domingo, 28 de agosto de 2016

Pedaladas, Bolsa Família e programas do BNDES

O assunto desta semana será o julgamento de Dilma e, como consequência, muito será dito a respeito das pedaladas. Já prevendo isso considerei válido deixar alguns registros aqui no blog sobre o assunto. Para entender o que são as pedaladas recomendo um post bem didático que foi publicado no excelente Mercado Popular (link aqui), grosso modo as pedaladas ocorrem quando o governo não repassa para bancos controlados pelo próprio governo recursos referentes a programas que também são do governo. Um exemplo fácil de entender são as pedaladas do Bolsa Família, o governo repassa o dinheiro para Caixa que paga aos beneficiários do programa. Caso o governo atrase o repasse a Caixa paga mesmo assim, imagine o caos que seria se a Caixa se recusasse a pagar, e, depois, o governo manda o dinheiro. A pedalada ocorre quando o governo demora para mandar o dinheiro para Caixa.

O primeiro ponto que será levantado pelos defensores da presidente afastada é que todos os presidentes pedalaram. É verdade, mas nenhum chegou nem perto de Dilma no tamanho das pedaladas, a figura abaixo mostra as pedaladas desde FHC (usei os dados disponíveis no BC, a página Análise Macro ensina direitinho como pegar os dados usando o R, link aqui), repare o crescimento absurdo das pedaladas com Dilma, o que na época de FHC mal passou de um bilhão e com Lula não chegou a oito bilhões com Dilma foi a quase sessenta bilhões! Não importa, se fez é crime e deveria ter sido punido, pode pensar o leitor. Eu não teria tanta pressa em chegar a tal conclusão, existem casos em que a punição pode ir de advertência a uma multa ou até mesmo prisão a depender do grau. Um caso que me vem sempre à mente é a lei que proíbe beber e dirigir, se alguém comer uma sobremesa com álcool e for parado em uma blitz não deve levar mais que uma bronca do guarda, quando muito vai ter de esperar uns quinze minutos e soprar de novo para seguir no rumo de casa; se o tal sujeito tiver bebido um pouco mais vai levar uma multa; se tiver bebido muito pode ser preso. Olhando a figura abaixo eu penso que a pedalada de FHC equivale a um bombom de licor, a de Lula a uma cervejinha e a de Dilma a duas garrafas de vodca. Sendo assim não faz o menor sentido dizer que os três fizeram a mesma coisa.




Outro argumento que sempre aparece é que Dilma fez as pedaladas por conta dos programas sociais. É um argumento cínico, equivale a um sujeito que gastou no bar o dinheiro das compras tentar pegar um empréstimo alegando que não tem como fazer as compras do mês. Porém, mesmo ignorando o cinismo do argumento, a tese não se sustenta. A figura abaixo mostra para onde foi o dinheiro das pedaladas. Repare que a Caixa, que é responsável pelo Bolsa Família, foi onde teve menos pedaladas no governo Dilma, já no Banco do Brasil, responsável pelo Plano Safra, as pedaladas só foram maiores que as feitas com a Caixa. O grosso das pedaladas foram para o FGTS e o Finame. O FGTS em si é uma aberração, um programa de poupança forçada onde o governo toma um percentual do salário dos trabalhadores e remunera a uma taxa de 3% mais a TR, hoje a remuneração deve estar em torno de 5% ao ano. Que o governo tenha um dinheiro barato assim e ainda atrase repasses é um escândalo. O outro grande vilão das pedaladas é o Finame, um programa do BNDES destinado ao financiamento de máquinas e equipamentos (link aqui). Sozinho, o Finame corresponde a quase um terço das pedaladas, sozinhas, as pedaladas do Finame são mais que o dobro dos maiores valores pedalados por Lula e FHC somados.




