Com a divulgação dos números das contas nacionais referentes
a 2019 dá para fazer um balanço geral de 2019 em comparação com os anos
anteriores. A tabela abaixo resume os dados que serão usados no post.
2017
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2018
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2019
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Inflação
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2,95%
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3,75%
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4,31%
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Crescimento
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1,32%
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1,32%
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1,14%
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Taxa
de investimento
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14,6%
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15,2%
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15,4%
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Desemprego
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11,8%
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11,6%
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11,0%
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Despesa
primária (trilhões)
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R$ 1,406
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R$ 1,433
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R$ 1,472
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Despesa primária/PIB
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19,4%
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19,6%
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19,9%
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Dívida
interna/PIB
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76,89%
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79,77%
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81,95%
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Taxa Selic
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7,0%
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6,5%
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4,5%
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Taxa
de câmbio
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R$ 3,31
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R$ 3,87
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R$ 4,14
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Sei que estou em desacordo com a maioria dos meus colegas de
profissão, inclusive aqueles que muito respeito, mas o maior problema de 2019
foi o crescimento da inflação que, ao contrário de 2017 e 2018, ficou acima do
centro da meta. Sei que houve um aumento inesperado no preço da carne, mas em
2018 tivemos uma greve de caminhoneiros com forte impacto nos preços e nem por
isso a inflação ficou acima da meta. Creio que a prioridade do governo este ano
deveria ser trazer a inflação de volta para baixo da meta que agora é de 4%.
O crescimento ficou dentro do esperado, considerando o
estrago feito na economia principalmente no período entre 2010 e 2014 um número
muito mais alto é que seria preocupante. Não é hora de estímulos em busca de
PIBão, a hora é de tentar arrumar a casa para evitar outra década perdida. A taxa
de investimento ficou mais ou menos onde estava em 2018, pouquinho maior. Assim
como no caso de crescimento seria possível um número maior, mas seria ruim se
isso acontecesse. Uma retomada do investimento antes de maiores avanços nas
reformas seria um sinal de que o governo estaria abusando de estímulos. O desemprego
mostrou pequena redução compondo o cenário de lenta recuperação da economia.
O aumento da despesa primária é preocupante, principalmente
porque sabemos que parte desse aumento decorre de bondades com a corporação do
Presidente da República, definitivamente não era hora de dar aumentos nem de
capitalizar estatais. A dívida interna
subiu em proporção do PIB, mais um sinal de que temos um ajuste fiscal que não
reduz gastos.
A queda da Selic é frequentemente comemorada como o grande
feito do ano, eu estou fora dessa comemoração. O aumento da inflação e a
(pequena) queda no crescimento mostra o risco de entre inflação e recessão o
governo escolher a primeira e ficar com as duas. Não estou dizendo que isso ocorreu,
apenas registrando o risco, tal qual o torcedor que não confia no goleiro do time
dele fico na arquibancada torcendo, mas nervoso. Outro efeito da redução dos
juros foi a saída de dólares e a desvalorização do real que está ganhando (muita)
força este ano. Câmbio mata, já dizia o mestre, até agora a desvalorização não
chegou na inflação, ponto para o BC, mas o perigo existe e aumenta a cada
rodada de desvalorizações. Por quanto tempo as empresas que tiveram aumento de
custos com a desvalorização do real ainda vão conseguir segurar os reajustes de
preços? Essa conversa de que não existe risco de inflação com recessão ou baixo
crescimento não resiste a uma olhada em nosso vizinho do norte, nem no nosso
vizinho do sul e nem mesmo no nosso passado.
Minha leitura do quadro descrito na tabela acima é que do
lado real a economia continua no mesmo ritmo do ano passado, o que é não é
surpresa dado que o atual governo está mantendo a linha reformista do governo
anterior. A preocupação está no lado nominal, o aumento de inflação e a desvalorização
do real, essa última muito reforçada no começo deste ano, deveriam acender uma
luz vermelha na condução da política monetária. Não parece que vai ser o caso,
pelo contrário, notícias de jornais sugerem que o Banco Central vai entrar na
onda do FED e de outros bancos centrais pelo mundo e apostar na redução de
juros para enfrentar um choque de oferta. Mais um pouco e macroeconomistas vão anunciar
que não precisamos mais nos preocupar com quarentena, vacinas e coisa do tipo,
afinal redução de juros agora é remédio até para gripe.
Nota: A inflação é medida pelo IPCA conforme divulgado pelo
IBGE. O crescimento e taxa de investimento estão nas contas nacionais trimestrais,
essa última foi calculada como a razão entre formação bruta de capital fixo e o
PIB. O desemprego foi medido pela taxa de desocupação no último trimestre de
cada ano conforme os dados da PNAD. A despesa primária está em reais de janeiro
de 2020 e foi obtida na STN, para calcular a despesa primária como proporção do
PIB foram usados os dados em valores correntes também disponibilizados pela STN.
A dívida interna é a calculada pela STN, foram usados os valores de dezembro de
cada ano. A taxa Selic pode ser encontrada na página do Banco Central, usei a
que estava valendo na última semana de cada ano. A taxa de câmbio é a de
dezembro de cada ano conforme o portal da ADVFN Brasil.