Post rápido só para mostrar a inflação em cada um dos grupos que compõem o IPCA. Em quatro dos sete grupos a variação do IPCA acumulada em 12 meses está acima do teto da meta para 2021, em um está acima do centro da meta e abaixo do teto e em dois grupos está abaixo do centro da meta. É isso.
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
terça-feira, 10 de agosto de 2021
Inflação no Brasil comparada com a dos países do G20 e das Américas
A inflação no Brasil está alta. Pelos padrões definidos pelo Conselho Monetário Nacional a inflação medida pelo IPCA deveria ser 3,75% com tolerância até 5,25%, a inflação acumulada em 12 meses até julho deste ano é 8,99% e a previsão de inflação pelo pessoal do mercado está em 6,88%. Por qualquer critério é justo dizer que o BC não está conseguindo cumprir com a obrigação em relação ao controle da inflação.
Não é só no Brasil que a inflação está alta, nos EUA a
inflação está em 5,4%, bem mais alta do que os 2% em média, não necessariamente
no ano, prevista após a flexibilização do regime de metas em agosto de 2020. No
resto do mundo, porém, encontramos países com valores mais baixos. De acordo
com o site Trading Economics (link aqui) na Zona do Euro a inflação está em
2,2%, na China 1% e mesmo na Rússia está 6,46%, consideravelmente menor que os
8,99% do Brasil.
A figura abaixo mostra a inflação nos países do G20, o
último dado é referente a junho ou julho de 2021. Apenas na Argentina. 52,2%, e
na Turquia, 18,95%, a inflação está maior do que no Brasil. Mesmo com a
Argentina puxando para cima a média das inflações dos países do G20 é de 6,01%,
a mediana é 3%, a inflação por aqui está bem acima da média e muito acima da
mediana. Aparentemente, mesmo que existam efeitos internacionais, não é
razoável descartar os efeitos internos como, por exemplo, o BC ter reduzido
demais os juros e segurado os juros baixos por muito tempo ou as aventuras
fiscais do governo Bolsonaro.
Caso o leitor esteja incomodado com o G20 ser usado como grupo de referência refiz a figura com os países das Américas, deixei de fora a Venezuela, por motivos, óbvios, e os países com último dado anterior a maio de 2021. Além da Argentina, apenas Suriname, 43,63%, Haiti, 12,7%, e República Dominicana, 9,32%, estão com mais inflação do que o Brasil. Mais uma vez, mesmo com Argentina e Suriname puxando para cima, a inflação do Brasil ficou acima da média dos países da América que estão na amostra, 7,41%. Também ficou acima da mediana que foi 3,94%.
Olhar para ouros países sugere que existe um componente
interno na perda de controle da inflação no Brasil. Mal comparando, a situação
lembra a que aconteceu em 2014/15 quando apontavam uma crise internacional para
justificar o fraco desempenho da economia, mas os outros países cresciam bem
mais do que o Brasil. É claro que desta vez existe uma crise internacional que
explica, por exemplo, a queda do PIB em 2020, mas quem quer mandar a conta da
inflação para o resto do mundo precisa explicar porque nossa inflação é tão
mais alta do que a da maioria dos países do G20 e das Américas.
domingo, 8 de agosto de 2021
Medalhas, medalhas, medalhas: desempenho do Brasil e país "vencedor" de cada Olimpíada.
Animado pelo espírito olímpico resolvi dar uma olhada no desempenho
do Brasil em todas as Olimpíadas. Encontrei no Kaggle (link aqui) uma base de
dados com nome, país, modalidade e demais informações de todos os atletas que
ganharam medalhas olímpicas de 1896 a 2016 (link aqui). Da Wikpedia peguei as medalhas por
países na Olimpíada de Tóquio. Depois de arrumar os dados percebi algumas
imprecisões, com mais análise notei que a grande maioria dessas imprecisões decorria
de medalhas canceladas após os jogos ou de empates na mesma categoria. Como a
distorção ficou muito pequena resolvi seguir adiante, por exemplo, para o
Brasil a conta bateu com o dado da Wikipedia em todas as Olimpíadas que chequei,
para a China achei apenas uma inconsistência entre meus números e os da Wikipedia.
