segunda-feira, 27 de junho de 2016

Porque no tiene, porque le falta... Uma comparação entre Brasil e México no período posterior a Crise de 2008

Comparações entre países são perigosas, mas como quase todas as coisas perigosas são também divertidas, se não trazem conclusões definitivas são boas para provocações e derrubar mitos. Um de nossos mitos favoritos é que a resposta do governo Lula à crise de 2008 foi brilhante e conseguiu isolar o Brasil do desastre que se abateu sobre a economia mundial. Geralmente os que defendem essa tese nos comparam com países da Europa, raramente nos comparam com os mais próximos países da América Latina. Para corrigir tamanha injustiça resolvi comparar o Brasil com o México, os dois maiores PIB da América Latina. Como de costume serão usados os dados do FMI (link aqui).




Comecemos pelo PIB per capita descrito na figura acima. Nenhum dos dois países apresentam redução de PIB per capita nos anos imediatamente seguintes à crise, porém, no final da série, a economia brasileira começa a mostrar queda enquanto a mexicana segue em frente. A figura abaixo mostra quanto seria o PIB per capita de cada país se o PIB per capita de ambos fosse igual a cem em 2009 e considerando o crescimento observado em cada um dos países. Na figura fica claro que logo após a crise o Brasil cresce mais, porém a médio prazo o crescimento do Brasil se mostra insustentável e colapsa enquanto o do México segue com taxas positivas de crescimento. Se for para tirar conclusões das figuras eu diria que o Brasil seguiu uma trajetória bem menos sustentável que a do México. Trajetórias como a seguida pelo Brasil são consistentes com políticas econômicas populistas como as que foram implementadas por aqui.




Outra variável interessante é a taxa de desemprego. Alguns autores afirmam que a política econômica aplicada no Brasil pode ter sido ruim para o crescimento, mas foi boa para garantir empregos, em geral os que pensam assim nos comparam com países como Espanha e Itália, esquecendo que nesses países as políticas de bem-estar, como seguro desemprego, tornam altas taxas de desemprego bem mais suportáveis do que por estas bandas. Quando olhamos para o México o desempenho de nossa economia no quesito desemprego fica bem mais modesto. A figura abaixo mostra que em todos os anos entre 2009 e 2015 a taxa de desemprego no Brasil foi maior que no México, pior, a significativa elevação do desemprego no Brasil em 2015 não tem contrapartida no México. Novamente seu eu tivesse de apostar diria que o México usou políticas mais consistentes que as nossas.




A comparação das taxas de inflação também não nos favorece. Como mostra a figura abaixo a inflação no México foi menor que no Brasil em todos os anos com exceção de 2009. Em 2015 a diferença é humilhante, enquanto o México teve inflação de 2,72% nós tivemos de quase 10%. Curiosamente alguns economistas daqui insistem que a inflação alta é o preço que pagamos por não termos sofrido tanto com a crise, esses mesmos economistas porque o México sofreu ainda menos e não teve de pagar com uma inflação de 10%.




Por último a dívida pública. A figura abaixo mostra que nos dois países a relação dívida/PIB aumenta, porém no México é sempre mais baixa e chega a 54% em 2015 enquanto por aqui chegou a 74%. O quadro da evolução da dívida é particularmente útil para alguns colegas que insistem em negar um problema fiscal por aqui por conta de nossa relação dívida/PIB ser baixa em comparação a observada em vários países ricos. Como já mostrei em outros posts nossa dívida é alta se comparada a de países em desenvolvimento (link aqui).




A comparação com o México mostra que se nossa política econômica foi genial por amenizar os efeitos da crise vamos ter de criar um outro adjetivo para descrever a política econômica do México. Em todas as dimensões avaliadas no post (PIB per capita, desemprego, inflação e dívida/PIB) o México teve um desemprenho melhor que o Brasil nos anos posteriores à crise. Sim, quase esqueço, segundo vários economistas que consideram nossa resposta à crise genial o México estava condenado a sofrer mais que a maioria dos países por ter atrelado sua economia à dos EUA... melhor nem falar mais nada.



quarta-feira, 1 de junho de 2016

Contas Nacionais do primeiro trimestre de 2016: o desastre continua.

Hoje foram divulgadas as contas nacionais referentes ao primeiro trimestre de 2016 (link aqui), um bom resumo dos resultados seria: o desastre continua. O PIB continua em queda, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior é a oitava queda seguida, isso mesmo, a última vez que o PIB de um trimestre cresceu em relação ao mesmo trimestre do ano anterior foi no primeiro semestre de 2014. A figura abaixo mostra a variação do PIB de um trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano anterior desde 1996, é fácil ver que desde lá é a primeira vez que ficamos tanto tempo no negativo. Se a referência for o trimestre anterior é o quinto negativo seguido, só não foram oito seguidos porque a taxa foi de zero no terceiro trimestre de 2014 e crescemos incríveis 0,1% no quarto trimestre de 2014. No acumulado de quatro trimestres são “apenas” cinco quedas consecutivas. Difícil arrumar um termo melhor que desastre para descrever o que está acontecendo.




A decomposição da variação do PIB também não é nada animadora. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior a agropecuária caiu 3,7%, a indústria teve queda de 7,3% e os serviços tiveram queda de 4,6%. Se você é um dos que apostam que a desvalorização do real pode salvar a indústria talvez você queira saber que a indústria de transformação teve queda de 10,5% em comparação ao mesmo trimestre de 2015. Como mostra a figura abaixo é maior sequência seguida de quedas na indústria de transformação desde 1996 e em termos de profundidade só perde para a queda que seguiu à crise de 2008. É bem verdade que alguns “defensores da indústria” continuam defendendo a tese de culpa do câmbio, mas eu não ficaria surpreso se vários industriais estiverem saudosos da época do “câmbio valorizado”. Na comparação trimestre a trimestre as quedas foram de 0,3% na agropecuária, 1,2% na indústria e 0,2% nos serviços. A indústria de transformação caiu 0,3% sendo o sexto semestre seguido de queda, desde 1996 é a primeira vez que indústria de transformação tem seis quedas seguidas na comparação com o trimestre anterior.




Pela ótima da demanda a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior mostra queda de 6,3% no consumo das famílias, queda de 1,4% nas despesas de consumo do governo, queda de 17,5% no investimento aumento de 13% nas exportações e queda de 21% nas exportações. Antes de se animar com as exportações vale lembrar exportações e importações vez por outra apresentam grandes variações e que os valores atuais estão próximos aos de 2011 quando a Nova Matriz entrou em cena com a conversa de desvalorizar o câmbio para estimular a indústria. Se nada disso diminuir sua animação talvez seja bom voltar ao parágrafo anterior. A queda nas taxas de investimento e poupança são preocupantes. Na comparação com o trimestre anterior o consumo das famílias caiu 1,7%, as despesas de consumo do governo subiram 1,1%, o investimento caiu 2,7%, as exportações subiram 6,5% e as importações caíram 5,6%. Aqui o destaque é o aumento das despesas de consumo do governo em contraste com a queda no consumo das famílias e do investimento. Tal contraste é um retrato dos três meses de Nelson Barbosa à frente da Fazenda: aumento do gasto público e queda dos gastos privados. Um último ponto de destaque é a informação que o consumo das famílias retrocedeu aos valores de 2011, na prática isso ilustra os anos perdidos de Dilma.