domingo, 31 de agosto de 2014

Maria Conceição Tavares Ataca Novamente

Maria da Conceição Tavares em entrevista para o jornal O Globo (link aqui) afirma que "ninguém come PIB, come alimentos". Para os que não a conhecem a professora é uma das grandes mestres da heterodoxia econômica no país. Inspiradora, entre outros, de Serra e de Dilma, Maria da Conceição Tavares é conhecida do grande público por ter elogiado às lagrimas o malfadado Plano Cruzado, por ter criticado o Plano Real (link aqui), por ter criticado duramente Marcos Lisboa, primeiro secretário de política econômica de Lula e economista brilhante, por ter tentado desacreditar as políticas sociais focadas, e.g. bolsa família, implementadas por Marcos Lisboa e Palocci (link aqui), enfim, é uma economista que em uma dimensão alternativa onde tudo acontece de forma contrária à nossa seria aclamada pelos acertos em suas previsões para nossa dimensão. Para os que se interessarem pela entrevista deixo uma sugestão de trilha sonora:





Feitas as devidas apresentações devo dizer que concordo que existe uma enfase exagerada ao crescimento do PIB no desenho de políticas econômicas. A diferença é que não estou dizendo isto quando o país parou de crescer, disse isto em 2010 quando a economia cresceu a uma taxa de mais de 7% ao ano (link aqui), na realidade eu dizia antes, mas só achei link para 2010 e, como bem sabe a garotada, se não tem print então não aconteceu. Infelizmente naquela época, quando tentei colocar esta discussão em pauta, fui atropelado pelo discurso da futura presidente que garantia que ia fazer o governo do PIBão (link aqui), fui chamado de pessimista e coisas do tipo. Talvez se Dilma fosse menos empolgada com a economia proposta por Maria da Conceição Tavares e escutasse os críticos não tivesse feito promessas impossíveis e não tivesse amargando uma recessão. Pelos números de hoje Dilma não será reeleita, mas tudo pode mudar, se for reeleita seria bom que Dilma ouvisse economistas que tenham agendas mais modestas do que reescrever a teoria econômica, bom para ela e, principalmente, bom para nós, os plebeus da corte petista.

O mundo gira...



sábado, 30 de agosto de 2014

Comentários a Respeito do Programa de Governo de Marina

Tirei um tempo para ler o programa de governo de Marina (link aqui). Costumo preocupo apenas com a parte de economia e relativa à educação, especificamente a que trata do ensino superior, a primeira por ser o tema que estudo e a segunda por ser o meu trabalho. No caso de Marina além destas duas partes tentei olhar com cuidado a parte relativa à política, o motivo é que, ao contrário de Dilma e Aécio, não vejo com que base parlamentar Marina vai tentar implementar as medidas que propõe. Mesmo que o PSB cresça nestas eleições, o que é provável que vá acontecer, é público e notório que Marina não é um quadro do PSB e que talvez nem fique no partido.

O programa é dividido em seis eixos: (i) estado e democracia de alta intensidade; (ii) economia para o desenvolvimento sustentável; (iii) educação, cultura e ciência, tecnologia e inovação; (iv) políticas sociais, saúde qualidade de vida; (v) novo urbanismo, segurança público e o pacto pela vida; e (vi) cidadania e identidades. Para um sujeito desconfiado como eu o nome do primeiro eixo já ligou o sinal de alerta. O que é democracia de alta intensidade? Três trechos podem ajudar o leitor a responder a pergunta:

“Nossas escolhas são políticas e envolvem participação social em todas as fases dos processos públicos.”
“As instituições envelhecidas e a democracia de baixa qualidade. A sinergia dos movimentos sociais com as novas formas de militância. A democratização da democracia.”
“O coração pulsante dessa ideia é a participação plural e popular permanente, norteada por valores como solidariedade, emancipação, justiça social, criatividade e sustentabilidade.”

Ao que parece Marina pretende seguir a linha do Decreto 8.243 e investir na substituição da nossa não tão velha democracia representativa por uma nova democracia com traços fortes de democracia direta. Começo a ver o que é a nova política e confesso que não estou gostando do que estou vendo. Marina parece estar preocupada com financiamento das campanhas eleitorais, eu também estou. Campanhas caras exigem doações e na maioria das vezes o doador quer algo em troca, aqui eu concordo com a candidata, mas tomamos caminhos diferentes. Eu acredito que a melhor maneira de reduzir o valor das doações, e, portanto, das campanhas, é reduzir o que o candidato, uma vez eleito, pode dar para recompensar o doador.

Ainda no Eixo 1 aparece um outro tema que muito me importa: a questão federativa. No começo gostei de ver a preocupação com a o excesso de centralização, parecia que ia na direção que eu gostaria que fosse. Mas à medida que eu li o texto minha impressão inicial foi se diluindo. Ficou um texto padrão sobre o tema, do tipo que começa louvando a descentralização e termina propondo que União faça leis para resolver os problemas, eu devia ter suspeitado quando vi a referência a tal Guerra Fiscal, que eu prefiro chamar de competição fiscal. Acredito que descentralização passa por autonomia (não estou falando soberania), que autonomia passa por responsabilidade e que reponsabilidade passa por arcar com os ônus dos próprios erros. E se alguém estiver se perguntando... sim eu fui e sou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), uma boa olhada nas finanças de estados e municípios deveria ser suficiente para convencer as pessoas que a LRF não entregou o que prometeu. Minha alternativa sempre foi proibir transferências voluntárias para financiar gastos correntes dos estados e municípios e determinar por força de lei que a União não pode ser fiadora de estados ou municípios. Sim, isto significativa que entes federados poderão ir a falência, a vida é dura.

O Eixo 1 termina com a política externa. Assim como outros documentos do gênero o programa de Marina promete que vai aumentar os acordos com outros países e também vai fortalecer o Mercosul. Imagino que nova política conseguirá alcançar este objetivo colocando todos em volta de uma mesa para conversar. Podem aproveitar a conversa para trabalhar outro ponto do programa: reivindicar que a presidência do FMI e do Banco Mundial deixe de ser monopólio de Europeus e Norte-Americanos. Se a Comissão de Direitos Humanos da ONU pode ser composta por ditaduras por que o FMI não pode ser presidido por grandes devedores com histórico de calotes? Maldita elite branca!

O próximo eixo trata da economia para o desenvolvimento sustentável, o título é bonito assim como bonita é a passagem que inicia o texto:

“O governo deixará de ser controlador dos cidadãos, para se tornar seu servidor. Deixará de ver o setor público como o criador da sociedade. O Estado tem de servir à sociedade, e não dela se servir.”
Não poderia concordar mais, minha única preocupação é que não sei de político em campanha que discorde desta afirmação. Na sequência de tão belas palavras é dito que “o baixo investimento do governo tem sido uma das causas do baixo investimento total da economia”, frase que ou é óbvia a ponto de não precisar ser escrita ou sugere que o servidor deve determinar o caminho do servido. Mas deixemos de ser ranhetas e vamos ao lado bom: o documento mostra preocupação com a carga tributária de 37% do PIB e 2013. É bom saber desta preocupação por parte de uma candidatura que promete passe livre e 10% do PIB para várias causas nobres. Um tópico bastante positivo do programa está no trecho:

“Acesso a recursos subsidiados pelo Tesouro Nacional, por meio dos bancos públicos, não pode ser o fator principal de sucesso das nossas empresas. Por isso, é necessário desenvolver o mercado de capitais e o mercado de crédito voluntário, porque acreditamos que são mecanismos fundamentais para a intermediação entre a poupança e os investimentos de longo prazo.”