Os dados do BC dividem o Finame em duas categorias: PSI e Outros, a figura abaixo mostra estas duas categorias mais o Bolsa Família. A comparação torna ainda mais sem sentido a tese que o governo pedalou para ajudar os pobres, tirando um pequeno período de 2014 as pedaladas do Bolsa Família ficam invisíveis da figura, por outro lado vemos que o PSI sozinho chegou a ser responsável por mais de R$ 20 bilhões em pedaladas. O que é o PSI? É o Programa de Sustentação do Investimento (link aqui), um programa onde a guisa de estimular investimento o BNDES fazia empréstimo para empresários amigos com juros de pai para filho (para saber mais a respeito do BNDES e investimento no Brasil ver aqui e aqui). Os números são claros: perto das pedaladas que foram para os muito ricos via PSI as pedaladas que foram para os muito pobres via Bolsa Família praticamente somem.



Um último ponto diz respeito à gravidade das pedaladas. A princípio pode parecer algo de pouca gravidade, afinal, até onde sabemos hoje, o dinheiro não foi para o bolso da presidente. Não vou esticar muito o assunto porque é um tema complexo e não quero perder o foco do post, mas digo que considero as pedaladas um crime gravíssimo, um dos mais graves que um presidente pode cometer na condição de chefe do executivo. Para entender meu ponto considere que crimes como assassinatos, roubos, sequestros e outras agressões do tipo que são feitas às leis são punidas mesmo em tiranias, ou seja punir crimes assim não é uma característica exclusiva do Império da Lei. Sendo assim em parece lícito afirmar que crimes assim agridem a lei, mas não necessariamente agridem o Império da Lei. O que uma tirania não pune são os abusos dos detentores do poder. Ao usar de artifícios contábeis para gastar mais do que o autorizado pelo Congresso e pela lei orçamentária a presidente Dilma abusou do poder que detinha como chefe do executivo, repare que falei “...gastar mais do que o autorizado pelo Congresso e pela lei...” e não apenas “gastar mais”. Não punir esse tipo de abuso implica em colocar o governante acima da lei e colocar o chefe do executivo acima do Congresso, ou seja, caso a presidente seja considerada culpada, não apenas Dilma terá agredido a lei como a não punição de Dilma será uma agressão ao Império da Lei.


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Qual é a taxa de investimento razoável para o Brasil?

Não sei dizer, aliás considero que mais importante que olhar a taxa de investimento é olhar onde está sendo feito o investimento. Se for para aumentar a taxa de investimento colocando dinheiro em elefantes brancos, obras que não ficam prontas, empresas que não vivem sem subsídios e coisas do tipo é melhor usar o dinheiro para consumo. Enfim, vez por outra aparece um pessoal querendo levar a taxa de investimento para 25% do PIB, antes de se animar com esta proposta olhe o gráfico abaixo feito com dados do IBGE obtidos no Ipeadata (link aqui).


De 1901 a 2013 nossa taxa de investimento só ficou acima de 25% em 1989, provavelmente por conta de distorções nas medidas causadas pela hiperinflação da época. Repare também que no período que vai do começo do Estado Novo até o final da década de 1970 a taxa de investimento mostrou uma tendência de crescimento, ao contrário do que poderíamos imaginar ao final do período no lugar de uma época de ouro tivemos uma década perdida e uma hiperinflação. Parece que andamos investindo errado...

domingo, 14 de agosto de 2016

Precisamos falar sobre poupança...

Qualquer comparação entre os países da Ásia e os países da América Latina tem que levar em consideração a diferença entre a taxa de poupança dos países das duas regiões. Sem poupança um país é obrigado a recorrer ao mercado de capitais internacional para financiar o próprio investimento. Alguns economistas acreditam que recorrer a poupança externa é um problema, outros acreditam que não, mas poucos vão discordar que um país que necessita de poupança externa perde vários graus de liberdade na condução da política econômica, inclusive a capacidade de operar com câmbio como tanto pedem os economistas novo-desenvolvimentistas e um monte de empresários. A lógica foi explicada por Samuel Pessôa em recente artigo na Folha de São Paulo (link aqui):

