, cada área tem sua própria comissão de avaliação e os critérios utilizados não são exatamente os mesmos. Por outro lado a CAPES tenta padronizar a avaliação tanto por meio de diretrizes quanto por uma análise posterior dos documentos elaborados por cada área. No saldo geral as notas são muito influenciadas pela área, mas tem alguma consistência entre as diversas áreas.Tal consistência faz com que em todas as áreas centros classificados com notas seis ou sete tenham inserção internacional maior que o que é costume na área. Falo isso não por desejar que as notas fossem mais padronizadas ou por dar um valor especial aos critérios de internacionalização usados pela CAPES, pelo contrário, falo apenas para localizar o leitor a respeito dos riscos das comparações abaixo.

Comecemos com a concentração de programas com notas seis e sete, os ditos centros de excelência. A área Ciências Biológicas III é que tem a maior concentração de programas de excelência, 35% do programas da área foram classificados como seis ou sete. Em seguida, com 28% dos programas classificados como de excelência aparece a área Ciências Biológicas II. A considerar a avaliação da CAPES os programas brasileiros na área de biologia se destacam em termos de inserção internacional, na área Ciências Biológicas I cerca de 22% dos programas são de excelência. Entre as dez áreas com maior proporção de programas seis ou sete apenas uma, Ciência Política e Relações Internacionais, é de ciências sociais ou humanas, cada um que tire suas conclusões. Na área Economia 18% dos programas ficaram com notas seis ou sete, estamos acima da média que foi de 14% dos programas com nível de excelência. A figura abaixo mostra a proporção de programas seis e sete por área da CAPES.



A avaliação das proporções é interessante para termos uma ideia da distribuição de programas de excelência nas diversas área, mas algumas vezes é importante termos uma noção de tamanho. É possível que uma área tenha uma proporção alta de programas de excelência por ter um número muito baixo de programas, não que isso seja um problema, mas é um ponto que deve ser considerado se, por exemplo, estamos interessados em avaliar número de patentes produzidas em uma determinada área. A figura abaixo mostra a distribuição do total de programas seis ou sete por área. Mais uma vez as ciências humanas e sociais aparecem com apenas um representante na lista das dez áreas que lideram o ranking, dessa vez foi a área Letras/Linguística. Com nove programas classificados como seis e sete a área de Economia fica abaixo, porém próxima, da média que foi de 9,5 programas de excelência pro área.


Não sei dizer a utilidade dos números acima, como já disse tenho críticas a avaliação da CAPES e não arisco apostar que peculiaridades das áreas tenham mais influência sobre os números do que a CAPES gostaria. De toda forma os números estão aí, se eu me animar faço uma avaliação dos resultados da UnB ou uma comparação entre as grandes universidades do país, talvez esta comparação seja mais útil, não sei dizer. Só sei que depois da eliminação do Botafogo e de um dia olhando dados de estados fazer esse post foi a diversão que encontrei.



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

É a inflação! Uma olhada nas crises políticas e na inflação.

Várias pessoas estão confusas com a passividade da população diante dos escândalos envolvendo políticos que continuam aparecendo em doses semanais. Só nesta semana vimos um apartamento cheio de dinheiro que foi associado a um dos homens forte do presidente Temer, Dilma e Lula denunciados duas vezes pelo Procurados Geral da República e Palocci reforçando o imenso clube dos acusadores do ex-presidente que acreditou ter refundado o Brasil. Isso tudo e ainda nem saímos dos inquilinos do Palácio do Planalto. Podemos colocar ainda as autoacusações do dono da JBS e principal beneficiário das ações do BNDES, os rolos de um procurador que trabalhava diretamente com Janot e um sem número de outras denúncias, investigações e prisões. Em um certo momento parecia que até o STF ia entrar na dança.

Com tudo isso por qual razão não vemos o povo nas ruas? Não creio que exista uma resposta única, vários fatores de naturezas distintas devem ser considerados. Como um economista interessado em política vou tentar apresentar um fator que me parece relevante: a inflação. Muita gente considera o desemprego o maior flagelo econômico, de fato o desemprego é cruel, a perda de parte da renda de uma família pode ter efeitos devastadores e de longo prazo. Porém, por pior que seja, o desemprego atinge muito os que perderam o emprego e muito pouco, em alguns casos nada, os que continuaram empregados, a inflação, por sua vez, atinge todo mundo. Empregados, desempregados e mesmo os que estão fora da força de trabalho sofrem com a inflação. A conta do supermercado crescendo a cada mês enquanto o salário, a pensão, a bolsa ou qualquer que seja a renda da família fica no mesmo lugar é desesperador. Abandonar hábitos porque o salário não chega mais ao final do mês é duro.