É algo tão importante, mas tão importante, que se eu me convencer que é uma proposta séria eu posso até tentar controlar meu medo de uma crise política em um eventual governo Marina e mudar meu já declarado voto em Dilma em caso de um segundo turno entre Marina e Dilma. Mas para eu me convencer vou ter de entender de forma clara o que Marina pretende fazer com o BNDES, não é possível desenvolver um mercado de capital para financiar o investimento quando o governo está financiando com juros muito abaixo dos praticados na economia. Quem pode concorrer com o BNDES? Uma que eu consiga entender como Marina pretende reduzir o ativismo do BNDES só precisarei ficar convencido que os movimentos sociais da democracia de alta intensidade vão aprovar as ideia de Marina para o BNDES. A FIESP conta como organização social? Vai ter vaga no soviete, digo conselho popular, que será encarregado de cuidar do financiamento do investimento com o dinheiro dos servidos?

O box com as propostas para reduzir a inflação parece impecável quando visto de forma isolada, se tentarmos conciliar o que está no box com o resto do documento fica mais difícil. Quem vai de definir as metas críveis? Conselhos populares? O Banco Central independente prestará contas a alguém? Quem? Um conselho popular? Dúvidas... Da mesma forma está excelente o box com as reformas para agilizar o estado, mas também fico com dúvidas quanto a comunicação entre o que está no box e o resto do programa. Da reforma tributária não falo nado porque não sou de chutar na canela de quem está caído, não creio que será feita nos moldes propostos, digo isto para Marina, Dilma, Aécio, Pastor Everaldo, Luciana Genro e qualquer candidato mesmo que eu não tenha lido a proposta, só não digo para o Eduardo Jorge porque ele é gente boa.

Quanto à distribuição de renda, não tem muito a falar, basta deixar o Ricardo Paes de Barros e o Marcelo Neri onde estão (ou amentar a influência deles no governo) que tudo continua funcionando. O documento segue para a reforma agrária, aqui também não tenho muito a falar, a reforma agrária já foi feita, o que precisa é pacificar o campo. Isto não será feito sem o enfrentamento do MST, não encontrei nenhuma referência a esse ponto, talvez por ter feito uma leitura apressada... Por outro lado encontrei uma proposta de “Incumbir as universidades e os institutos de tecnologia de integrar o ambiente educacional e o produtivo nos assentamentos.” Pobre universidade, é quase uma Geni dos programas eleitorais. Mas vai uma dica: se o governo quer que a academia faça isto não precisa criar nenhuma lei, basta abrir editais para financiar este tipo de ação e eliminar as leis que proíbem professores universitários de atuar fora da universidade. O bom é que esta medida vale para qualquer coisa que o governo queira que a academia faça e ainda pode ser adequada ao setor privado!

Ainda na seção de reformas. Quem não quer melhorar o mercado financeiro? Quem não quer mais acesso ao crédito? A questão é saber de qual tipo de crédito estamos falando. Para financiar consumo o crédito já subiu bastante nos últimos anos, para financiar o investimento voltamos à questão do BNDES. Sim, o plano de governo de Marina promete manter subsídios ao crédito agropecuário e a habitação popular. Então tá, vocês lembram do artigo do Tim Kehoe que vez por outra eu cito aqui no blog? Pois é... Para infraestrutura em geral e transporte e energia em particular o programa me pareceu padrão, tem o tom reformista, o que me agrada, mas não deixa claro que será contrariado nas reformas e como resolver isto politicamente com a nova democracia de alta intensidade. Um ponto que vale para todos os candidatos é que falar de estimular transporte ferroviário sem analisar com cuidado o relevo do Brasil é conversa para pássaros. Entre São Paulo e mar tem uma muralha que é difícil, entendam por cara, de subir e descer.

Assim como Aécio, Marina promete valorizar a pesquisa. O programa de Marina é melhor por não sugerir mais comitês, órgãos ou programas de fomento e tratar da desburocratização. Seria melhor ainda se deixasse explícito como vai retirar as barreiras que impedem os professores das universidades federais de trabalhar com o setor privado, com organizações sociais, com órgãos do governo e com qualquer coisa que esteja fora da universidade em que o professor é lotado. Já vou avisando que se o tema for tratado em conselho popular onde a ANDES (trata-se do sindicato nacional dos professore do ensino superior) dê as cartas isto não vai acontecer. A parte de abertura comercial também está boa, mas não podemos esquecer que uma das lições da década de 1990 é que sozinha a abertura comercial não leva a crescimento de longo prazo da produtividade. É preciso fazer as outras reformas para escapar da maldição das reformas incompletas. Para terminar um breve comentário a respeito dos subsídios setoriais: sou contra, mas se é para ser feito que seja como Marina propõe. Vou me abster de comentar a parte ambiental.

O Eixo 3 trata da educação, cultura e ciência, tecnologia e inovação. Quanto a pesquisa e universidades federais dei meu recado quando comentei o segundo eixo. Quanto ao resto vou poupar o leitor de um post ainda maior e não vou comentar nada além da seguinte passagem:

“Defendemos uma educação de qualidade e democrática, que contribua para a construção de novos sujeitos sociais, capazes de transformar a sociedade rumo a um mundo mais sustentável.”

Sou contra esta visão da educação. Escola ensina, quem forma sujeitos sociais, seja lá o que for isto, é a família. Para terminar digo o que já disse em outros lugares: a reconstrução da educação brasileira é urgente e necessária, mas só será feita se o governo estiver disposto a enfrentar os sindicatos de professores. Como a nova democracia de união nacional e movimentos sociais vais fazer isto eu não tenho a menor ideia.

O quarto eixo trata de políticas sociais, saúde e qualidade de vida. Como já disse anteriormente basta manter o Ricardo Paes de Barros e o Marcelo Neri no governo que a política social estará em boas mãos e, dentro do possível, alcançará seus os objetivos. O programa de Marina propõe transformar o bolsa família em política pública que não dependa do governo, salvo engano Aécio já tinha feito esta proposta, fortalecer e ampliar o programa e também são propostas de Marina:

“Promover a integração orçamentária e a transversalidade das políticas sociais orientadas para previdência, assistência, saúde, educação, cultura e trabalho, por meio de ações matriciais e territoriais, com ênfase na emancipação social, econômica e cultural dos beneficiários.”