“O aumento da taxa de investimento, com uma taxa de poupança doméstica estável, gerou a contínua piora das contas externas –pela necessária absorção de poupança internacional– e a consequente valorização do câmbio. Ou seja, caso não houvesse a valorização do câmbio e a maior absorção de poupança externa, a inflação teria sido maior.
Houve naquele período fortíssimo processo de acumulação de reservas, que contribuiu para moderar o processo de valorização. No entanto, no Brasil a acumulação de reservas não é muito efetiva para impedir um processo de valorização do câmbio, pois, devido à baixa poupança do setor público, o Banco Central tem que emitir dívida doméstica para recomprar os reais que emitiu para adquirir as reservas. Nos países asiáticos, que praticaram políticas próximas das defendidas pelos novos-desenvolvimentistas, a elevada taxa de poupança permite que a acumulação de reservas não pressione a liquidez e a inflação domésticas.
Chegamos sempre ao mesmo ponto: controlar o câmbio sem que o setor público tenha posição fiscal extremamente sólida só redunda em inflação. Por outro lado, se houver forte aumento da poupança pública, o câmbio real desvalorizar-se-á naturalmente.”

A diferença entre a taxa de poupança dos países emergentes da Ásia (não inclui a Coréia do Sul) e dos países da América Latina e Caribe é ilustrada na figura abaixo. Nela estão as médias da taxa de poupança dos países dos dois grupos entre 1980 e 2015, os dados são do FMI. Repare os países da Ásia poupam mais do que os da América Latina em todos os anos analisados. Para que o leitor perceba como o problema nos afeta a figura seguinte mostra a taxa de poupança no Brasil e na China entre 1980 e 2015. Aqui se aplica a máxima de “quem poupa tem”, inclusive tem condições de escolher entre um conjunto mais amplo de políticas econômicas.




A diferença entre a taxa de poupança dos países emergentes da Ásia e dos países da América Latina e Caribe também aparece quando levamos em conta o PIB per capita de cada país. A figura abaixo mostra a relação entre taxa de poupança e PIB per capita para todos os países em todos os anos da amostra. É fácil perceber que os pontos laranjas (países da Ásia) estão acima dos pontos verdes (países da América Latina e Caribe), mais fácil ainda se olharmos para as retas, elas sugerem que para um dado valor do PIB per capita a taxa de poupança nos países emergentes da Ásia é maior que nos países de nuestra América.




Se dividirmos a amostra por grupos de PIB per capita é possível que, dado um valor para o PIB per capita, a taxa de poupança nos países da Ásia é maior que a dos países da América Latina é maior em todos os grupos com exceção de um pequeno grupo de países muito pobres, ademais, só olhando a figura e sem fazer testes, é possível que a exceção seja explicada pelos pontos verdes que estão acima da nuvem de pontos verdes na figura do canto superior esquerdo.


Se é fácil mostrar que os países da América Latina e Caribe poupam menos que os países da Ásia, não é tão fácil explicar as razões da diferença. Uma possível explicação, que leva mais em conta a experiência brasileira, mas que pode ser adaptada para outros países da região, está ligada a tentativa de construir um estado de bem-estar social por estas bandas. Grosso modo podemos dizer que escolhemos entre comprar seguros e poupar. Se o seu carro está no seguro não faz sentido ter uma poupança para o caso de o carro ser roubado ou sofrer um acidente. Da mesma forma, se você tem um plano de saúde você não tem muitas razões para ter uma poupança caso tenha de fazer um tratamento em um hospital. De certa forma o estado de bem-estar social é uma forma de garantir seguros para todos os indivíduos de uma sociedade e, sendo assim, de reduzir a poupança da sociedade. Fique claro que tais seguros não são gratuitos, longe disso, assim como você paga pelo seguro do seu carro e pelo seu plano de saúde você paga pelo sistema de seguridade social, tal pagamento é feito por meio de impostos.

