segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Distribuição dos votos dos eleitores das capitais pelos diversos partidos

No post apresento e comento os dados referentes aos resultados das eleições para prefeitos das capitais dos estados brasileiros. Das vinte e cinco capitais que foram às urnas, Macapá ficou de fora por conta dos problemas com energia elétrica, sete já definiram seus prefeitos. Alexandre Kalil (PSD) foi eleito em Belo Horizonte com 63,36% dos votos válidos, Marquinhos Trad (PSD) foi eleito com 52,58% dos votos válidos de Campo Grande, Rafael Greca (DEM) teve 59,74% dos votos em Curitiba, Gean Loureiro (DEM) teve 53,46% dos votos em Florianópolis, Álvaro Dias (PSDB) ganhou com 56,58% dos votos em Natal, Bruno Reis (DEM) teve 64,20% dos votos de Salvador, em Palmas, que não tem segundo turno por ter menos de duzentos mil habitantes, Cinthia Ribeiro (PSDB) ganhou com 36,24% dos votos válidos. Nas demais capitais só conheceremos os prefeitos após o segundo turno. Considerando os prefeitos já eleitos nas capitais o DEM está na dianteira com três prefeitos, seguindo pelo PSD e PSDM com dois prefeitos cada.

Goiânia e Curitiba tiveram dezesseis candidatos cada e foram as capitais com maior número de candidatos à prefeitura. A capital com menos candidatos a prefeito foi Rio Branco com sete candidatos. Das cinco capitais mais populosas a que teve mais candidatos foi Belo Horizonte, 15, seguida pelo Rio de Janeiro, 14, São Paulo, 13, Fortaleza, 11, e Salvador, 9. A figura abaixo mostra o número de candidatos a prefeito em cada capital.

 


O PSOL foi o partido com mais candidatos a prefeitos nas capitais, 22, depois aparece o PT com 20 e o PSTU com 16 candidatos. O MDB aparece em quarto com 14 candidatos e o PCO em quinto com 13 candidatos. A curiosa presença do PCO e do PSTU na lista dos cinco partidos com mais candidatos talvez mereça alguma atenção. Minha primeira impressão é que a listo mostra uma estratégia da extrema esquerda de usas estruturas partidárias para divulgar ideias, em uma leitura positiva, ou abocanhar mais verbas do governo, em uma leitura que não é positiva, mas talvez seja mais realista.

 


O quadro muda completamente quando consideramos os votos dos partidos nas capitais. O partido que mais recebeu votos, foram considerados todos os candidatos listados pelo TSE, foi o DEM, com pouco menos de 2,69 milhões de votos. Na sequência aparecem PSDB, cerca de 2,45 milhões de votos, PT, 1,73 milhões de votos, PSOL, 1,70 milhões, e REPUBLICANOS, 1,48 milhões. O PCO, apesar de ser o quinto partido em número de candidatos, teve pouco mais de três mil votos nas capitais ficando à frente apenas do PMN, que teve dois candidatos, e do PDB, que teve apenas um candidato. O PSTU ficou um pouco melhor que o PCO, os dezesseis candidatos do partido tiveram somados 16,4 mil votos, pouco mais da metade dos votos dos dois candidatos do PTB.

 


A capital onde o DEM teve mais votos foi o Rio de Janeiro onde Eduardo Paes teve cerca de 975 mil votos, um número de votos maior que os de Bruno Reis que levou Salvador com 64,2% dos votos (cerca de 780 mil votos). O maior número de votos do PSDB foi em São Paulo com Bruno Covas (1,75 milhões), a capital paulista também deu o maior número de votos para o PSOL, Guilherme Boulos com cerca de 1,08 milhões, e para o PT, Jilmar Tatto com 462 mil votos. O REPUBLICANOS, assim com o DEM, teve sua maior votação no Rio de Janeiro com Marcelo Crivella (577mil).

Os votos nas capitais reforçam a ideia de que o PSOL está em condições de desafiar a hegemonia do PT na extrema esquerda (se não gostou do termo pode substituir por esquerda bolivariana, esquerda democrática e popular ou qualquer nome que diferencie o PT e suas antigas linhas auxiliares de uma esquerda no estilo dos tucanos ou do PSB). A dificuldade do PT com os eleitores das capitais também aparece nos apenas dois candidatos do partido que disputam segundo turno, Marilia Arraes em Recife e João Coser em Vitória, com chances reais do PT ficar fora das prefeituras em todas as capitais do país.

Não sei o quanto esses resultados podem influenciar nas eleições de 2022. Os protagonistas da corrida presidencial em 2018 ficaram apagados nas capitais, se os problemas de Bolsonaro não aparecem nas figuras do post é porque o Presidente sequer tem um partido. Por outro lado, creio que é razoável concluir que o resultado das eleições mostram que os eleitores das capitais perderam o encanto com o projeto de poder do PT, que quase fez de Lula um Perón brasileiro, e de Bolsonaro, que nunca me pareceu capaz de ir muito além do que chegou em 2018. Isso é bom!