Ainda pensei em procurar uma base histórica com medalhas por países e não por atleta,
mas arrumar a base que encontrei me pareceu mais divertido.
De posse dos dados parti para analisar o desempenho do
Brasil e, no caminho decidi checar qual o país com melhor desempenho em cada
edição dos jogos. Começo com o Brasil. A figura abaixo mostra as medalhas de
ouro ganhas por atletas individuais ou equipes representando o Brasil em cada
edição onde ganhamos pelo menos uma medalha. Por esse critério os melhores
desempenhos ocorreram em 2016 e 2020, o que é interessante, pois seria razoável
esperar que o desempenho de 2016 porque naquele ano os jogos foram no Rio de Janeiro.
Outro aspecto interessante é a melhora no desempenho depois dos jogos de 2000
quando ficamos sem medalhas de Ouro. Se o amigo está pensando que eu deveria
ter levado em conta o aumento no número de medalhas, informo que fiz e está mais
abaixo, mas, antes, vou mostrar o total de medalhas.
Considerando a soma de todas as medalhas ganhas pelos atletas
e equipes que representam o Brasil o melhor desempenho correu em Tóquio, quando
ganhamos 21 medalhas, duas a mais do que no Rio de Janeiro. A figura também
mostra a melhora do Brasil nas últimas olimpíadas.
Como alertei acima, o número de medalhas distribuídas a cada
ano aumento e isso pode influenciar na avaliação do desempenho de um país pelo
número de medalhas. Por exemplo, na minha base de dados foram distribuídas 120
medalhas em 1896, 532 em 1968 e 1080 agora em Tóquio. Com isso em mente repeti
os dois exercícios acima levando em conta a proporção no total de medalhas. A
figura abaixo mostra as medalhas de ouro ganhas pelo Brasil como proporção do
total de medalhas de ouro ganhas por todos os países. Por esse critério o
desempenho no Rio de Janeiro foi superior ao desempenho em Tóquio, o que não chega
a se rum surpresa. Também é possível perceber que o desempenho do Brasil no século
XXI, em média, foi melhor do que no século XX, até agora.
Considerando o total de medalhas do Brasil como proporção do
total de medalhas o desempenho em Tóquio foi melhor do que no Rio de Janeiro. Vale
registrar que, pelo critério de proporção das medalhas totais, o resultado das
Olimpíadas de 2000 não foi ruim, o que mostra que medidas importam. Assim como
as outras, a figura abaixo mostra que o desempenho dos atletas brasileiros vem
melhorando nas últimas Olimpíadas.
Conhecido o desempenho do Brasil é hora de procurar saber
qual país teve o melhor desempenho em cada uma das edições dos jogos.
Inicialmente será considerada a proporção de medalhas de ouro, na sequência
apresento a proporção de medalhas totais. Com dezoito vitórias, Estados Unidos aparece
como o maior vencedor de Olimpíadas, a antiga União Soviética ganhou seis, mais
a de 1992 com a Comunidade de Países Independentes que jogou como “Unified Team”,
a sigla é EUN. França ganhou duas, e China, Reino Unido e Alemanha cada um
ganhou uma. A hegemonia americana na Olimpíada de 1904 me chamou atenção,
pensei que tinha achada um erro grave na forma que arrumei os dados. Fui
conferir na Wikipedia e o resultado é esse mesmo, os Estados Unidos levaram 78
das 96 medalhas de ouro distribuídas nos jogos de St. Louis no estado do
Missouri. Não encontrei uma explicação para tamanha discrepância em relação a
outros jogos.
Considerando a número total de medalhas o resultado não muda
muito. Os americanos continuam na liderança, porém agora com dezesseis vitórias.
A União Soviética levou sete, mais a de 1992 com a Comunidade de Países
Independentes. A China sai da lista, mas entram a Grécia que teve o maior
número de medalhas nas Olimpíadas de 1896 em Atenas e a Suécia que, por esse critério,
ganhou na Olimpíadas de Estocolmo em 1912.