Se um indivíduo paga, mesmo que indiretamente por meio de impostos, para ter acesso a um sistema universal de saúde ou para garantir que o filho tenha escola mesmo que ele fique sem renda é razoável que esse indivíduo não faça poupança para tais situações. Não vou entrar aqui na questão da justiça de tais seguros, quero apenas registrar que tais seguros existem e que, existindo, afetam os incentivos existentes na sociedade. Também não estou apresentando uma explicação científica para a questão, é verdade que existe literatura a respeito de políticas sociais como forma de seguros, uma literatura que, a despeito do desincentivo à poupança, enxerga potenciais ganhos de bem -estar em políticas distributivas financiadas com impostos que causam distorções (para um guia a respeito desta literatura ver aqui), porém, para estabelecer a relação entre esta literatura e diferencias de poupança entre países da América Latina e emergentes da Ásia seria necessário bem mais que um post em um blog. O que estou fazendo é apenas levantar questões que podem servir de base para explicar nossa baixa taxa de poupança.

Explicações acadêmicas à parte não é difícil intuir que a garantias de direitos reduzem incentivos à poupança, até o Homer Simpson sentiu necessidade de poupar para que Lisa pudesse ir para uma boa Universidade. Em lugar onde as melhores universidades são “públicas, gratuitas e de qualidade” fica bem mais difícil criticar Lisa por apostar o dinheiro jogando poker na internet (link aqui)...




sábado, 13 de agosto de 2016

Somos Todos UnB!

A UnB mais uma vez terá de escolher quem será o reitor pelos próximos quatro anos, assim como na última eleição eu decidi apoiar a candidatura do Prof. Ivan Camargo e da Profa. Sônia Báo (link aqui). Embora a realidade da UnB tenha mudado muito de 2012 para cá as razões que me levaram a manter o apoio a atual administração são basicamente as mesmas das daquela época: o professor Ivan tem a melhor proposta de gestão para UnB, deixa claro que a busca da excelência é seu principal objetivo e, talvez mais importante, está cercado das pessoas mais habilitadas para administrar a UnB de forma eficiente e buscando a almejada excelência acadêmica. Antes que alguém se precipite e tente insinuar que meus verdadeiros motivos estão ligados à disputa política nacional ou a minhas ideias liberais quero deixar claro, para o bem ou para o mal, que não é o caso.

No grupo que apoia o professor Ivan existem pessoas de várias linhas de pensamento, até defensores dos governos petistas, e dificilmente alguém encontraria um viés liberal no grupo, nem mesmo a turma que acredita que os tucanos são liberais. O que une o grupo é o entendimento que a gestão da UnB tem de ter a excelência acadêmica como objetivo, a eficiência e o cuidado com os recursos públicos como princípio e não pode ficar refém de disputas políticas partidárias. É claro que eu gostaria de ver uma alternativa liberal para a reitoria da UnB, confesso até que às vezes penso em ser candidato (sem pretensões de ganhar, é claro) para poder colocar algumas ideias novas no debate, mas a ideia sai da minha cabeça quando penso que isso poderia atrapalhar a manutenção de uma gestão que eu acredito ser a melhor dentro das opções realmente possíveis.


Deixemos de coisa e cuidemos do assunto. Quando digo que a atual gestão apresentou resultados que mais que justificam a manutenção do atual reitor falo com base em números e ações da gestão. Na lista de ações destaco a reativação do Conselho Diretor da UnB (para ser preciso não é bem da UnB, mas não vale à pena entrar nos detalhes, mais informações aqui), um conselho formado majoritariamente por pessoas de fora a universidade e que tem como missão, entre outras coisas, cuidar do patrimônio da UnB e acompanhar a gestão do reitor. Outra ação que merece destaque foi o enfretamento de grupos que insistem em ocupar espaços da universidade como forma de impor determinadas pautas, um exemplo de reação foi quando da ocupação da reitoria em 2014 (link aqui), a partir desta invasão foram estabelecidos protocolos que incluem a possibilidade de pedido de reintegração de posse, medida que de fato foi usada em mais de uma ocasião. Por fim, registro as várias ações em busca de colocar toda a universidade na legalidade. Como diretor sofri e reclamei do fim dos contratos de trabalho irregulares, como cidadão é impossível não aplaudir as difíceis decisões da reitoria neste sentido.