 

domingo, 8 de novembro de 2020

Alguns números da economia dos Estados Unidos no governo Trump

As eleições nos Estados Unidos chamaram atenção para várias questões relacionadas ao país. Basta uma olhada nos jornais ou nas redes sociais para esbarrarmos em notícias sobre geopolítica, economia, política, racismo e outras questões relacionadas aos direitos civis no país que ainda se apresenta como Terra da Liberdade, embora já tenha sido bem mais livre, ou bem menos, a depender do ângulo que se olha e do conceito de liberdade usado pelo observador.

Para ajudar nas discussões, apresento nesse post alguns números relacionados à economia americana. Os dados são todos do FMI e estão disponíveis na versão de outubro de 2020 da base de dados do World Economic Outlook (link aqui), não inclui 2020 por conta da pandemia e porque trabalho com dados anuais e o ano ainda não acabou. Em cada uma das figuras a linha mostra os dados desde 2001, para dar uma ideia de tendência, e as barras mostram os dados no governo Trump.

Comecemos a história pelo lado fiscal. Durante o governo Obama os Republicanos fizeram muitas críticas por conta da política fiscal, as acusações giravam em torno da ideia que Obama, e Democratas em geral, gastava demais. De fato, no começo do governo Obama o déficit primário como proporção do PIB nos Estados Unidos deu um grande salto, uma tendência que vinha do governo Bush e está muito relacionada à Crise de 2008. Porém, depois do pico de 11,3% do PIB em 2009, o déficit primário como proporção do PIB apresentou uma trajetória de queda. No último ano do governo Obama o déficit primário foi de 2,4% do PIB, número que cresceu até chegar a 4,1% em 2019. Para 2020 a previsão do FMI é que o déficit primário dos Estados Unidos será de 16,7% do PIB, mas aí há de se considerar o efeito da pandemia.


 

O comportamento do déficit acaba refletido na dívida pública. Após o salto significativo na sequência da Crise de 2008, de 64,7% do PIB em 2007 para 103,3% do PIB em 2012, a dívida pública se estabiliza como proporção do PIB no segundo mandato do Presidente Obama com um aumento em 2016. Durante o governo Trump a dívida cresce mais que o PIB em todos os anos e chegou a 2019 na faixo de 109% do PIB. Em 2020 a previsão é de que a dívida chegará a 131% do PIB, mais uma vez a pandemia tem um efeito central no aumento. Em termos gerais parece justo dizer que a situação fiscal dos Estados Unidos piorou no governo Trump mesmo antes da pandemia.

 


Um dos grandes trunfos frequentemente citados pelos que simpatizam com o Presidente Trump é o aumento do crescimento e a queda do desemprego. A figura abaixo mostra o crescimento dos Estados Unidos. É fato que nos dois primeiros anos do governo a taxa de crescimento do PIB americano aumentou, mas houve perda de folego em 2019. A maior taxa de crescimento no governo Trump foi 3% em 2018, número próximo aos 3,1% de 2015 ainda no governo Obama. Para 2020 a expectativa é de queda de 4,3% no PIB americano.

 


O desemprego no governo Trump segue a tendência de queda iniciada a partir de 2010 chegando a um mínimo de 3,7% em 2019. Olhando os dados fiscais e desemprego fica a impressão de que havia um estímulo fiscal em uma economia com baixo desemprego, uma estratégia que, como bem sabemos por aqui, pode ser desastrosa no médio/longo prazo. Para 2020, por conta da pandemia, a previsão é que desemprego fique em 8,9%.

 


A última variável que vou falar é a inflação. Em 2008, ano da crise financeira, a inflação nos EUA caiu para 0,7%, nos primeiros anos do governo Obama a inflação sobe até chegar a 3,1% em 2011. A partir daí, concomitante a estabilização da dívida como proporção do PIB e na sequência da queda no déficit primário, a inflação volta a cair chegando a 0,5% em 2014. Em 2016, último ano do governo Obama, a inflação foi de 2,2%, número que se repetiu no primeiro ano do governo Trump. Em 2018 a inflação caiu para 1,9% e no ano seguinte subiu para 2,1%, onde, segundo as previsões do FMI, deve ficar em 2020.