Ficarei grato a uma alma caridosa que me explique o que significa o trecho acima, mas reconheço que parece algo bom, sei lá, uma coisa que é transversal e matricial não pode ser ruim, me lembra até a banda diagonal endógena... Brincadeiras a parte, garantir que os serviços públicos cheguem com qualidade a todos os cidadãos parece lugar comum, mas é algo que deveria estar em todos os programas de governo. Porém, na condição de chato assumido, não posso deixar de lembrar que fazer isto custa dinheiro e sem aumentar a carga tributária nem reduzir o superávit primário realizar objetivos como este envolve enfrentar grupos de interesse bem estabelecidos, inclusive os tais movimentos sociais que ganharão poder com a nova democracia de alta intensidade. Um exemplo da dificuldade entre conciliar as propostas de Marina entre elas e com a nova democracia está na questão previdenciária. É quase um consenso entre economistas que estudam previdência que a aposentadoria por tempo de serviço é uma aberração que deve ser abolida. Por questão políticas não foi possível abolir a aposentadoria de tempo de serviço e, por conta disso, foi criado o fator previdenciário. O fator nada mais é que uma forma de reduzir os ganhos de quem se aposente por tempo de serviço. No debate comentei que Marina e o Pastor Everaldo se esquivaram do tema, no programa Marina faz o mesmo. Não propõe o fim da aposentadoria por tempo de serviço e fala vagamente de alternativas ao fator previdenciário. Uma vez eleita é muito provável que Marina fique com a velha política e tente manter o fator previdenciário, talvez até brigue para mantê-lo em caso do Congresso propor acabar com o fator para pressionar o governo. Estou especulando, eu sei, mas alguém nega que descrevi um cenário possível e talvez até provável?

O Eixo 5 trata do novo urbanismo, segurança pública e pacto pela vida. Já estou cansado e imagino que se alguém leu até aqui esta ainda mais cansado do que eu. Gostaria muito de ver uma política de moradia que não girasse em torno da casa própria. A maioria das pessoas poderia viver melhor se no lugar da casa própria decidisse por moral de aluguel. Entendo que a casa própria tem um lado importante de consolidar uma sociedade de proprietários, mas até onde vamos com isto? É razoável induzir alguém a se endividar até o limite do possível, algumas vezes além, para chamar de sua uma moradia muitas vezes ruim e mal localizada? Não tenho uma reposta definitiva, mas gostaria de ver a discussão. Marina reconhece o problema da segurança e chama atenção para os inaceitáveis dados de homicídio no Brasil, isto é bom. Pode ser paranoia minha, mas me preocupa um pouco o tom de trazer a questão para a União, quanto mais centralizada a segurança, mais poderoso o Estado e menos poder tem o cidadão. Para que o Estado seja mesmo um servo é fundamental deixa-lo mais fraco que o servido.

O último eixo trata da cidadania e das identidades. Acredito que a interferência do Estado nestas questões deve ser no sentido de fazer com que todos os cidadãos tenham os mesmos direitos e garantias, ênfase muito maior nas garantias do que nos direitos. Esta minha opinião me faz ser favorável a muitas das causas das ditas minorias, mas, não é um mas pequeno, me distancio totalmente quando as bandeiras das minorias vão no sentido de criminalizar opiniões. Salvo nos casos onde o indivíduo está exercendo o poder público acredito que não se deve impor por meio de coação valores que não estejam de acordo com as crenças do indivíduo, notem que falei de valores, não falei de ações. Para exemplificar meu ponto de vista suponha um flamenguista que odeie botafoguenses. Não tenho nada contra o flamenguista não querer me receber em casa (para os que não sabem, sou botafoguense), não tenho nada contra o flamenguista não me dar bom dia, não tenho nada contra ele dizer no FB ou em outros espaços públicos apropriados que botafoguense é chorão ou seja lá o que for. Se me incomoda além do que considero razoável tiro o sujeito de minhas relações, simples assim. Agora se o flamenguista tentar barrar meu acesso a áreas ou serviços públicos eu creio que a lei deva me proteger, no caso de serviços públicos prestados por entidades privadas (e.g. um restaurante) eu tenho algumas dúvidas. Sei que está confuso, mas prefiro explicar em outro lugar. Para agora quero registrar que algumas vezes me parece que a leitura de direitos humanos de Marina é mais parecida com a do infame Plano Nacional de Direitos Humanos do que com a minha.


Em resumo eu diria que as ideias econômicas de Marina são parecidas com as minhas, a ficar apenas nesta dimensão é quase certo que Marina teria meu voto já no primeiro turno. As políticas sociais também me parecem bem desenhadas, não votaria nela só por conta destas políticas, mas também não deixaria de votar. No campo dos direitos humanos e educação vejo diferenças importantes entre minha visão de mundo e a de Marina, diferenças fortes o suficiente para me impedir de votar em Marina no primeiro turno. Mas é na questão da democracia que coisa pega, a tal democracia de mais intensidade me parece muito próxima ao que ocorre nos países que aderiram ao bolivarianismo e muito distante da democracia que eu desejo. Se já muito me incomodava a ideia de Marina tomar posse sem base partidária e sem disposição de construir, pelo contrário o discurso dela é o da anti-política, mais me incomoda saber que ela pode, aparentemente quer, transformar o Decreto 2.243 no marco de um novo modelo de democracia. As experiências que tivemos com as tentativas de fazer política sem políticos foram desastrosas, Jânio e Collor sequer conseguiram terminar os mandatos que receberam. Como nos sairemos com uma tentativa de ignorar e ao mesmo tempo substituir os políticos? Que forças ocultas e quais maracutaias apareceram para atrapalhar os planos de Marina? Como Marina enfrentará estes desafios? Dúvidas...


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Crônica de uma Recessão Anunciada

O PIB caiu no segundo trimestre, nenhuma surpresa, todos os que acompanham o assunto com exceção dos economistas do governo e da claque empenhada em defender a desastrosa política econômica de Dilma esperavam os resultados ruins. Antes que me acusem de exagerar na crítica peço que olhem as previsões do governo para 2014, os números estão no projeto de lei orçamentária anual para 2014 (link aqui), os gênios apostaram que o crescimento seria de 4%! Culpa da crise, dirá a claque animada pela presidente Dilma. Cada uma credita no que quer acreditar, eu, por exemplo, acredito que o Botafogo ficará entre os quatro melhores do brasileirão, mas devo avisar que a previsão que o Brasil cresceria 4% em 2014 foi feita em 2013, a crise já era um fato. Desta forma, além de perguntar a razão do baixo crescimento é válido perguntar a razão da economia estar crescendo muito menos que o previsto pelo governo. Em 2013 o governo não sabia que existia uma crise?

Vamos aos números (link aqui). A indústria, alvo de 11 entre 10 políticas de crescimento do governo, encolheu 1,5% quando comparamos o segundo trimestre de 2014 com o primeiro trimestre do mesmo ano, quando a comparação é feita com o segundo trimestre de 2013 a queda foi de 3,4%. Diante de resultados tão ruins seria legítimo perguntar se o governo não está vendo que as políticas atuais não surtem efeitos simplesmente por estarem erradas e não por conta de choques ruins. O setor de serviços, o maior responsável pelo emprego, encolheu 0,5% em relação ao trimestre anterior e cresceu 0,2% em relação ao segundo trimestre de 2013. Em relação ao primeiro trimestre de 2014 a agropecuária cresceu 0,2%, o único setor que não encolheu no período, se compararmos com o segundo trimestre de 2013 o (não) crescimento foi de 0%. A soma de tudo isto mostra uma redução do PIB de 0,6% em relação ao primeiro trimestre deste ano e uma redução de 0,9% em relação ao segundo trimestre de 2013. Se o leitor ainda não está suficiente impressionado com o tamanho do desastre, vale lembrar que tudo isto aconteceu com a inflação subindo. O ministro Mantega acusa a oposição de propor uma recessão para combater a inflação, imagino que ele esteja orgulhoso de estar em uma recessão sem combater a inflação.