A melhor maneira de ver como essas e outras ações da reitoria se refletira na UnB é analisando os números. Por demanda do Conselho Diretor a reitoria teve de apresentar um relatório de ilustrado de gestão referente ao período 2012 a 2015 (link aqui). Uma peça que, ao contrário dos relatórios enviados ao TCU, é simples o suficiente para que cidadãos sem doutorado em contabilidade e/ou anos de experiência com finanças públicas possa ter uma ideia do desempenho da UnB. Se o amigo não estava convencido da importância de reativar o Conselho Diretor espero que o conhecimento desse tipo de demanda o ajude a se convencer. Infelizmente não existe relatório semelhante para a gestão anterior e buscar as informações nos relatórios oficias demandaria muito tempo (se alguém se animar os relatórios estão aqui), sendo assim não será possível comparar a tendência da gestão atual com a da gestão anterior, como membro do Conselho Administrativo da UnB sei que algumas tendências mudaram, mas não tenho números para fazer uma análise adequada nesse post.

Comecemos pelos indicadores de resultado. Na avaliação do MEC a UnB consegui a nota máxima pela primeira vez. Caso não goste dos critérios do MEC, o amigo pode se interessar pelo QS World University Rankings elaborado pela Quacquarelli Symonds, uma consultoria britânica especializada em educação. O ranking leva em conta diversas dimensões (link aqui) e aparentemente é bastante difundido pelo mundo. A figura abaixo mostra a evolução da UnB nesse ranking, saímos da 25º para 10º melhor da América Latina, atualmente estamos na nona posição.





Outro indicador de qualidade é a produção científica, entre 2012 e 2015 as publicações em periódicos internacionais foram de 1.854 artigos para 5.039 artigos, se olharmos artigos por professor a média foi de 0,64 para 1,36, isso mesmo, a publicação internacional por professor na UnB mais que dobrou em quatro anos. A figura abaixo ilustra a evolução da produção docente. As cores representam o ano e o número de professores, as alturas das barras a produção por docente e o número em cada barra é o total de artigos publicados em periódicos internacionais no ano em questão. É fácil ver que o aumento da produção foi bem maior que o aumento do número de professores.





Outros indicadores de qualidade são o aumento da nota média dos programas de pós-graduação na avaliação da CAPES, foi de 4,34 para 4,46, e o aumento de cursos com cinco estrelas no Guia do Estudante da Editora Abril. Não houve melhora no ranking da Folha de São Paulo, de fato a UnB caiu uma posição nesse ranking indo da 8ª para 9ª posição. Considerando apenas os cursos da FACE precisamos trabalhar a percepção do mercado em relação a nossos alunos, é difícil porque o critério e elaborado a partir de entrevistas com recrutadores de São Paulo que não conhecem bem nossos alunos, difícil, mas não impossível. Considerando apenas ensino a UnB está na 4ª posição no ranking da Folha. Um último indicador de resultado, que é apresentado na figura abaixo, é aumento da proporção de alunos que se formam em relação ao total de alunos matriculados.





Alguém poderia imaginar que a melhora nos resultados decorreu de uma redução no tamanho da universidade, se fosse o caso seria razoável argumentar que a melhora decorre de uma seleção mais restritiva e, portanto, teria um potencial de excluir potenciais alunos. Não foi isso que aconteceu, entre 2012 e 2015 aumentou o número de aluno na graduação, no mestrado e no doutorado. A figura abaixo ilustra esse aumento.





Além de crescer em número de aluno a UnB cresceu em número de servidores. O número de professores foi de 2.880 para 3.029 e o de técnicos administrativos foi de 2.770 para 3.111, ou seja, além de ser uma universidade melhor a UnB também é uma universidade maior. A figura abaixo mostra o crescimento no número de professores e técnicos administrativos.





