O assunto desta semana será o julgamento de Dilma e, como
consequência, muito será dito a respeito das pedaladas. Já prevendo isso
considerei válido deixar alguns registros aqui no blog sobre o assunto. Para
entender o que são as pedaladas recomendo um post bem didático que foi
publicado no excelente Mercado Popular (link aqui), grosso modo as pedaladas
ocorrem quando o governo não repassa para bancos controlados pelo próprio
governo recursos referentes a programas que também são do governo. Um exemplo
fácil de entender são as pedaladas do Bolsa Família, o governo repassa o
dinheiro para Caixa que paga aos beneficiários do programa. Caso o governo
atrase o repasse a Caixa paga mesmo assim, imagine o caos que seria se a Caixa
se recusasse a pagar, e, depois, o governo manda o dinheiro. A pedalada ocorre
quando o governo demora para mandar o dinheiro para Caixa.
O primeiro ponto que será levantado pelos defensores da
presidente afastada é que todos os presidentes pedalaram. É verdade, mas nenhum
chegou nem perto de Dilma no tamanho das pedaladas, a figura abaixo mostra as
pedaladas desde FHC (usei os dados disponíveis no BC, a página Análise Macro
ensina direitinho como pegar os dados usando o R, link aqui), repare o crescimento
absurdo das pedaladas com Dilma, o que na época de FHC mal passou de um bilhão
e com Lula não chegou a oito bilhões com Dilma foi a quase sessenta bilhões!
Não importa, se fez é crime e deveria ter sido punido, pode pensar o leitor. Eu
não teria tanta pressa em chegar a tal conclusão, existem casos em que a
punição pode ir de advertência a uma multa ou até mesmo prisão a depender do
grau. Um caso que me vem sempre à mente é a lei que proíbe beber e dirigir, se alguém
comer uma sobremesa com álcool e for parado em uma blitz não deve levar mais
que uma bronca do guarda, quando muito vai ter de esperar uns quinze minutos e
soprar de novo para seguir no rumo de casa; se o tal sujeito tiver bebido um
pouco mais vai levar uma multa; se tiver bebido muito pode ser preso. Olhando a
figura abaixo eu penso que a pedalada de FHC equivale a um bombom de licor, a
de Lula a uma cervejinha e a de Dilma a duas garrafas de vodca. Sendo assim não
faz o menor sentido dizer que os três fizeram a mesma coisa.
Outro argumento que sempre aparece é que Dilma fez as
pedaladas por conta dos programas sociais. É um argumento cínico, equivale a um
sujeito que gastou no bar o dinheiro das compras tentar pegar um empréstimo
alegando que não tem como fazer as compras do mês. Porém, mesmo ignorando o
cinismo do argumento, a tese não se sustenta. A figura abaixo mostra para onde foi
o dinheiro das pedaladas. Repare que a Caixa, que é responsável pelo Bolsa
Família, foi onde teve menos pedaladas no governo Dilma, já no Banco do Brasil,
responsável pelo Plano Safra, as pedaladas só foram maiores que as feitas com a
Caixa. O grosso das pedaladas foram para o FGTS e o Finame. O FGTS em si é uma
aberração, um programa de poupança forçada onde o governo toma um percentual do
salário dos trabalhadores e remunera a uma taxa de 3% mais a TR, hoje a
remuneração deve estar em torno de 5% ao ano. Que o governo tenha um dinheiro barato
assim e ainda atrase repasses é um escândalo. O outro grande vilão das
pedaladas é o Finame, um programa do BNDES destinado ao financiamento de
máquinas e equipamentos (link aqui). Sozinho, o Finame corresponde a quase um
terço das pedaladas, sozinhas, as pedaladas do Finame são mais que o dobro dos
maiores valores pedalados por Lula e FHC somados.
Os dados do BC dividem o Finame em duas categorias: PSI e
Outros, a figura abaixo mostra estas duas categorias mais o Bolsa Família. A
comparação torna ainda mais sem sentido a tese que o governo pedalou para ajudar
os pobres, tirando um pequeno período de 2014 as pedaladas do Bolsa Família
ficam invisíveis da figura, por outro lado vemos que o PSI sozinho chegou a ser
responsável por mais de R$ 20 bilhões em pedaladas. O que é o PSI? É o Programa
de Sustentação do Investimento (link aqui), um programa onde a guisa de estimular investimento
o BNDES fazia empréstimo para empresários amigos com juros de pai para filho
(para saber mais a respeito do BNDES e investimento no Brasil ver aqui e aqui).
Os números são claros: perto das pedaladas que foram para os muito ricos via
PSI as pedaladas que foram para os muito pobres via Bolsa Família praticamente somem.
Um último ponto diz respeito à gravidade das pedaladas. A
princípio pode parecer algo de pouca gravidade, afinal, até onde sabemos hoje,
o dinheiro não foi para o bolso da presidente. Não vou esticar muito o assunto
porque é um tema complexo e não quero perder o foco do post, mas digo que
considero as pedaladas um crime gravíssimo, um dos mais graves que um
presidente pode cometer na condição de chefe do executivo. Para entender meu
ponto considere que crimes como assassinatos, roubos, sequestros e outras
agressões do tipo que são feitas às leis são punidas mesmo em tiranias, ou seja
punir crimes assim não é uma característica exclusiva do Império da Lei. Sendo
assim em parece lícito afirmar que crimes assim agridem a lei, mas não necessariamente
agridem o Império da Lei. O que uma tirania não pune são os abusos dos
detentores do poder. Ao usar de artifícios contábeis para gastar mais do que o autorizado
pelo Congresso e pela lei orçamentária a presidente Dilma abusou do poder que
detinha como chefe do executivo, repare que falei “...gastar mais do que o autorizado
pelo Congresso e pela lei...” e não apenas “gastar mais”. Não punir esse tipo
de abuso implica em colocar o governante acima da lei e colocar o chefe do
executivo acima do Congresso, ou seja, caso a presidente seja considerada
culpada, não apenas Dilma terá agredido a lei como a não punição de Dilma será
uma agressão ao Império da Lei.
É preciso imensa atenção com o PIB atual e as perspectivas de curto prazo, com a SELIC em 14,25% da até pra pensar em vender um rim metade do fígado a alma pro capeta casa e investir na SELIC já que as únicas certezas que temos nesta vida é a morte e as dividas do governo brasileiro! Pois quanto mais endividado o País estiver mais títulos públicos vão ser emitidos para venda para gerar recurso pro governo ou melhor pro governo pagar suas contas, e com a alta da taxa SELIC atual quem não vai querer quebrar seus cofrinhos de porquinho rosa do Banestado e investir os tão suados cruzeiros e cruzados que tem mais algarismos do que valor nos tais títulos públicos?
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