Passemos agora para o lado da demanda. Vi de relance algumas sugestões que o baixo crescimento seria devido à redução do consumo das famílias por conta de restrições ao crédito. Os números mostram que em relação ao primeiro semestre de 2014 o consumo das famílias cresceu 0,3%, se a referência for o segundo trimestre de 2013 o crescimento foi de 1,2%. É pouco, alguém pode dizer, mas no contexto não é, pelo contrário nos dois períodos o consumo das famílias foi o item do PIB que mais cresceu. Se considerarmos os acumulados o consumo das famílias só cresceu menos que o consumo do governo. A grande queda foi no investimento. Em relação ao trimestre anterior o investimento caiu 5,3% e em relação ao segundo trimestre de 2013 a queda foi de impressionantes 11,2%. Mesmo assim a equipe econômica pede que acreditemos que estão sendo construídas as bases para um período de crescimento, pior, acusam os que não atendem ao chamado de fé de pessimistas e ignorantes. Ainda no lado da demanda o consumo do governo caiu 0,7% quando comparado ao trimestre anterior e cresceu 0,9% quando comparado ao segundo trimestre de 2013.


Os números deixam pouco espaço para análises, o recado está muito claro: a economia brasileira parou de crescer. Outro recado muito claro aparece quando comparamos o que governo esperava para 2014 e o que está acontecendo: a equipe econômica do governo está perdida. Não há mais espaço para perda de tempo, já passou da hora dos economistas que nos levaram a esta situação que eles mesmos consideravam inimaginável reconhecerem o erro e pedirem para sair. Mantega e sua turma se mostraram completamente incapazes de entender o que está acontecendo na economia brasileira, é preciso colocar no Ministério da Fazenda e do Planejamento profissionais que entendam o que está acontecendo e possam buscar saídas para a crise em que nos metemos. Adiar esta medida só aumentará a dimensão da estagflação em que estamos.



domingo, 24 de agosto de 2014

Isto não é Pessimismo

Ontem, na noite seca de Brasília, já cansado eu lia com má vontade alguns textos sobre a economia brasileira. Economistas muito respeitados escreviam que o pessimismo do mercado decorrente do diálogo ruim do governo com os empresários é o maior problema da economia brasileira. Enquanto tentava acompanhar os argumentos dos textos que lia meus pensamentos se fixavam em reflexões passadas a respeito da economia brasileira. Reflexões de uma época em que muitos dos que escreveram os textos que me atormentavam diziam que tudo estava bem e que uma era de crescimento e prosperidade estava se abrindo para economia brasileira. Assim, meio dormindo e meio acordado, continuei lendo e refletindo e uma voz irritante ao final de cada reflexão dizia “isto não é pessimismo”...

  • Se amanhã os empresários todos acordarem otimistas e resolverem aumentar a produção vai faltar energia no país e água em São Paulo. Isto não é pessimismo.
  • As contas públicas estão em tal estado de penúria que o governo já está suspendendo repasses para os bancos que operam os programas sociais e precatórios voltam a se acumular. Isto não é pessimismo.
  • A produtividade da economia brasileira é baixa e está praticamente estagnada há quase quarenta anos. Isto não é pessimismo.
  • A educação brasileira é constantemente avaliada entre as piores do mundo. Isto não é pessimismo.
  • Apesar de todas as conversas a respeito de termos nos tornado um país de classe média aproximadamente 90% dos brasileiros estariam abaixo da linha de pobreza se morassem nos Estados Unidos. Isto não é pessimismo.
  • No relatório Doing Business do Banco Mundial o Brasil fica abaixo da centésima posição em 9 dos 11 itens disponíveis. Insto não é pessimismo.
  • A dívida externa está subindo rapidamente e, ao contrário da década de 1970, desta vez sequer temos um estoque considerável de infraestrutura a nossa disposição. Isto não é pessimismo.
  • A inflação está acima do centro da meta, nem mesmo o Banco Central aposta em inflação no centro da meta no próximo ano. Isto não é pessimismo.
  • O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo e ainda assim os empresários pedem mais protecionismo e o governo acena que dará. Isto não é pessimismo.
  • Apesar de todo o progresso dos últimos anos ainda são assassinadas mais de 50 mil pessoas por ano no Brasil. Isto não é pessimismo.
  • Em nenhuma cidade brasileira é possível sair do avião, pegar o metrô e descer em uma estação em frente ao hotel. Isto não é pessimismo.


A lista é enorme e deprimente, tenho medo de cansar o leitor ainda mais se escrevê-la por completo, não escreverei. Apenas direi que após finalmente adormecer um corvo medonho me falou: “se vocês continuarem chamando a descrição da realidade de pessimismo, a realidade não mudará nunca mais”. Acordei.




P.S. Peço desculpas aos leitores pela ousadia do texto, se meu talento literário fosse próximo da minha vontade de homenagear Allan Poe o post teria ficado muito melhor, talvez até tivesse ficado bom. Tentei.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Uma Olhada na PME de Julho

Por estar mais focado em questões de longo prazo a variável que mais prende minha atenção é a produtividade. É bem verdade que, por dever de ofício e gosto pelo debate, acompanho questões de curto prazo, nesse campo costumo olhar mais para as políticas fiscal e monetária. Ocorre que o atual debate a respeito da economia brasileira tem caminhado a passos largos para a questão do emprego e da renda, desta forma resolvi olhar com mais cuidado a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente a julho de 2014 (link aqui). A PME é a principal fonte de dados para o cálculo da taxa de desemprego no Brasil e também apresenta dados com o rendimento médio do trabalho. Ao contrário da PNAD a PME não tem abrangência nacional, a pesquisa tem abrangência restrita a seis áreas metropolitanas. Na página do IBGE encontrei uma planilha com os dados para Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, os dados para Salvador e Porto Alegre não estão disponíveis por conta da greve no IBGE. No que segue farei alguns comentários a respeito destes dados que podem jogar uma luz na evolução do emprego e da renda no último ano.

A manutenção da baixa taxa de desemprego tem sido o principal (único?) argumento dos que defendem a política econômica do governo Dilma. O argumento não me convence pelo simples fato que antes de Dilma mudar a política econômica o desemprego já estava baixo e a renda esteva crescendo. Sendo assim o máximo que pode ser dito é que a mudança de política feita por Dilma (ainda) não afetou o mercado de trabalho, muito pouco para quem abandonou uma política que vinha funcionando desde 1999 com promessas de um aumento do investimento, do crescimento e a recuperação da indústria. Antes que alguém tire do bolso a incrível e triste história da crise econômica gostaria de lembrar aos senhores que a crise foi em 2008 e que segundo a historiografia oficial a crise foi superada em 2010 quando o Brasil cresceu mais de 7%, não fui quem chamou a crise de marolinha. Deixemos de coisas e vamos aos dados.

Em relação a julho de 2013 ocorreu uma queda na taxa de desocupação nas quatro áreas metropolitanas. A maior queda foi observada no Rio de Janeiro, de 4,7% para 3,6%, enquanto a menor queda foi observada em Belo Horizonte, de 4,3% para 4,1%. Em São Paulo a queda foi de 5,8% para 4,9% e em Recife foi de 7,6% para 6,6%. Alguém pode argumentar que a queda na taxa de desocupação ocorreu por conta da Copa, é possível, porém eu não apostaria nesta hipótese. Outros indicadores mostram que os impactos da Copa na economia foram pequenos e os números de julho estão parecidos com os de junho, o próprio IBGE afirma que a taxa de desocupação ficou estável entre junho e julho.