As ações sociais da UnB também aumentaram. A figura abaixo mostra a evolução do número de alunos que recebem bolsa permanência, um programa destinado a estudantes com renda familiar per capita igual ou menor a um salário mínimo (link aqui). O total de alunos assistidos subiu de 2.604 para 4.816, para ser justo é preciso dizer que o programa é financiado pelo governo federal, o mérito da UnB estaria em implementar o programa para nossos alunos.





Um indicador particularmente impressionante diz respeito ao Restaurante Universitário (RU), a figura abaixo mostra o número de refeições servidas no RU do campus Darcy Ribeiro, o maior campus da UnB. Repare que o número de refeições servidas quase triplicou. Se o aumento nos números da assistência estudantil deve ser creditado em sua maior parte as ações do governo federal, o aumento nas refeições servidas no RU decorre quase que exclusivamente de ações dos gestores da UnB. A mudança do modelo de administração direta por um modelo de concessão foi a chave para a transformação do RU.

Além do aumento do número de refeições ouço relatos corriqueiros de alunos afirmando que a qualidade da refeição também melhorou. Não bastasse o aumento da quantidade e da qualidade o RU também ficou regular, antigamente o RU passava meses fechado por fatores como greve de técnicos administrativos ou problemas técnicos. Com o modelo de concessão isso mudou, manter a regularidade é do melhor interesse da empresa que administra o RU. Também foi na a atual gestão que o RU chegou nos campi avançados no Gama, Ceilândia e Planaltina e na Fazenda Água Limpa. Aqui é preciso fazer um registro: a decana responsável pelo Decanato de Assuntos Comunitários pela maior parte do período, profa. Denise Bomtempo, também está na disputa pela reitoria e tem todo direito de reivindicar méritos pelo sucesso de políticas que ela esteve à frente. Não sei dizer porque a profa. Denise Bomtempo optou por candidatura própria em vez de seguir com a atual gestão, seja lá qual for a razão eu respeito, mas espero que em breve possamos estar novamente no mesmo lado em sentido estrito, porque em sentido amplo sempre estivemos.





A esta altura o leitor deve estar pensando que tudo isso foi possível por conta de um significativo aumento do orçamento da UnB. Não foi o caso, o orçamento de fato aumentou, foi de R$ 1.67 bilhão em 2012 para R$ 1.71 bilhão em 2015, porém o aumento foi todo na conta de pessoal. A conta de custeio caiu de R$ 589 milhões para R$ 428 milhões e a de investimento caiu de R$ 103 milhões para R$ 97 milhões, as quedas decorreram de corte de gastos promovidos pelo governo federal. A figura abaixo mostra o orçamento da UnB entre 2012 e 2015.





O ajuste feito pelos gestores da UnB fica claro quando olhamos o custo por aluno. No relatório de gestão aparecem três definições de custo por aluno, na figura abaixo é utilizada a do TCU incluindo o Hospital Universitário (HUB). Nas três definições o custo médio por aluno cai entre 2012 e 2015. Na metodologia da UnB a queda foi de 35%, na definição do TCU com o HUB a queda foi de 19% e na definição do TCU que não inclui o HUB a queda também foi de 19%.





Aumentar a qualidade ao mesmo tempo que reduz custo não é uma tarefa fácil, muito menos em uma universidade federal onde o gestor fica exposto a todo tipo de pressão. Pude acompanhar parte dos esforços da administração para conseguir esse feito, boa parte foi trabalho de formiguinha: revisão de contrato por contrato, contas examinadas com lupa, mudanças de conceitos na contratação de serviços e coisas do tipo. Um exemplo que ilustra o esforço da administração da UnB é a conta de telefone. A figura abaixo mostra a despesa com telecomunicações entre 2012 e 2015, repare na queda gigantesca.  É difícil acreditar que tamanha queda foi obtida basicamente com revisão de contratos e desligamento de linhas que não eram usadas. Alguém pode dizer que uma redução de R$ 3.68 milhões é pouco perto do tamanho do orçamento da UnB. É um jeito errado de pensar, como já falei em outros lugares é preciso que o setor público troque a lógica do “dá bilhão?” pela lógica do “é necessário?”. As linhas não utilizadas claramente não eram necessárias e os R$ 3,68 milhões podem não impressionar quem só se impressiona com bilhões, mas podem ser úteis em outras áreas da UnB.