Na década de 1950 Alvarenga e Ranchinho registram o drama da inflação cantando “Tá Tudo Subindo”, a música começava com os versos:
“Do jeito que nós vai indo 
Com as coisa tudo subindo
Eu num sei como há de ser
Pra falar a verdade, moço
Essa vida tá um osso
Bem duro da gente roer”
A inflação medida pelo IGP-DI foi de 13,4% em 1950, ano em que Vargas foi eleito, caiu para 11,4% em 1952 e depois disparou chegando a 21,6% em 1953 e 25,1% em 1954, até então o maior valor observado tinha sido 23,7% em 1946 com queda drástica em 1947 quando ficou em 2,2%. Dois anos seguidos acima de 20% era novidade, vale notar que neste mesmo período a crise política aumentou culminando no suicídio de Vargas em 1954. Na primeira grande política do pós-guerra lá estava a inflação, “as coisas tudo subindo” e vida transformada em osso duro de doer não estavam apenas vendo de camarote a queda de Vargas, talvez tenham até subido ao palco.

Saiu Vargas, entrou JK e inflação continuou a subir. A instabilidade política continuou, desde a posse JK conviveu com ameaças de rebelião, mas conseguiu terminar o mandato. O mesmo não pode ser dito dos sucessores dele, Jânio renunciou e João Goulart foi deposto. Em 1961, ano da renúncia de Jânio, a inflação passou pela primeira vez de 50% ao ano. Na sequência a inflação foi aumentando e a crise política foi se agravando. Em 1964 a inflação chegou a 86,5%, neste mesmo ano foi dado o Golpe de Estado que tirou Goulart do Planalto e iniciou um novo período na história brasileira. A população que tinha ido às ruas contra Goulart ficou em casa na sequência do Golpe, talvez aliviada com a queda inflação para 36,1% já em 1965.

Com uma ditadura no poder a pressão da população contra a inflação, não por acaso também conhecida como carestia, ficou mais difícil. Mesmo assim o governo se esforçou para controlar a inflação que, apesar de absurdamente alta, caiu para 16,3% em 1973. Em 1974, na sequência do Choque do Petróleo, a inflação pulou para 34,1%. Assim começava o governo Geisel, um governo em que a inflação aumentou enquanto ganhava força a revolta contra o regime, a abertura lenta e gradual talvez tenha ganho um empurrãozinho da inflação. Figueiredo começa seu governo em 1979 com inflação de 79%, muito alta, mas ainda menor que a de 1964. Durante o governo dele a inflação acelera e chega a 212% em 1983, mais que o dobro da de 1964. A transição lenta e gradual que já tinha virado anistia ampla, geral e irrestrita não foi mais capaz de segurar a população que foi para as ruas pedir “Diretas Já”, movimento que conquistou o país em 1984, ano que a inflação foi de 227%. Mais uma vez o povo na rua coincide com a disparada da inflação.

Chega a Nova República e a inflação aumenta cada vez mais rápido. O Plano Cruzado faz com que a inflação caia para 60,1% em 1986 e transforma Sarney numa espécie de Rei do Brasil. O amor se transforma em ódio quando a inflação volta e já em 1987 chega a 431%. Talvez a Assembleia Constituinte de 1988 tenha segurado os ânimos no ano que inflação chegou passou de 1000% pela primeira vez e os vários movimentos “Fora Sarney” que existiam na época tenham sido derrotados. Sarney termina o governo de forma melancólica e no seu lugar chega Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde a década de 1960. Em março de 1990 Collor toma posse com um plano para lá de desastrado para combater a inflação, por desastrado que tenha sido o Plano Collor a inflação caiu de 1216% em 1990 para 496% em 1991, mas a queda foi breve, em 1992 a inflação já era de 1167% e o povo foi para as ruas puxado pelos jovens estudantes de caras pintadas e pediu a saída de Collor. Pediu e conseguiu, Collor, o primeiro presidente eleito diretamente desde a década de 60, sofreu um impeachment.