Ocorre que existe um fator que ajuda a explicar a queda na taxa de desocupação. Segundo a definição do IBGE a taxa de desocupação é definida como a percentagem de pessoas desocupadas em relação a população economicamente ativa. Desta forma a taxa de desocupação pode cair por conta de mais gente ocupada ou por conta de menos gente em atividade. Os dados mostram que entre julho de 2013 e julho de 2014 o número de pessoas economicamente ativas caiu como proporção do número de pessoas em idade de trabalho. Os dados estão na tabela abaixo. Dois padrões chamam atenção na tabela: (i) a população ocupada (PO) caiu como proporção da população em idade ativa (PIA) em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, e (ii) a população economicamente ativa (PEA) como proporção da PIA caiu em todas as regiões da amostra. A conclusão é que a taxa de desocupação caiu por conta da redução de número de pessoas economicamente ativas e não por conta de mais gente trabalhando, ou seja, o desemprego está caindo porque as pessoas estão saindo do mercado de trabalho.

Região Metropolitana
PO, Jul 2013
PEA, Jul 2013
PO, Jul 2014
PEA Jul 2014
Recife
47,6%
51,6%
46,8%
50,1%
São Paulo
55,9%
59,3%
54,5%
57,2%
Belo Horizonte
55,8%
58,3%
53,9%
56,2%
Rio de Janeiro
52,0%
54,6%
51,5%
53,4%
P.O.: População Ocupada, PEA: População Economicamente Ativa. Os valores estão como proporção da População em Idade Ativa (PIA).

É possível fazer um exercício para calcular qual a seria a taxa de desocupação em cada uma das regiões metropolitanas caso a PEA mão tivesse caído em proporção da PIA, ou seja, qual seria o desemprego se as pessoas não estivessem saindo do mercado de trabalho. A tabela abaixo mostra os resultados do exercício. O resultado do exercício mostra que se não fosse pela redução do número de pessoas no mercado de trabalho teríamos visto um aumento da taxa de desocupação em todas as regiões metropolitanas pesquisadas. Em Recife o desemprego estaria acima de 9%!

Região Metropolitana
Taxa de Desocupação, 2013
Taxa de Desocupação, 2014
Taxa de Desocupação alternativa
Recife
7.75%
6.59%
9.30%
São Paulo
5.73%
4.72%
8.09%
Belo Horizonte
4.29%
4.09%
7.55%
Rio de Janeiro
4.76%
3.56%
5.68%
Por conta de arredondamento existem pequenas diferenças entre os números da tabela e os que estão na página do IBGE.

Vimos que o desempenho do mercado de trabalho pode ser explicado por pessoas saído do mercado, se isto é bom ou ruim requer mais análises, se forem crianças e/ou jovens estudando por mais tempo pode ser um fenômeno bom. Por outro lado se a redução da PEA como proporção da PIA decorrer de pessoas que saem do mercado por perder a esperança em encontrar emprego então o fenômeno pode ser preocupante. Em uma conversa a esse respeito no FB o Prof. Flávio Ataliba Barreto, pesquisador que foi meu professor e que eu tenho enorme respeito e consideração, a partir de uma “olhada” na PNAD sugeriu que a primeira hipótese é mais condizente com os dados. Se for então é uma boa notícia, mas talvez seja preciso se debruçar com mais cuidados sobre os dados para ter um resultado mais confiável.

Passemos agora à renda. Na campanha o governo apresentou como trunfo o aumento da renda do trabalho. O que dizem os números? A tabela abaixo responde.

Região Metropolitana
Renda média, Jul 2013
Renda média, Jul 2014
Tipo que mais cresceu
Setor que mais cresceu
Recife
1.440,63
1.513,10
Emp. sem carteira setor privado
Construção
São Paulo
2.070,23
2.102,70
Emp. sem carteira setor privado
Comércio
Belo Horizonte
1.938,61
1.898,70
Emp. sem carteira setor privado
Serviços prestados às empresas
Rio de Janeiro
2.097,94
2.285,60
Emp. sem carteira setor privado
Construção

A boa notícia é que a renda do trabalho de fato cresceu em três das quatro regiões, a má notícia é que apenas no Rio de Janeiro o crescimento foi maior que a inflação acumulada nos últimos 12 meses. Outro dado que chama atenção é que em todas as regiões o tipo de renda que mais cresceu foi a renda dos empregados sem carteira do setor privado. Por um lado a notícia é boa porque são pessoas que ganham menos, por outro lado fica difícil imaginar que este setor é o alvo de políticas do governo visando o emprego e a renda.

Os números do IBGE mostram que de fato o emprego e a renda ficaram estáveis nos últimos doze meses, o primeiro tece uma leve melhora e a segunda, se descontada a inflação, caiu um pouco. Por outro lado os números mostram que nos últimos doze meses não foi a criação de empregos que manteve a taxa de desocupação em baixa, os números também mostram que o melhor desempenho do mercado de trabalho ocorreu entre os empregados sem carteira assinada do setor privado, não foi nos setores beneficiados por desonerações e empréstimos camaradas. Não são números para se lamentar, mas também não batem com a história que o governo quer contar de que o desempenho do mercado de trabalho decorre de desoneração de impostos, crédito amigo do BNDES e outras bondades que Dilma fez para os empresários amigos.