A última figura do post mostra a quantidade de recursos que a UnB conseguiu com captação própria nas alturas das barras e o quanto essa capitação correspondia do gasto em custeio a cada ano como o número em cada barra. A queda no valor total é lamentável, mas pode ser explicada pela crise que vivemos, sou testemunha de como ficou mais difícil encontrar parceiros para a UnB nos últimos anos. Porém, parte da queda pode estar associada a variáveis que podemos controlar, é preciso focar em redução de burocracia e aumentar a segurança jurídica de quem faz captação. É preciso aparar as arestas de forma a deixar claro o que pode e o que não pode ser feito e qual a participação da UnB, das unidades, dos departamentos e de quem fez a captação na divisão dos recursos captados. Tudo isso vai facilitar, dar mais transparência e, creio eu, aumentar o volume de recursos captados. Sendo assim lanço o desafio que daqui a quatro anos estejamos captando 60% de nosso gasto em custeio.





Cada membro da comunidade da UnB tem suas próprias esperanças e seus próprios desafios a lançar para todos nós, é bom que seja assim. Alguns desafios serão vencidos e outros não, é natural, o que não podemos é nos deixar tomar por nossas frustrações e colocar uma venda diante das várias e inegáveis conquistas da atual administração da UnB. Quem lembra de como estávamos em 2012 e sabe como estamos hoje não pode negar os avanços. É possível especular se com outra administração estaríamos ainda melhor? Claro que sim, sempre é, mas não vejo indícios que seja o caso, pelo contrário, temo que uma mudança na administração possa reverter muito dos ganhos que tivemos nos últimos quatro anos. Reduzir custos e aumentar qualidade sem restringir os serviços é tarefa para poucos, foi exatamente isso que o prof. Ivan Camargo, a Profa. Sônia Báo e a equipe que tocou a UnB nos últimos anos fizeram. Está na hora de também fazermos nossa parte e nos mobilizarmos para garantir a manutenção da administração da UnB, um mês de esforço em troca da consciência tranquila por saber que ajudamos a manter a UnB no caminho certo. Mais do que nunca é o momento de dizer para todo mundo ouvir: Somos Todos Unb!




domingo, 7 de agosto de 2016

Taxa de Investimento e PIB per capita nos países Emergentes da Ásia e na América Latina e Caribe

Algumas vezes caio na tentação de comparar o desempenho econômico dos países da América Latina com o dos países da Ásia, esse post é uma destas vezes. Naturalmente existem muitas diferenças entre os dois grupos de países que estão além das características econômicas, isso deve ser levado em conta quando da leitura desse post, porém tais diferenças não tornam as comparações irrelevantes, longe disso. Acima de quaisquer diferenças os habitantes de todos os países são muito parecidos uns com os outros, somos todos humanos, de forma que as diferenças são explicadas muito mais por incentivos e restrições, inclusive naturais, do que por uma diferença intrínseca entre cidadãos nascidos nos diversos países. Se você não gostou desse princípio, que todos somos muito parecidos, tente pensar negando esse princípio e veja onde você pode chegar.

Hoje vou comparar taxas de investimento, nas próximas semanas farei outras comparações. A taxa de investimento é uma variável fundamental para explicar o crescimento de uma economia. Investimento significa mais máquinas e mais capacidade de produção, investimento significa novas máquinas com novas tecnologias incorporadas (na verdade, novas máquinas não são a única forma de incorporar tecnologias no processo de produção, mas são uma forma importante de fazer isso), e, para a turma da demanda, investimento significa demanda efetiva. Não importa por onde você olhe, investimento é importante para explicar crescimento e PIB per capita.