Itamar chega com pressão para acabar com a inflação, mas em 1993 a inflação chegou a 2851%. O governo Itamar estava ameaçado, inclusive com pedido de impeachment protocolado pelo PT. Dois impeachments seguidos pareciam demais e Itamar teve folego para chegar a 1994 com o Plano Real. Em 1994 a inflação foi de 908%, em 1995 foi de 15% e por muito tempo a inflação ficou abaixo de 15%. O resultado foi que Itamar elegeu FHC, que tinha sido ministro de Itamar e era visto como criador do Plano Real, no primeiro turno. Em 1998 FHC concorreu à reeleição, a inflação medida pelo IGP-DI era 1,83% ao ano, FHC foi novamente eleito no primeiro turno, feito que nem Lula no auge da popularidade conseguiu repetir. No segundo governo de FHC a inflação voltou, em 1999 o IGP-DI foi de 27%, a população começou a abandonar FHC e o PT entrou com pedido de impeachment. A primeira fase do Plano Real acabou, Armínio Fraga foi para o Banco Central e implementou o regime de metas de inflação, em 2000 o IGP-D tinha caído para 9,5% e o governo respirou. A folga foi breve, em 2002 a inflação voltou para 27% e o homem que ganhou duas eleições em primeiro turno não conseguiu fazer o sucessor e foi transformado em uma espécie de inimigo público pelo governo que o sucedeu. Mais uma vez a inflação alta andou junto com mudanças na política.

Lula chegou e priorizou o combate à inflação. Colocou Meirelles, um homem que vinha do mercado financeiro na presidência do Banco Central, e o bancou mesmo contra o Vice-Presidente da República no esforço de redução da inflação. Em 2005 a inflação foi de 1,4%, em 2006 foi de 3,6% e mesmo com o Mensalão nos jornais Lula foi reeleito. Em 2009 o IGP-DI tem o único valor negativo da série, é verdade que foi para 11,2% em 2010, mas muito desta variação estava ligada a ajustes da crise de 2008 e não chegou ao consumidor, naquele ano o IPCA foi de 5,9%. Lula faz sua sucessora e ela resolve colocar crescimento como prioridade. O resultado desastroso é conhecido por todos, o crescimento não chega a inflação cresce. Em 2015 o IGP-DI chega a 11,2%, desta vez a conta chegou no consumidor e o IPCA chega a 10,7%, a última vez que o IPCA tinha passado de 10% tinha sido em 2002, o ano que Lula foi eleito. Longe de uma mudança de governo e com a inflação em alta a população foi às ruas pedindo a saída de Dilma que, como Collor, sofreu impeachment. Mais uma vez a crise política andou junto com a inflação. A figura abaixo ilustra a histórica que contei, repare que uma das grandes crises políticas é precedida por um aumento significativo da inflação.




Antes que alguém tire conclusões apressadas reforço que não é objetivo desse post dizer que a inflação sozinha explica as grandes crises políticas. Bem mais modesto que isso o post tem como objetivo mostrar que inflação é um dos ingredientes que levam a grandes crises políticas. Talvez a falta desse ingrediente ajude a explicar porque Temer não é alvo de protestos de rua, se for verdade que fique de lição para os próximos presidentes.


sábado, 2 de setembro de 2017

Contas Nacionais do Segundo Trimestre de 2017: Ainda sem festa, mas com alguma esperança.

Ontem foram divulgadas as contas nacionais relativas ao segundo semestre de 2017 (link aqui). Comparado ao trimestre imediatamente anterior e ao mesmo trimestre do ano anterior o PIB apresentou crescimento de 0,2% e 0,3%, respectivamente. A notícia é boa, principalmente por ser a segunda vez seguida que o PIB cresce em relação trimestre anterior depois de uma sequência de quedas. Na comparação do acumulado do ano com o acumulado do ano anterior o PIB ficou parado, ou seja, estamos onde estávamos no primeiro semestre de 2016, o que significa que recuperamos a queda do segundo semestre de 2016, mas não passamos disso. Se compararmos os quatro últimos trimestres com os quatro trimestres anteriores a queda é de 1,4%, ou seja, ainda não recuperamos a queda dos últimos trimestres do governo Dilma. A figura abaixo ilustra esses números.