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pelo Retrovisor

Um dos pontos que me chamou atenção na entrevista da presidente Dilma foi quando ela sugeriu que o entrevistador estava olhando pelo retrovisor e devia olhar para frente. Conheço a lógica, quando ocorre uma mudança na política econômica o passado não serve mais de referência e é preciso olhar para frente, grosso modo este é o argumento de Robert Lucas na crítica que fez a economia keynesiana dominante até a década de 1970. Ocorre que a mudança de política implementada por Dilma ocorreu em 2011, desta forma é sim possível e desejável olhar pelo retrovisor para avaliar os resultados da mudança de política. A verdade é que é os resultados foram muito ruins, talvez seja exatamente por isto que Dilma não queria que olhemos no retrovisor. A verdade é que Dilma termina seu primeiro mandato com o país crescendo menos e com mais inflação do que quando recebeu o governo. A verdade é que o governo que anunciou que seria lembrado como governo do PIBão arrisca terminar como o governo que viu as menores taxas de crescimento da história recente. A verdade é que o governo que anunciou que iria estimular a indústria e aumentar a taxa de investimento viu a participação da indústria cair e também viu a taxa de investimento cair. A verdade é que hoje a taxa de desemprego se matem baixa mais por pessoas saindo da força de trabalho do que por criação de novas vagas de emprego. A verdade é que os programa sociais dos quais a presidente se orgulha foram criados no governo Lula, alguém lembra do Brasil Carinhoso? Não é por acaso que presidente não quer que olhemos no retrovisor.
Se olharmos no retrovisor vamos ver que a Controladoria Geral da União criada por Lula em 2003 foi pouco mais do que uma mudança de nome da Corregedoria Geral da União criada por FHC em 2001. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que o tripé macroeconômico que Dilma defenestrou e substituiu pela tal Nova Matriz Macroeconômica foi capaz de manter a inflação sobre controle em um período onde vimos crescimento e distribuição de renda. Se olharmos no retrovisor vamos ver que hoje para rolar a dívida pública pagamos uma proporção do PIB maior do que pagávamos quando ela recebeu o governo. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que a crise internacional que Dilma responsabiliza pelo mal desempenho da economia em seu governo foi dada como superada pelo governo de Lula. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que o ministro Mantega em 2009 pedia um câmbio de R$ 2,60 e não vamos ter como explicar que hoje o BC está no mercado para segurar o câmbio em torno de R$ 2,20. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver o ministro Mantega chamando de piadista um analista do Credit Swiss que previu que a economia cresceria 1,5% em 2012 quando de fato a economia cresceu 1% e o ministro afirmava que cresceria muito mais, daí podemos nos questionar sobre se os analistas econômicos são mesmo pessimistas. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que intervenção no setor elétrico feita por Dilma foi desastrosa sob qualquer aspecto. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que as promessas da candidata Dilma em 2010 não foram cumpridas pela presidente Dilma em 2014: Belo Monte não foi construída, o trem bala não foi construído, a transposição do São Francisco não foi concluída, a transnordestina não foi concluída, a refinaria de Abreu Lima não foi concluída, na realidade seria melhor perguntar o que foi concluído. Se olharmos no retrovisor vamos que realmente a inflação em 2002 era maior que a de hoje, mas também veremos que alguns anos antes a inflação estava próxima a 1.000% ao ano...
Enfim, tem muita coisa que podemos ver olhando ver se olharmos pelo retrovisor, talvez por isso Dilma nos queira olhando para frente e acreditando cegamente no que ela diz estar vendo no retrovisor. Sim, porque Dilma não se roga de olhar no retrovisor para fazer sua campanha, é verdade que ela tem por hábito misturar o governo dela com o do antecessor dela, mas ela não para de falar sobre o que está vendo no retrovisor. Além de não querer que olhemos no retrovisor Dilma não quer que olhemos para o lado, foi determinado que nossos vizinhos não são referências para o que acontece por aqui, faz sentido, se olharmos para o lado vamos ver que estão nos ultrapassando. O problema é que do modo que vamos em breve estaremos sendo vistos pelo retrovisor.

domingo, 17 de agosto de 2014

Elegia para um Tripé

Apesar dos esforços na direção de uma teoria unificadora a abordagem padrão de macroeconomia nos força a pensar em termos de curto prazo e longo prazo. O desafio de longo prazo é fazer com que renda per capita do país aumente, mais recentemente a distribuição de renda e a redução da pobreza se juntaram ao desafio do longo prazo. No curto prazo o desafio é manter o nível e emprego sem criar desequilíbrios que venham a gerar problemas nas contas públicas e/ou na inflação. Boa parte do meu interesse enquanto economista está na macroeconomia de longo prazo, mas é inevitável abordar temas relativos ao curto prazo. Até porque as dinâmicas de curto e longo prazo não são apartadas, se na ânsia de evitar o desemprego um governo coloca a economia em uma trajetória de inflação e descontrole fiscal é quase certo que isto levará a problemas no longo prazo. A experiência brasileira a partir de meados da década de 1970 e a crise da década de 1980 ilustram bem como medidas ruins de curto prazo podem comprometer o longo prazo.

No que tange ao longo prazo o Brasil conseguiu reduzir a desigualdade e a pobreza, ainda não encontramos o caminho para o crescimento sustentado no longo prazo. Mas no momento é o curto prazo que me preocupa. Durante aproximadamente dez anos parecia que tínhamos encontrado a receita de como administrar o curto prazo de forma que pudéssemos voltar às atenções para o longo prazo. Porém em 2011 a presidente Dilma resolveu trocar a receita que vinha dando certo. Os objetivos anunciados para justificar a troca de receita não foram alcançados. A promessa que a troca de receita aumentaria a taxa de investimento e aumentaria a participação da indústria no PIB não foi cumprida, pelo contrário, tanto a taxa de investimento quanto a participação da indústria no PIB estão menor do que estavam em 2010. Como desgraça pouca é bobagem a inflação está maior, o governo está gastando mais com serviço da dívida pública, o saldo negativo em transações correntes está crescendo perigosamente e a taxa de desemprego está se sustentando pela saída de pessoas da força de trabalho e não pela geração de empregos. Como tanta coisa pode ter dado errado?

Para responder é preciso falar mais a respeito da antiga receita, conhecida como tripé macroeconômico. A estabilização da economia em 1994 encerou um longo período de hiperinflação, mas deixou um problema nas mãos do governo: como financiar os gastos públicos. A Constituição de 1988 criou uma série de novas responsabilidades para o governo e era necessário financiar essas responsabilidades sem recorrer ao financiamento inflacionário. Como o aumento da carga tributária não foi suficiente para financiar os novos gastos a saída foi recorrer ao endividamento. O problema é que dívida tem custo e para financiar este custo é preciso se endividar ainda mais. Tudo ficou ainda mais complicado porque o Plano Real previa que o câmbio ficasse preso em um determinado intervalo, era o chamado regime de bandas cambiais, e o governo começou a ter de elevar juros para atrair capital do resto do mundo e assim não permitir que o câmbio saísse do intervalo proposto. A combinação foi explosiva, em 1999 o serviço da divida pública chegou a 10,4% do PIB.

Era preciso encontrar uma maneira de desatrelar o real do dólar de forma que a taxa de juros não mais fosse determinada para manter uma dada taxa de câmbio, o risco era que sem o dólar segurando o real a inflação voltasse. A saída foi o que chamamos de tripé macroeconômico. A primeira perna do tripé era a taxa de câmbio flutuante, com isso o BC não mais precisaria elevar os juros toda vez que houvesse uma pressão para desvalorizar o real. A segunda perna do tripé consistia na exigência de uma disciplina fiscal capaz de reduzir o custo com os serviços da dívida, o meio encontrado foram os famosos superávits primários. Mas e a inflação? Resolver o problema do custo da dívida e do câmbio permitindo o descontrole da inflação levaria o Brasil de volta a 1993 e tornaria inútil todos os sacrifícios de 1994 a 1998. A saída foi a terceira perna do tripé, a parte mais complexa da receita. O Banco Central, presidido por Armínio Fraga, adotou a política de metas para inflação. Tal política decorria de avanços recentes na macroeconomia e não tinha sido muito testadas em outros países. Como era muito importante manter a confiança no real para evitar a volta inflação adotamos uma versão bem estrita do regime de metas: a única meta do BC era a de inflação, ou seja, o BC não estaria “preocupado” com emprego ou com crescimento e o período de convergência para meta foi fixado como 12 meses.

A figura abaixo ilustra a história que contei e como o tripé mudou os rumos da economia. De 10,4% do PIB em 1999, ano que o tripé foi adotado, o serviço da dívida caiu para 2,2% do PIB em 2010, último ano do tripé. Em março de 2014, quatro após o abandono do tripé, o serviço da dívida já tinha subido para 3,4% do PIB. A história pode ser contada por outras variáveis, o leitor do blog já viu a história sendo contada por meio dos descompassos entre oferta e demanda (link aqui) e várias vezes por meio da inflação. Voltemos então à pergunta: como tanto coisa pode ter dado errado? A resposta é simples: tanta coisa deu errado por termos destruído tudo que impedia tantas coisas de dar errado.