 


O balanço do governo Trump, desconsiderando 2020, mostra uma piora no quadro fiscal sem um aparente impacto significativo no crescimento que, em média, foi de 2,5% nos três primeiros anos do Presidente Trump contra 2,4% nos três anos anteriores e 2,5% nos três primeiros anos do segundo mandato do Presidente Obama. O desemprego seguiu a tendência de queda. Onde a combinação de estímulos fiscais e desempregos baixo levaria não temos como saber, a pandemia mudou as trajetórias dessas variáveis, mas a experiência sugere que não seria a um lugar bom. A inflação ficou controlada no governo Trump.

O que vai acontecer nos próximos anos? Só o tempo dirá. Republicanos quando estão na oposição costumam impor resistência a políticas que aumentem o déficit do governo, isso pode ajudar a reverter o aumento do déficit e a estabilizar a dívida como proporção do PIB. Por outro lado, a pandemia impôs gastos e poderá continuar impondo a depender do que vai acontecer nos próximos meses ou anos. Arrisco dizer que só com uma vacina as coisas começarão a voltar ao normal, mas não arrisco dizer quando a vacina vai aparecer nem muito menos quando (e como) as pessoas serão vacinadas. A pandemia também deve ditar o ritmo de crescimento, é razoável esperar que as economias do mundo cresçam e criem empregos nos períodos seguintes à superação da pandemia.

A inflação vai depender da parte fiscal. Os Estados Unidos testaram o limite de endividamento na crise de 2008, deu certo, mas isso não quer que dizer que não existe limite. Meu médico diz que eu tenho de emagrecer. Ele não sabe dizer o peso máximo que posso ter sem algum problema sério, também não sabe dizer o que vai acontecer se eu chegar nos 160kg e muito menos quanto tempo posso ficar acima dos 150kg impunemente. Ele apenas me diz que em algum momento meu peso vai cobrar um preço da minha saúde, eu, que apesar de já sentir alguns sinais dessa cobrança não faço os ajustes necessários para perder peso, acredito nele.

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Álbum de retratos da economia de alguns países da América Latina

O post apresenta uma espécie de coleção de fotografias de alguns países da América Latina olhando por vários ângulos, a ideia é dar um painel do estado geral de países da região. Colocar todos os países tornaria difícil reconhecer cada um na foto, dessa forma escolhi um grupo de onze países que costumam aparecer em várias comparações do tipo que aparecem na internet ou em artigos de jornais e revistas, são eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.

Como é o caso em qualquer fotografia de família existem diferenças importantes entre os que aparecem nas imagens que não são captadas nas fotos, por exemplo, os menos de 3,5 milhões de habitantes espalhados em um território 176,2 mil quilômetros quadrados fazem do Uruguai um país bem diferente do Brasil com nossos mais de 200 milhões de habitantes em um território de cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Ainda assim ambos aparecem nas figuras abaixo, afinal ambos fazem parte de nuestra América.

As dimensões consideradas são: PIB per capita, expectativa de vida, gastos com saúde, gastos com educação, distribuição de renda, acesso à internet, dependência de recursos naturais e participação da manufatura do PIB. Para cada variável foi usada a média de 2015 a 2019, em caso de faltar algum dado para um ou mais anos foi usada a média sem considerar o ano em questão, quando não estavam disponíveis dados para nenhum dos anos o país ficou de fora da figura (ou da foto). Os dados são do Banco Mundial.

Como de costume o ponto de partida é o PIB per capita. Por mais críticas que possam ser feitas a essa medida é fato que países com alto PIB per capita tendem a ter um melhor desempenho nas variáveis que o crítico aponta como ausentes no cálculo do PIB. Riqueza não compra felicidade nem saúda, mas ajuda um bocado. Para facilitar as comparações foi usado o PIB ajustado por paridade de poder de compra. O país mais rico da turma é o Chile seguido de perto pela Argentina, Brasil e Colômbia estão quase empatados no meio e a Bolívia está isolada na lanterninha. Alguns podem se assustar com a posição da Argentina, mas é isso mesmo, como eu já disse em outros lugares o drama da América do Sul no pós-guerra não é o Brasil virar Argentina, o drama é a Argentina estar virando Brasil.

 


A próxima variável é a expectativa de vida, ter dinheiro é bom, mas fica ainda melhor quando é possível aproveitar a vida por mais tempo. Nesse critério o Chile é novamente o líder, porém agora seguido por Uruguai e Colômbia. A Bolívia mais uma vez teve o pior desempenho, a Venezuela, que não pareceu na figura anterior, está colada na Bolívia. O Brasil está na parte de baixo da amostra. Usando o critério de PIB per capita e expectativa de vida para avaliar bem-estar o Chile é o líder da turma. Vale o registro que na Argentina, mesmo com o PIB per capita muito próximo do Chile, a expectativa de vida é a quinta maior entre os países selecionados.

 


Expectativa de vida nos leva a pensar em saúde. O país da amostra com o maior gasto em saúde como proporção do PIB é o Brasil que é seguido de perto pelo Uruguai. O Chile, com a maior expectativa de vida, aparece me terceiro lugar. O pior desempenho é observado na Venezuela.