Para entender melhor o que está acontecendo e até que ponto estamos mesmo testemunhando a saída da recessão é necessário olhar os números com mais detalhes. A figura abaixo mostra a decomposição da taxa de crescimento do PIB em relação ao trimestre imediatamente anterior. Repare que a agropecuária, que puxou o crescimento no trimestre anterior, não cresceu neste trimestre. De certa forma é um resultado surpreendente, pois por conta do crescimento significativo no trimestre anterior a expectativa era de queda neste trimestre. Tal expectativa fez com que vários analistas projetassem queda no PIB para este segundo trimestre. A indústria encolheu 0,5% e os serviços, que respondem pela maior parte do PIB pela ótica da produção, aumentou 0,6%. Esses números sugerem uma recuperação que pode antecipar uma retomada no crescimento. Ao que parece começamos a caminhada para voltar para onde estávamos antes da crise, nesse momento o esperado é que o setor de serviços lidere o processo. Isso também é consistente com a recuperação do emprego, dado que o setor de serviços é o que mais emprega no Brasil.




Pelo lado da demanda o destaque vai para o consumo das famílias. Parte do aumento do consumo pode estar relacionada a melhora no salário real devida a trajetória de queda da inflação e/ou a liberação de recursos do FGTS. O investimento continua caindo, o que é preocupante, mas caindo menos. Também é possível ver o resultado do esforço fiscal, se não estamos vendo uma queda no gasto a queda no consumo do governo pelo segundo trimestre consecutivo é um sinal que paramos com o ajuste onde o governo consome mais e as famílias apertam o cinto que ocorreu em períodos anteriores. A minha leitura dos números é que eles são compatíveis com uma recuperação puxada por serviços que já tem efeitos sobre consumo, mais ainda não se reflete no investimento. Não é o sonho da maioria dos economistas, mas pode ser o começo de uma recuperação sólida. A última coisa que precisamos é um ciclo de alta de investimento empurrados por subsídios que vai desaguar em uma nova crise. Primeiro é preciso crescer com mais gente trabalhando e/ou com os que estão trabalhando gerando mais produtos, depois, a medida que as máquinas que estão desligadas voltem a funcionar é que se espera a compra de novas máquinas, ou seja, o aumento do investimento é posterior a recuperação via emprego e/ou produtividade do trabalho. Nesta perceptiva é bastante razoável que o crescimento esteja vindo dos serviços.

A figura abaixo mostra a comparação do segundo trimestre de 2017 com o segundo trimestre de 2016. Esses números dão uma perspectiva de prazo maior que os anteriores pois são afetados pelo aconteceu no segundo semestre de 2016 e no primeiro trimestre deste ano. Na ótica da produção é possível ver o excelente desempenho da agropecuária e a queda da indústria. Parte desta queda veio dos períodos anteriores, mas, como pode ser visto na figura anterior, também houve queda neste trimestre. O destaque negativo da indústria foi a queda de 7,0% na construção, essa queda foi fundamental para chegarmos a queda de 2,1% no período. A indústria de transformação, aquela que tira o sono dos desenvolvimentistas, caiu 1% em comparação ao segundo trimestre de 2016. Quem realmente evitou uma queda maior da indústria foi o crescimento de 5,9% da extrativa mineral, um setor que costuma ser melhor explicado por eventos externos do que internos. Os dados pela ótica da despesa reforçam a tese que estamos trocando o ajuste via sacrifício de consumo das famílias por um ajuste via sacrifício do consumo do governo, ponto para a equipe econômica. A queda no investimento é preocupante, mas deve ser vista como na análise no final do capítulo anterior, ou seja, não devemos forçar o investimento.




A análise dos dados que comparam os quatro últimos trimestres com os quatro trimestres anteriores, dados que são mais influenciados pelo final do governo Dilma, reforça os resultados anteriores. Destaque para o crescimento da agropecuária quando olhamos pela ótica da produção e com o ajuste no consumo das famílias mais intenso que o ajuste no consumo do governo quando olhamos pela ótica da demanda. Boa parte do ajuste do consumo do governo, vale lembrar, ocorreu nos últimos trimestres. Os números estão na figura abaixo.




O processo de recuperação fica mais evidente na análise de longo prazo. A figura abaixo mostra o crescimento do trimestre relativo ao mesmo trimestre do ano anterior desde 1996. Nela é possível ver que após o longo período de queda iniciado em 2014 a taxa de crescimento volta a ser positiva. Pequena, é fato, muito pouco para relaxar, mas considerando o desastre deixado pelo governo Dilma já podemos ter esperança. Para que a esperança não vire frustração é fundamental que o governo tenha paciência e espere que a recuperação ocorra em ritmo natural, é particularmente importante não cair na tentação de forçar o investimento para acelerar o crescimento. Tenho certeza que a equipe econômica sabe disso e vai fazer o possível para manter a recuperação nos trilhos, espero que a equipe política segure a onda.