Economia dos esportes é um assunto interessante, mas não é algo
que eu domine ou sequer possa dizer que conheço. Para falar a verdade a razão
post, mais do que o espírito Olímpico que citei no começo, foi arrumar os dados
de medalhas por atletas em medalhas por países. Os esportes por equipe me deram
um certo trabalho, pois na base aparece uma medalha por cada membro da equipe.
Eu me diverti fazendo o post, espero que a leitura tenha sido interessante.
domingo, 1 de agosto de 2021
Em tempos normais a inflação aumentaria no segundo semestre, mas não estamos em tempos normais.
O padrão da inflação no Brasil é de queda até julho e subida a partir de agosto, esse padrão está associado a fatores não necessariamente relacionados à política econômica como safras e estações do ano, também pode ser afetado por reajustes salarias em algumas categorias e coisas do tipo. A figura abaixo mostra o padrão da inflação medida pelo IPCA no Brasil, são considerados três períodos: desde a estabilização (1996 a 2020), no século (2001 a 2020) e na década (2011 a 2020). A mudança significativa é que a subida em julho não está presente quando olhamos a década encerrada em 2020, não sei explicar por que o pico desapareceu, mas fica claro que a queda no primeiro semestre e subida no segundo semestre é um padrão presente em todos os períodos considerados.
A valer esse padrão a expectativa de aceleração da inflação
a partir de agosto, mas talvez esse não seja o caso. Choques ou decisões de políticas
econômicas podem fazer com a inflação de um determinado ano saia desse padrão.
O fato de o desenho da curva não ser consequência da política econômica não
quer dizer que a política econômica não possa mudar o desenho da curva.
Confuso, eu sei, mas imagine que existe um padrão natural que pode ser alterado
pela política econômica ou por choques que afetem a economia.
Um exemplo disso foi 2016, o ano do impeachment da Dilma.
Segundo o padrão das médias, naquele ano a inflação deveria ter começado uma
tendência de alta em agosto e chegado a dezembro mais alta do que em janeiro. Uma
olhada na figura abaixo é suficiente para ver que isso não aconteceu, para
facilitar o padrão das médias está na figura em azul escuro. Repare que não ocorreu
a tradicional subida do segundo semestre. A razão provável é que a mudança no
governo e política econômica levou a uma menor inflação esperada e isso jogou a
curva para baixo. A subida que começou em setembro foi bem modesta.
Outro ano que saiu do padrão foi 2020, o choque da pandemia
jogou a inflação para baixo já em abril e maio, nos dois meses a variação do
IPCA foi negativa, a subida começa a partir de maio e é bem mais forte que a do
padrão usual. Minha explicação para uma subida tão forte, mesmo com a pandemia
e as restrições à abertura do comércio, foi a condução da política monetária que
exagerou na redução dos juros e, mais importante, no tempo que segurou os juros
muito baixos. Aqui vale uma nota: o BC se comporta como a maioria dos bancos
centrais e usa juros como instrumento de política monetária, nesse sentido “aumentar
os juros” é o equivalente do “reduzir a oferta de moeda” que aparece nos livros
textos de macroeconomia. A figura abaixo mostra a inflação de 2020, mais uma
vez o padrão médio da década aparece em azul escuro para facilitar a
comparação.
O ano 2021 já começa como um ano fora de padrão. A segunda onda da pandemia mantém um alto nível de incerteza na economia e o BC começou uma reversão da política monetária com seguidos aumentos de 1% na meta para taxa Selic. A figura abaixo mostra a inflação em 2021 (até junho) e o padrão médio da década, a diferença é clara. Mesmo assim, tudo mais constante, acredito que o caminho natural seria uma elevação a partir de agosto ou, mais tardar, setembro, mas o “tudo mais” não está constante. A guinada na política monetária pode repetir 2016, sem a mudança de governo, e evitar, ou pelo menos suavizar muito, a elevação da inflação no segundo semestre. Para que isso aconteça é fundamental que sociedade acredite que o BC está disposto a dar um grande choque de juros se necessários for.
Olhando de fora do BC e do mercado acredito que o atual ciclo de elevação não passa a mensagem que o BC está disposto a fazer o que for preciso para segurar a inflação, mas pode ser porque sou chato. Como bom botafoguense sigo dizendo que vai dar errado e, lá no fundo, torcendo (e até acreditando) que pode dar certo.