Um dos desafios para a retomada do crescimento é tornar a
economia brasileira mais competitiva. O Brasil ficou na septuagésima segunda
posição no ranking da última edição do “The Global Competitiveness Report” (link aqui), o
ranking (link aqui) é elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (link aqui) e que considera várias
dimensões relativas à competitividade de cento e quarenta países. Não chega a
ser um desastre, mas é preocupante. Para o leitor ter uma ideia o México ficou
na quadragésima sexta posição e a Colômbia ficou na sexagésima posição, logo acima
do Brasil está Montenegro e logo abaixo a Jordânia. Temos trabalho a fazer.
Para entender o problema da competitividade no Brasil vou
fazer alguns posts analisando os indicadores usados para avaliar os diversos países.
A nota de cada país é composta por doze pilares que por sua vez são divididos
em vários indicadores. Neste post vou comentar o desempenho do Brasil nos doze
pilares, os posts seguintes serão dedicados a cada um dos pilares separadamente.
Os pilares são agrupados em grandes grupos: ambiente geral (instituições, infraestrutura,
adoção de tecnologia de informação e comunicação e estabilidade macroeconômica),
capital humano (saúde e habilidades/qualificação), mercados (mercado de bens e
serviços, mercado de trabalho, sistema financeiro e tamanho do mercado) e ecossistema
(dinâmica de negócios e capacidade de inovação).
O primeiro exercício consiste em comparar a nota do Brasil
em cada um dos pilares com a nota média do grupo de países classificados como
de renda média-alta pelo banco mundial excluindo o Brasil. A figura abaixo
ilustra a comparação. Em oito dos doze pilares o Brasil está abaixo da média do
grupo: habilidades, mercado de produtos, estabilidade macroeconômica, mercado
de trabalho, instituições, infraestrutura, dinâmica de negócios e saúde. Nos
pilares instituições, infraestrutura e saúde a distância entre a nota do Brasil
e a média do grupo ficou bem pequena. Nosso maior problema está na estabilidade
macroeconômica, na sequência aparecem o mercado de trabalho, a dinâmica de
negócios, habilidades e finalmente mercado de produtos.
A estabilidade macroeconômica possui dois indicadores:
inflação (posição 110º) e dívida pública posição 131º), estamos mal classificados
nos dois quesitos. A boa notícia é que estamos melhorando nesses indicadores. O
teto de gastos e a reforma da previdência junto com o esforço fiscal do governo
devem melhorar a dinâmica da dívida. A inflação tem caído, mas o Banco Central
deve ter em mente que nem só de IPCA vive o mundo. Acredito que deveríamos aproveitar
a oportunidade para reduzir a meta de inflação para pelo menos 3% já no próximo
ano.
O mercado de trabalho deve melhorar com a reforma trabalhista
e a reforma tributária. Nosso pior desempenho está na mobilidade interna do
trabalho (138º) e na facilidade de contratar e demitir 138º), em seguida aparece
a tributação sobre o trabalho (137º), Paulo Guedes tem falado muito sobre esse
último ponto e a reforma tributária deve ter algumas medidas para melhorar esse
indicador. Nosso melhor desempenho é na participação das mulheres na força de
trabalho (49º), essa definitivamente é uma boa notícia.
Na dinâmica de negócios os vilões são velhos conhecidos:
tempo para abrir empresas (137º) e recuperação de falências (126º). A MP da
Liberdade Econômica deve ajudar com a abertura de empresas. O problema de
habilidades está relacionado em grande parte a formação de capital humano,
outro velho conhecido, chama atenção que o pior desempenho está na facilidade
de encontrar mão-de-obra qualificada (127º). Programas de escolas
profissionalizantes podem ser uma boa maneira de atacar essa questão. No
mercado de produtos os maiores problemas estão nas distorções causadas por
tributos e subsídios (132º) e no protecionismo, especificamente nas barreiras
não tarifárias (136º) e nas tarifas (125º).
O segundo exercício compara a nota do Brasil em cada pilar
com a nota que seria esperada considerando apenas o PIB per capita.
Estritamente falando estou comparando o valor previsto por uma regressão da
nota em cada pilar contra o PIB per capita considerando todos os países no
ranking e a nota que o Brasil tirou em cada pilar. Por certo trata-se de um
modelo rudimentar que não se presta a análises mais cuidadosas, mas dá para animar
o post. A figura abaixo mostra a comparação.
Em termos gerais os resultados ficam parecidos com os do
exercício anterior. Nos pilares saúde e infraestrutura deixamos de ficar abaixo
do esperado e passamos a ficar acima do esperado, vale lembrar que nesses dois quesitos
a diferença entre a nota do Brasil e a média do grupo ficou pequena.
Estabilidade macroeconômica continua sendo nosso maior problema, seguida por
mercado de trabalho, mercado de produtos e dinâmica de negócios. Dos itens que destaquei
quando comparei com a média dos grupos apenas habilidade parece ter perdido relevância.
A análise do ranking sugere que o desafio mais urgente é garantir
a estabilidade macroeconômica. Junto com isso é preciso melhorar o ambiente de
negócios que de certa forma engloba o mercado de trabalho, o mercado de produtos
e a dinâmica de negócios. Outro ponto que deve ser trabalhado é a educação,
particularmente a educação profissionalizante. Quem acompanha o noticiário econômico
sabe que Paulo Guedes tem essas prioridades em mente, resta saber se ele vai
conseguir convencer Bolsonaro e o Congresso a adotar soluções que desenhou para
esses problema, se essas soluções serão implementadas de forma adequada e, não
menos importante, se de fato são soluções corretas. Daqui de onde observo
acredito que as soluções serão corretas, mas tenho dúvidas sobre o sucesso no
convencimento e muito medo de como serão implementadas.
Parabéns! O seu post foi genial, como sempre!!
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