A Folha de São Paulo publicou hoje uma entrevista com a presidente
afastada (link aqui). Como é costume nas entrevistas de Dilma não faltaram
barbaridades, no quesito insanidade completa a declaração que “A coisa mais
difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil” seguida de “Me mostra a
oposição falando que tinha crise no Brasil!” é insuperável, de tão absurdas chega
a ser impossível comentá-las. A declaração mais perigosa foi "Porque quem
paga o pato, quando não se tem imposto num país, é a população", a
possibilidade que Dilma estivesse fazendo referência a um sistema tributário
mais progressivo não sobrevive à defesa da CPMF feita na mesma reposta.
Qualquer leitura honesta da entrevista de Dilma, especificamente destas
declarações, leva a concluir que Dilma quer aumentar impostos. Isso não é novidade,
aqui no blog eu já tinha registrado que Dilma usava uma estratégia de aumentar
impostos e que tal estratégia é coerente com um governo de esquerda (aqui e
aqui).
O que torna a declaração perigosa é que muito provavelmente
o governo Temer vai propor aumento de impostos e talvez até a volta da CPMF. Se
isso acontecer a declaração de Dilma sugere que o PT pode apoiar a medida ou
não vai se opor de forma arraigada, como resultado a CPMF ou outra forma de
aumento de impostos será aprovada. Equilibrar as contas públicas via impostos é
a saída preferida dos políticos, assim procedendo não perderão muitos
privilégios e, mais importante, continuarão com recursos para agradar
empresários amigos e bancar políticas populistas. Porém, para nós que pagamos
impostos, a saída será péssima, significa uma renovação do pacto político que
nos colocou em uma trajetória de longo prazo de aumento da carga tributária.
O objetivo deste post, junto com outros escrevi e ainda vou
escrever, é juntar argumentos contra aumentos da carga tributária. Tais
argumentos serão importantes nos debates vindouros, lembrem que quem está na
Fazenda é Meirelles e o “dream team” que ele convocou e não mais tipos como
Nelson Barbosa ou Guido Mantega. O debate agora vai ser difícil. Um argumento que
os defensores de aumento na carga tributária costumam colocar na mesa é que
existem países com carga tributária mais alta do que o Brasil, o argumento é
verdadeiro, posso listar alguns que normalmente são listados por eles: Noruega,
Suécia, Portugal, Canadá, Reino Unido e por aí vai. A questão não é saber se
existem países bem sucedidos com carga tributária mais alta que o Brasil,
existem muitos, a questão é saber como está a carga tributária no Brasil em
relação a países comparáveis ao Brasil.
Escolher um grupo de comparação não é tarefa fácil, existem
muitos fatores que aproximam e distanciam países uns dos outros, porém existem
alguns grupos que são usados para classificar países. Levando isso em conta fui
na página do FMI e escolhi os países classificados como mercados emergentes e
economias em desenvolvimento (link aqui). Mesmo assim o grupo ficou muito
diverso, são 152 países incluindo desde pequenos países produtores de petróleo
até gigantes como China e Índia. Sendo assim limitei a amostra a países com
mais de vinte milhões de habitantes e PIB per capita menor que o dobro do PIB
brasileiro. Feitos os cortes fiquei com 44 países na amostra. É certo que eu
poderia procurara critérios melhores para definir o grupo de países comparáveis
ao Brasil, mas para um post no blog eu me contentei com o método que descrevi.
A figura acima mostra a carga tributária do Brasil e dos
outros países do grupo. Repare que apenas seis países possuem carga tributária
maior que a do Brasil. Nenhum país emergente da Ásia que ficou na amostra,
grupo que inclui China e Índia, tem carga tributária maior que a do Brasil.
Apenas um país da América Latina, a Argentina, tem carga tributária maior que o
Brasil. Na verdade, são tão poucos países da amostra com carga tributária maior
que a do Brasil, que podemos listá-los. A figura abaixo lista os dez países da
amostra com maiores cargas tributárias.
O primeiro acima do Brasil é a Rússia, o único BRICS com
carga tributária maior que a nossa. Da Europa estão a Polônia e a Turquia, os
únicos dois da amostra que o FMI classifica como europeus emergentes. Como já foi
dito, da América Latina só a Argentina tem carga tributária maior que a nossa. A
Ucrânia, classificada como parte da Comunidade dos Estados Independentes (CEI)
e não da Europa, é um caso à parte por conta de tensões internas e externas.
Enfim, não temos a maior carga tributária do mundo, porém temos uma carga
tributária que está entre as maiores do mundo emergente e é alta o suficiente para não admitirmos discursos dizendo que nossa
carga tributária é baixa ou muito menos admitirmos sugestões que não pagamos
impostos.
Olá, Roberto!
ResponderExcluirPor qual motivo a carga tributária nos dados do FMI aparece bem menor do que os dados que geralmente colocam a carga em 36-37% do PIB?
Abraço!
Também reparei na diferença, mas segui com os dados do FMI para não comprometer as comparações com outros países. Já li algo sobre a diferença, mas agora não sei explicar.
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