Em 2013 a revista The Economist fez uma reportagem
intitulada “A continental divide” (link aqui) onde comentava a divisão da
América Latina em dois grupos: Aliança do Pacífico e Mercosul. O primeiro grupo
liderado por Chile, Colômbia, México e Peru apostava em políticas econômicas
mais direcionadas ao livre mercado e ao comércio internacional. O segundo grupo
formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela apostava em
políticas intervencionistas e no comércio regional ou orientado a grupos
específicos de países. Hoje começo uma série de posts a respeito do desempenho dos países de cada grupo de lá para cá. Como o Paraguai foi suspenso do Mercosul por
um tempo e a partir daí seguiu políticas diferentes dos outros países do grupo
resolvi excluir o país da amostra. A primeira variável a ser analisada será
crescimento econômico.
A figura abaixo mostra a relação entre crescimento e PIB per
capita para os países dos dois grupos entre 2013 e 2016 (valores previstos) de
acordo com o World Economic Outlook do FMI (link aqui). Observe que os países
da Aliança do Pacífico (laranja) estão concentrados acima da linha, ou seja,
apresentaram crescimento maior do que o esperado considerando apenas a renda
per capita, e os países do Mercosul (verde) estão concentrados abaixo da linha.
Mais interessante é olhar o movimento com o passar do tempo. Em 2013 é possível
observar que os quatro países do Mercosul estão acima da linha (bolas verdes),
como o mesmo vale para os países da Aliança do Pacífico a conclusão é que o ano
de 2013 foi bom para os países dos dois grupos, o que não é surpresa. A medida
que o tempo de bonança vai acabando torna-se possível observar que os países do
Mercosul vão apresentando um desempenho pior do que os da Aliança do Pacífico. Em
2014 apenas um país do Mercosul, o Uruguai, estava acima da linha (triangulo
verde). Em 2015 e nas previsões para 2016 todos os países do Mercosul estão
abaixo da linha. Repare também que a partir de 2015 alguns países do Mercosul
começam a apresentar taxas de crescimento negativas enquanto que nenhum dos
países da Aliança do Pacífico apresenta crescimento negativo.
Uma outra forma de visualizar as diferenças no crescimento
dos países de cada grupo é por meio de um “boxplot”, um gráfico onde estão
descritas as distribuições de crescimento de cada grupo com destaque para a
mediana e os quartis. A figura abaixo mostra o “boxplot” da taxa de crescimento
nos dois grupos, a média está marcada por um quadrado. Repare que tanto a
mediana (linha preta) quanto a média (quadrado preto) dos países da Aliança do
Pacífico estão acima da mediana e da média dos países do Mercosul, mais ainda a
“caixa” da Aliança do Pacífico está toda acima da “caixa” do Mercosul.
Não discuto que a redução nos preços das commodities afetou
todos os países da América Latina, porém não se pode concluir que a sorte de
cada um dos países foi determinada pelos preços da commodities. Já passa da
hora dos países da América Latina pararem de procurar causas externas para os
próprios problemas e começarem a procurar entender como as decisões tomadas por
cada país afetou o desempenho do país. Analisar grupos de países que tomaram
decisões diferentes pode ser um bom caminho para “olhar para dentro”. Foi isso
que eu quis dizer na recente conferência da OCDE a respeito da América Latina e
China (link aqui) quando afirmei que se não começarmos a resolver nossos
problemas em alguns anos o que hoje chamamos de oportunidade vinda da China
poderá se transformar em ressentimento e a China acabará se juntando a Portugal,
Espanha, Inglaterra e Estados Unidos na lista dos “exploradores” culpados por
nossas desgraças.
Brilhante Roberto Ellery, e vc pode apresentar um pouco desse diagnóstico na nossa palestra de sexta 13 (brrr) no UNICEUB, mas preferencialmente concentrar-se no que deve ser feito daqui para a frente, o que é nossa intenção para os debates de quinta e sexta. A propósito, vamos disponibilizar power-point e transmissão on-line para os distantes.
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