As contas trimestrais divulgas pelo IBGE trouxeram um surpreendente
crescimento do PIB, enquanto as expectativas apontavam para um crescimento de
no máximo 0,2% ou mesmo queda o número apurado mostrou um crescimento de 0,4% em relação ao trimestre anterior. A
notícia é boa, mas não é para soltar fogos. O cenário é de recuperação lenta,
isso é bom dado que nas contas referentes ao primeiro trimestre havia uma
ameaça de novo mergulho da economia em uma recessão. Também é bom evitar a
tentação de creditar o resultado a expectativas positivas por conta da agenda
de reformas que está andando, ainda é cedo para isso.
A figura abaixo mostra o crescimento do PIB em comparação
com o trimestre anterior e com o mesmo trimestre do ano anterior. Fica claro o
padrão de recuperação lenta, aqui cabe lembrar que, ao contrário de alguns
colegas de profissão, eu não considero que a recuperação lenta seja um problema,
pelo contrário, uma recuperação rápida provavelmente seria a construção de uma
nova crise no futuro próximo repetindo um padrão que já é comum no Brasil e na
América Latina. A melhor notícia do número do PIB é que devem cair as pressões para
que a equipe econômica aposta em uma agenda de estímulos de curto prazo.
A figura abaixo mostra o crescimento de cada setor. O setor
de serviços mantém o ritmo de crescimento que vem seguindo desde o começo da
recuperação. Indústria e Agropecuária que encolheram no trimestre anterior passaram
a crescer neste trimestre. O crescimento espalhado em todos os setores, mesmo
que baixo, sinaliza para uma recuperação equilibrada.
Por ser particularmente sensível a crises internas e por ser
um dos setores com mais capacidade de pressionar o governo por políticas de
estímulos de curto prazo é válido dar uma olhada mais cuidadosa no comportamento
da indústria. A figura abaixo mostra o crescimento na indústria de
transformação, construção e extrativa desde 2014. Dois pontos merecem atenção:
(i) o crescimento da indústria de construção e (ii) a queda da indústria
extrativa.
A recuperação da construção pode ser um sinal de recuperação
da confiança e costuma antecipar uma recuperação do emprego. É fato que o governo
tem anunciado medidas de estímulo para o setor, porém não é trivial determinar
se o crescimento já pode ter sido uma resposta a esses estímulos. Se for uma
resposta aos estímulos podemos ter problemas nos próximos períodos, como bem
deveríamos saber bolhas não levam muito longe. Caso a recuperação tenha uma
dinâmica própria o governo deveria rever os estímulos para não contaminar um processo
saudável. Em qualquer caso o governo deveria rever estímulos à construção.
A queda da indústria extrativa, que cresceu durante boa
parte da crise, ajudando a evitar um desastre ainda maior, frustrou um
crescimento que poderia ter sido maior que o anunciado, mas reforça a tese que
a recuperação está ocorrendo mais por fatores internos do que por fatores
externos. Não há problema em crescer com ajuda de fatores externos, pelo
contrário, mas é importante que a dinâmica interna da economia também aponte
para o crescimento.
A figura abaixo mostra o crescimento dos principais componentes
da demanda. Destaque para o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) que
voltou a crescer, desde o último trimestre de 2017 que oi crescimento vem
crescendo, mas a queda na taxa de crescimento no trimestre anterior ligou um
sinal amarelo para a possibilidade de reversão desse padrão. Um novo ciclo de
queda do investimento seria um forte indicador de uma volta ao quadro de
recessão. O crescimento de 5% do investimento pode ser um sinal que o trimestre
anterior foi apenas um susto. A queda no consumo do governo em contraste com um
aumento do investimento e do consumo das famílias pode ser vista como um sinal de
que não estamos em uma nova bolha.
No setor externo o valor das exportações continua acima do
valor das importações, o que não quer dizer muita coisa, mas pode ser útil em
tempos de volatilidade cambial. O aumento da taxa de investimento, que chegou a
15,9%, não foi acompanhado pelo aumento da taxa de poupança, que caiu de 15,8%
para 15,2%. Nada que preocupe, mas sinaliza que vamos ter de pegar dinheiro no
resto do mundo para financiar o aumento da taxa de crescimento ou vamos ter de
arrumar um jeito de aumentar a taxa de poupança.
Em resumo os números mostram uma recuperação lenta, mas aparentemente
equilibrada e que não decorre de choques externos. Aparentemente o primeiro
trimestre de 2019 foi mais um susto do que uma reversão da recuperação iniciada
em 2017. O desafio continua sendo manter a agenda de reformas e fugir das
tentações de adotar estímulos de curto prazo.