Primeiro veio o abandono da segunda perna, a dos superávits primários grandes o suficiente para estabilizar a dívida pública. Esta perna foi abandonada já em 2008 por conta da crise financeira. Se é ou não é adequado usar política fiscal para reduzir os efeitos de uma crise é uma questão que divide macroeconomistas e que não vou explorar aqui, porém insistir na política fiscal mesmo após a estabilização do emprego é uma estratégia que poucos macroeconomistas recomendaria, estou sendo generoso. Depois caiu a primeira perna, o regime de câmbio flutuante. O governo Dilma comprou a tese que o câmbio deve ser o que equilibra a indústria, mais uma invenção de economistas que (quase) ninguém consegue sequer calcular, e iniciou uma política de desvalorização do real. Quando a inflação começou a incomodar o governo tentou reverter a política e agora o BC está gastando dinheiro do contribuinte para impedir que o câmbio desvalorize ainda mais. A verdade é que o câmbio foi de R$ 1,60 para R$ 2,40 sem entregar nada do que havia sido prometido em caso de desvalorização cambial. O governo Dilma também abandonou o regime de metas de inflação, pelo menos o regime tal como estabelecido no Brasil. Mas a inflação não ficou dentro da meta em todo o governo Dilma? Sim. Mas esta não é a questão. O regime de metas é um compromisso entre a sociedade e o BC que determina que este último fará tudo que está a seu alcance para que a inflação fique no centro da meta, no Brasil o valor é de 4,5%. Se a inflação fica dentro do intervalo das metas porque o governo está intervindo diretamente nos preços, porque a providência assim desejou ou por qualquer outra razão que não esteja relacionada à ação do BC então não estamos em um regime de metas. Por exemplo, a inflação nos EUA flutuou em torno de 3% ao ano desde meados da década de 1980, mas o FED não trabalha com um regime de metas explícitas no estilo de nosso BC. Claro está que o regime de metas não é a única, talvez nem mesmo a melhor, forma de manter a inflação sobre controle, é legitimo o BC abandonar o regime, o que não é legitimo é não avisar que abandonou.


Ao tirar as duas pernas restantes do tripé a política econômica do governo Dilma permitiu a queda da estabilidade de curto prazo que o tripé segurava. A Nova Matriz Macroeconômica, que é tão nova quanto assistir Kojak ou ouvir Black Sabath, ao não providenciar nada que pudesse sustentar a estabilidade conquistada nos anos 1990 levou a política econômica de Dilma a um labirinto. O resultado é que voltamos a discutir inflação, dívida, confiança de investidores e todos aqueles temas de curto prazo que pareciam já estar resolvidos. Infelizmente a discussão a respeito do longo prazo voltou para geladeira.


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lições da Coreia para Educação: "Mais Dinheiro" ou "Melhor Gestão"?

Sei que hoje em dia comparar o Brasil com qualquer país virou crime de lesa pátria, a ideologia oficial determinou que o Brasil é um país único e que não pode ser comparado com nenhum outro. Porém em um passado recente não era assim, podíamos comparar o Brasil com outros países sem que isto causasse comoção. Não que o Brasil fosse considerado igual a outros países, mas entendia-se que a comparação era um exercício útil para ter uma medida relativa dos efeitos de nossas políticas. Naquela época era comum comparar o desempenho de longo prazo do Brasil com o da Coreia do Sul.

No início da década de 1950 a Coreia tinha uma renda per capita próxima à do Brasil. É claro que a Guerra da Coreia (1950 – 1953) tem um efeito nesta estatística, mas a proximidade entre a renda per capita dos dois países permaneceu até bem depois do final da guerra. De acordo com os dados da Penn World Table (PWT) a renda per capita da Coreia era 80% da brasileira em 1953, ano que terminou a guerra, em 1977 ainda estava no mesmo patamar. Entre 1953 e 1980 o maior valor da renda per capita da Coreia em relação ao Brasil foi de 87% em 1979 e o menor foi de 61% em 1962. No começo da década de 1980 a renda per capita da Coréia do Sul ultrapassou a do Brasil, em 1983 era 12% maior, a partir daí começou a crescer em relação a nossa, em 2011 o coreano médio tinha uma renda mais de três vezes maior que a do brasileiro médio. Os números mudam a depender da medida de renda per capita, mas a história é sempre a mesma. A partir da década de 1980 a Coréia do Sul ultrapassa o Brasil e segue uma trajetória de crescimento enquanto nós ficamos quase estagnados. A figura abaixo ilustra esta história.




Um motivo frequentemente apontado para explicar a diferença nas trajetórias de Brasil e Coreia do Sul é o desempenho da educação. A tese é que os coreanos investiram em educação e o Brasil não. Aceitando a tese temos na Coreia um exemplo de como a educação pode colocar um país em uma trajetória de crescimento sustentado. Não tardou para que alguns economistas comparassem o gasto com educação no Brasil e na Coreia, de acordo com os dados da ONU o setor público brasileiro em 2008 gastou 5,53% do PIB em educação enquanto na Coreia o setor público gastou 4,76% do PIB, o padrão não é diferente de outros anos. De posse destes números vários analistas alertaram que aumentar o gasto com educação não é receita certa para resolver o problema da educação brasileira. Os defensores do aumento dos gastos responderam que não é certo comparar o gasto como proporção do PIB, como a renda da Coreia é maior que a brasileira se os dois países gastam o mesmo percentual do PIB com educação então o gasto absoluto da Coreia é maior. Com os números da PWT o governo da Coreia gasta, em média, U$ 1.295 em educação por pessoa enquanto o governo brasileiro gasta, em média, U$ 460 por pessoa.

O argumento procede, uma pessoa muito rica pode gastar menos de 1% da própria renda para manter o filho na melhor escola da cidade, um sujeito com uma renda mais modesta pode gastar 10% de sua renda para manter seu filho em uma escola bem pior. No final o fato de um gastar menos de 1% da renda com educação dos filhos e o outro gastar 10% da renda com educação não significa que o que gastou mais está dando uma educação melhor e, mais importante, que aumentar o percentual da renda gasta com educação não melhore a educação do filho. Dessa forma, comparar percentual do PIB gasto em educação não ajuda muito quando a renda per capita dos países é muito diferente. Porém, como vimos, nem sempre a renda da Coreia foi tão maior que a do Brasil, pelo contrário, de 1953 a 1982 a renda da Coreia foi menor que a do Brasil. Mais interessante, se a disparada da Coreia em relação ao Brasil foi devida à educação então é o gasto do período em que os coreanos eram “pobres como nós” que deve ser observado, pois foi nesta época que a educação que proporcionou a disparada foi construída.

Pois bem, de acordo com os dados da ONU entre 1975 (primeiro ano da série que encontrei) e 1983 o governo da Coreia gastou, em média, 2,85% do PIB com educação, bem menos do que o Brasil gasta hoje. Com exceção de 1982 (6,65%) e 2009 (5,02%) o gasto do setor público com educação na Coreia ficou todos os anos abaixo de 5% do PIB. Infelizmente a base dados que usei não tinha os gastos com educação do Brasil na época que nossa renda era maior que a da Coreia, a série para o Brasil começa em 1989. Porém, se for considerado o período com dados em comum (tive de fazer algumas interpolações) o Brasil via de regra gastou mais que a Coreia em proporção ao PIB, a exceção é o período entre 2001 e 2005. Os dados estão na figura abaixo.