A figura abaixo mostra a relação entre taxa de investimento e PIB per capita nos países Emergentes da Ásia e da América Latina e Caribe, a classificação do FMI e usei todos os países listados pelo FMI (link aqui) que estavam na Penn World Table (PWT), excluí o Brunei, que por ter um PIB per capita muito alto estava distorcendo os gráficos, também limitei a análise ao período entre 1995 e 2014.




Repare que os países do grupo de emergentes da Ásia, pontos laranjas, são mais pobres e possuem taxas de investimento maiores que os países da América Latina, pontos verdes. Se você não viu isso repare que os pontos laranjas estão mais à esquerda (mais pobres) e mais altos (taxas de investimento maiores) do que os pontos verdes. Em particular, repare a concentração de pontos verdes abaixo da linha e a concentração de pontos laranjas abaixo da linha. A figura abaixo traça uma reta para os países emergentes da Ásia e outra para os países da América Latina, repare que a reta laranja (emergentes da Ásia) fica sempre acima da reta verde (América Latina e Caribe), o que pode ser interpretado como para o mesmo PIB per capita os países emergentes da Ásia investem mais que os países da América Latina e Caribe.




O recado é claro: PIB per capita baixo não é desculpa para a baixa taxa de investimento da América Latina, se não investimos mais é porque não queremos e não porque não podemos. A figura abaixo mostra como a relação mudou entre 1995 e 2014, note quem em 1995 apenas três países, todos da Ásia, investiam mais de 40% do PIB. O Butão investia 43% do PIB com um PIB per capita de $3.073, a Malásia investia 50% do PIB com um PIB per capita de $11.359 e a Tailândia investia 46% do PIB com um PIB per capita de $8.116, naquele mesmo 1995 o PIB per capita do Brasil era $8.462 e investíamos apenas 17% do PIB.




Por fim é útil olhar para a relação entre PIB per capita e taxa de investimento por grupos de renda, a figura acima sugere que a medida que os países emergentes da Ásia ficaram mais ricos a relação entre PIB per capita e taxa de investimento nestes países ficou mais próxima da relação observada na América Latina. A figura abaixo mostra a relação entre PIB per capita e taxa de investimento por grupo de PIB, no canto superior esquerdo estão as combinações de anos e países com PIB per capita entre $1,1 mil e $4,28 mil, no canto superior direito está o grupo entre $4,28 mil e $7,52 mil, no canto inferior esquerdo está o grupo entre $7,52 mil e $12,3 mil e no canto inferior direito está o grupo entre $12,3 mil e 35,4 mil. Repare que apenas no grupo dos países mais ricos (canto inferior esquerdo) as linhas se cruzam, em todos os outros grupos a linha laranja (emergentes da Ásia) está acima da linha verde (América Latina e Caribe). Repare também que nos países com maiores PIB per capita as linhas apresentam inclinação negativa, isso dá muito pano para manga, mas não vou tratar do assunto aqui, de fato, nem mesmo estou checando se a inclinação é significativa.




A taxa de investimento sozinha não explica o desempenho da economia de um país, além de vários outros fatores como capital humano, instituições ou produtividade é preciso levar em conta que a taxa de investimento mede o quanto está sendo investido, mas não mede no que está sendo investido. Se um determinado país sair investindo na construção de monumentos que não afetam ou afetam muito pouco a produção (alguém falou estádio da Copa?), ou em obras que não terminam nunca a taxa de investimento vai aumentar, mas não há porque esperar um aumento do PIB per capita. Porém, mesmo não explicando, a taxa de investimento maior na Ásia é um dos fatores que devem ser considerados para entender porque a média dos PIB per capita dos países emergentes da Ásia cresceu 132% entre 1995 e 2014 e mesma média para América Latina cresceu apenas 73%.