Hoje o IBGE divulgou que a economia brasileira cresceu 2,3%
em 2013. O número é um pouco maior do que eu esperava, não que eu seja particularmente
pessimista, de acordo com reportagem do Estadão as estimativas do mercado variavam
entre 2,07% e 2,3% com mediana de 2,2%. Isto significa que metade das
estimativas estava entre 2,07% e 2,2% e a outra metade entre 2,2% e 2,3%. Quando
me perguntam qual a estimativa de crescimento costumo responder a mediana do
mercado, no caso seria 2,2%, faço isto porque não trabalho no dia e dia do
mercado e, portanto, não tenho estimativas precisas. Mas se alguém insistir em
saber minha opinião, eu respondo que a taxa de crescimento deve ficar entre
1,5% e 2%. É um intervalo largo, eu sei, mas estes valores não estão
fundamentados em números constantemente atualizados nem em modelos econométricos
sofisticados.
Faço meu cálculo a partir da taxa de crescimento da
produtividade e da participação da renda do trabalho na renda total. Depois
tempero com minhas observações da economia, se eu vejo espaço para crescimento
via emprego e perceber que o governo está disposto a fazer isto eu coloco um
pouco para cima. Se eu vejo o governo fazendo muita bobagem eu coloco mais para
baixo. Desta forma meu número estaria mais para baixo do que para cima, mais
perto de 1,5% do que de 2%. O ocorre que o número ficou maior que a mediana do
mercado, os tais 2,2%, e maior que o limite superior do meu intervalo, que é de
2%. Onde foi que eu errei?
Para que eu entenda onde errei precisei olhar nos números,
claro que ainda vou olhar com mais cuidado, mas o que vi já ajuda a explicar.
Ocorre que para explicar onde errei preciso antes falar um pouco sobre como o
PIB é calculado. Vou fixar na ótica da produção, no final falo rapidamente sobre
a despesa, especificamente sobre o investimento. Pela ótica da produção o PIB é
calculado como a soma do valor em reais do que foi produzido para uso final nos
diversos setores da economia. Para fins de divulgação ampla o IBGE trata apenas
de três setores: agropecuária, indústria e serviço. A soma destes valores é o
que o IBGE chama de valor adicionado a preços básicos, para chegar ao PIB a
preço de mercado, este que sai no jornal, são somados os impostos e descontados
os subsídios. A história é mais complicada e rica em detalhes, mas não quero
transformar meu post em um curso de Contas Nacionais, para oque segue estas
definições são suficientes.
O valor adicionado a preços básicos, ou seja, o que foi
efetivamente produzido cresceu 2,1%, bem mais perto do meu intervalo, o
crescimento de 3,3% nos impostos líquidos foi quem levou a taxa de crescimento
para 2,3%. Quisesse eu usar uma versão refinada da estratégia do pombo
enxadrista parava aqui dizendo que errei por 0,1% e sairia para o Carnaval,
afinal minha estratégia de previsão não trata de aumento do PIB via aumento de
impostos. Mas não farei isto, como disse anteriormente, para este ano eu esperava
um crescimento abaixo de 2%. Logo não foram os impostos os culpados pelo meu
erro. Tenho de procurar em outro lugar.
O próximo passo é olhar o que aconteceu em cada setor. Pelos
números de 2013 a agropecuária corresponde a 5,72% do valor adicionado a preços
básicos, a indústria a 24,88% e os serviços a 69,4%, note que estas participações
não são referentes ao PIB. A taxa de crescimento dos serviços foi de 2%, a
indústria cresceu 1,3% e a agropecuária cresceu 7%. Achei meu erro! Minha
técnica de calcular crescimento é mais apropriada para indústria e serviços,
excluindo o setor agropecuário o valor adicionado teria crescido 1,8%, bem
dentro do meu intervalo e claramente abaixo de 2%. Dado que o crescimento do
ano passado foi muito baixo a distorção estatística seria suficiente para me
deixar em posição confortável.
De forma geral não considerar com cuidado a agropecuária não
gera grandes erros, afinal estamos de falando de pouco mais de 5% do valor
adicionado e de 4,8% do PIB. Mas um ano em que a agropecuária cresce mais que o
triplo dos serviços e mais de cinco vezes o crescimento da indústria não é
exatamente um caso geral. Olhando os números mais de perto é possível entender
o que aconteceu. Os destaques do setor foram soja (24,3%), cana de açúcar (10%),
milho (13%) e trigo (30,4%) na outra ponta houve queda na laranja (-14,8%) e na
mandioca (-9,5%).
Perceberam que salvou o dia e ainda me fez errar? O
agronegócio exportador, o mesmo que é hostilizado diariamente por movimentos de
sem terras e ambientalistas. Aqueles que vivem sob a ameaça de perder terras e
plantações por conta de invasões e de leis ambientais. Aqueles que são acusados
de usar trabalho em condições análogas à escravidão quando não cumprem uma
lista absurda de regulações trabalhistas, aliás, como ficam os que defendem que
o governo deve ignorar a lei trabalhista quando o assunto é o interesse
nacional? Como ficam os setores que de dentro do próprio governo acusam o agronegócio
de prejudicial ao país? Os que pedem tudo para indústria e nada para o campo?
Errei, é fato, mas poucas vezes estive tão feliz por errar. O agronegócio
mostrou que contra (quase) tudo e contra (quase) todos é capaz de puxar o
crescimento brasileiro.