 


O gasto com saúde pode dar uma ideia distorcida do acesso dos mais pobres ao sistema de saúde, isso é verdade porque a medida da figura anterior considera todos os tipos de gastos com saúde. A próxima figura mostra o gasto do governo com saúde, Uruguai e Argentina lideram nesse quesito. O Chile fica bem no meio da turma e o Brasil, que liderava na figura anterior, abre a turma onde o governo gasta menos de 4% do PIB com saúde. Aqui um ponto interessante, no gasto total Brasil e Uruguai estão praticamente empatados, porém, no gasto do governo com saúde, o Uruguai lidera e o Brasil foi para parte de baixo da figura. Difícil falar qual é o melhor modelo apenas com esses dados, mas os números sugerem que o financiamento do sistema de saúde do Uruguai é mais fincado no setor público enquanto no Brasil prevalece o setor privado.

 


Para avaliar os gastos dos governos com educação serão considerados os gastos por estudantes nos níveis de educação primário, secundário e terciário. Na educação primário o maior gasto por estudante ocorre no Chile que é seguido à distância pela Argentina e pelo Brasil. O país da amostra com menor gasto foi o Equador, note que Bolívia e Venezuela ficaram de fora por falta de dados.

 


No ensino secundário a liderança passa a ser da Argentina com o Chile ocupando o posto de segundo maior gasto por estudante. O Brasil caiu para a quarta posição e o Equador é novamente o país com menor gasto por aluno.

 


No ensino terciário, onde estão as universidades, o maior gasto do governo por aluno é no México. O Equador, que tinha o menor gasto nos níveis primário e secundário, tem o segundo maior gasto no nível terciário. O Brasil ficou com o quarto maior gasto, mesma posição que no secundário e uma posição abaixo do primário. O Chile, que liderou no primário e ficou em segundo lugar no secundário, aparece em quinto lugar no terciário, esses números sugerem que o sistema público de educação do Chile prioriza os níveis mais básicos de educação. O Peru é o país com menor gasto do governo por aluno no ensino terciário.

 


A desigualdade será medida pelo índice de Gini, a proporção da renda que vai para os 10% mais ricos e a proporção da renda que pertence aos 10% mais pobres. O maior índice de Gini é observado no Brasil que é seguido pela Colômbia. O Uruguai é o país da amostra onde a distribuição de renda é menos concentrada.

 


No Brasil os 10% mais ricos respondem por 41,9% da renda do país, é a maior proporção dentre os países da amostra. No Uruguai os 10% mais ricos ficam com 29,7% da renda e na Argentina ficam com 30%.

 


Aqui aparece um fato curioso, apesar de ficar pelo meio no índice de Gini e na renda destinada aos 10% mais ricos o Chile é o país da amostra onde os 10% mais pobres ficam com a maior fatia da renda. Brasil é o país onde os 10% mais pobres ficam com a menor parte da renda. Por qualquer dos critérios utilizados o Brasil é o país com a maior concentração de renda.

 


Em tempos de redes sociais e vidas virtuais achei válido olhar para o acesso à internet. O maior acesso ocorre no Chile, 80% da população, e o menor na Bolívia. O Brasil fecha a parte de cima da distribuição com acesso por menor que a Venezuela e maior que no México.

 


Por fim considerei duas varáveis relacionadas à estrutura de produção dos países: proporção da renda do país originada em recursos naturais e participação da manufatura no PIB. O Chile é o país da amostra com maior dependência de recursos naturais, talvez esse fato deva ser considerado por quem tenta explicar o desastre econômico em alguns países do continente com base na queda dos preços das commodities. A menor dependência ocorre na Argentina. No Brasil apenas 3,2% da renda tem origem em recursos naturais.

 


O Paraguai é o país da amostra onde a manufatura responde pela maior parte do PIB, se essa variável for usada como medida de industrialização então é justo dizer que o Paraguai é o país mais industrializado da turma. Em segundo lugar aparece o México, aquele que fez um acordo de livre comércio com os EUA. O Brasil, apesar (ou por causa?) dos subsídios, dos planos estratégicos para indústria, do protecionismo, etc, é o país onde a manufatura reponde pela menor proporção do PIB.

 


Como prometido o post apresentou retratos da países da América Latina tirados por diversos ângulos. É certo que outros autores, ou esse autor em outros dias, poderiam ter colocado outros países e escolhido outras variáveis, mas creio que os retratos desse post dão uma ideia relevante de como estão alguns dos principais países da região. Apesar dos inevitáveis comentários no decorrer do texto, deixo para o leitor decidir quais países apresentam o melhor desempenho geral.