Existem duas limitações importantes nos dados que usei: (i) são considerados apenas gastos públicos em educação e (ii) não tenho os dados para o Brasil no período em que nossa renda per capita era maior que a da Coreia. Porém, mesmo com estas limitações, considero que é possível concluir que o problema da educação no Brasil não é falta de dinheiro. Já passou da trocar o mantra “mais dinheiro” por “melhor gestão”.



P.S. Considerar os gastos privados pode mudar a conclusão, mas daí a conclusão seria que não é o governo que deve gastar mais com educação...


sábado, 9 de agosto de 2014

De Novo?

Desde que o Banco Central resolveu abandonar o compromisso com o Regime de Metas e fazer apostas em coisas como convergência não linear de longo prazo que todo meio do ano aparecem umas figuras falando que a queda da inflação é o sinal que a tal convergência vai ocorrer. Lamento mais uma vez ser o estraga festa, mas a queda da inflação no meio do ano é um fenômeno recorrente e que não oferece nenhum sinal de convergência à meta nem no curto nem no longo prazo. A figura abaixo mostra o comportamento da inflação em 2011, 2012, 2013 e 2014. Percebem o padrão? Todo ano é a mesma coisa. A inflação cai no meio do ano e sobe a partir de agosto.


Se o Banco Central quer mesmo trazer a inflação para o centro da meta é melhor parar de apostar no imponderável e ficar adiando a data em que a tão esperada convergência ocorrerá. Basta fazer o que tem de ser feito, eles sabem o que é, se não fazem é porque não querem.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Seminário da SAE-PR e do Banco Mundial a Respeito da Produtividade no Brasil

Ontem, 06/08, ocorreu em Brasília o seminário da SAE-PR e do Banco Mundial a respeito da produtividade no Brasil. O objetivo foi entender quais fatores são responsáveis pela baixa produtividade da economia brasileira e pela baixa taxa de crescimento desta produtividade. O seminário foi dividido em cinco sessões (link para o programa aqui) cada uma tratando de um tema específico. As sessões ocorreram na forma de entrevistas onde Diana Coutinho, representando a SAE-PR, e Paulo Guilherme Correa, representando o Banco Mundial, faziam perguntas a três especialistas.

A primeira sessão tratou de política comercial e produtividade. Os especialistas foram José Guilherme Reis, Sandra Rios e Welber Barral. O tom era que a economia brasileira precisa de mais integração com o resto do mundo. Muito foi dito a respeito das cadeias produtivas globais e de como uma política isolacionista pode excluir as empresas brasileiras destas cadeias. Também foi feita uma discussão sobre os possíveis efeitos negativos do protecionismo na produção e no emprego, a questão é que ao proteger um monopólio e/ou oligopólio de um insumo intermediário o governo acaba por dificultar a vida das empresas que utilizam este insumo. A verdade é que protecionismo é uma forma de transferência de renda, logo existem prejudicados e beneficiados, identificar quem está em cada grupo deveria ser item obrigatório em qualquer proposta protecionista. A segunda sessão foi sobre produtividade. Na mesa, além dos entrevistadores, estavam Armando Castelar, Paulo Coutinho e Cláudio Frischtak. Infelizmente eu não pude assistir a esta seção. Pelo que apurei depois as discussões trataram de questões regulatórias e de financiamento.

A terceira sessão foi sobre ambiente de negócios, meu tema favorito. Joaquim Levy, Marcos Lisboa e Daniel Lederman foram os entrevistados. O que dizer? O ambiente de negócios brasileiro é absurdamente ruim. As 2600 horas necessárias para pagar impostos, mesmo que seja uma estimativa exagerada, são um monumento a ineficiência. Marcos Lisboa deu exemplos de suas experiências no governo para argumentar que a mudança no ambiente de negócios deve ser feita em pequenos passos. Não se trata de uma grande reforma para colocar tudo no lugar, longe disto, a questão é identificar problemas e buscar soluções para cada problema. Detalhes que acabam por impedir o funcionamento de questões pontuais quando somados criam a camisa de força que prende a economia brasileira. Sou suspeito, mas fiquei com a nítida impressão de que praticamente todos concordaram que simplificar o Brasil é o grande objetivo a ser atingido. Aliás, o ministro Guilherme Afif já tinha dado esse tom na abertura do evento ao citar Steve Jobs e dizer que é complexo fazer que as coisas fiquem simples e que é simples permitir que as coisas sejam complexas.

A quarta sessão tratou de tecnologia, inovação e produtividade. Na mesa estavam Sílvio Meira, Fernanda de Negri e Cláudio Frischtak. Novamente a questão do excesso de leis e regulações ganhou destaque, o financiamento também foi discutido. Silvio Meira fez a provocação à academia ao afirmar que a academia brasileira é irrelevante (com exceções, é claro), foi além e disse que é irrelevante por que no lugar de procurar respostas para perguntas da sociedade a academia brasileira procura perguntas para as respostas que tem. Esse quadro é consequência de uma legislação que busca criminalizar a atuação do professor fora da universidade. Como um pesquisador isolado da sociedade vai saber os problemas que da sociedade e quais perguntas devem ser respondidas para melhorar a vida das pessoas? Só por isto eu já teria aplaudido a palestra, mas ele foi além, criticou duramente a lógica do Qualis/CAPES. Criar um grande esquema de classificação de revistas científicas que sirva como indutor do esforço de pesquisa é uma ideia ridícula, simples assim. Mais uma jabuticaba pronta a nos tornar motivos de piada e tirar nossa atenção do que importa. Eu não poderia concordar mais, para ficar perfeito só faltou dizer que tudo é mais absurdo por ser feito por uma agência de governo, de certa forma isto estava implícito, afinal se não fosse do governo ninguém estaria ligando. Tenho que me lembrar de pedir ao Prof. Ivan Camargo, reitor da UnB, de convidar o Silvio Meira para falar na UnB.

A última sessão tratou de prosperidade partilhada e produtividade. Marcelo Neri, Naercio Menezes e Mark Dutz discutiram como garantir que os ganhos de produtividade sejam compartilhados por todos. A mesa tratou das políticas públicas que podem distribuir os ganhos de produtividade por toda a população. Sou cético a este respeito, reconheço que tais políticas existem, mas a maioria das políticas públicas vai na direção contrária, ou seja, concentra ganhos. Porém, se é para ter políticas públicas, que seja m direcionadas a pessoas e não a empresas. Um dos pontos de destaque da mesa foi que a redução da concentração de renda no Brasil passa pelo mercado de trabalho e não pode ser vista apenas como o resultado dos programas de transferências de renda. Outro ponto de destaque é que renda do brasileiro mediano está crescendo a 6% ao ano, isto talvez explique a razão de Dilma estar liderando as pesquisas. Infelizmente ninguém se arriscou a afirmar que esse crescimento é sustentável, eu acredito que não é, posso estar errado, mas quando eu disse, em pleno 2010, que o Brasil ia parar de crescer eu estava certo. Não existe mágica em economia, sem crescimento da produtividade nenhum crescimento é sustentável, a boa notícia é que todos que participaram do evento parecem concordar com esta afirmação. A outra boa notícia é que havia um quase consenso que simplificar o Brasil é a medida mais importante e mais urgente para aumentar a produtividade. Estamos avançando.