Não é possível contar a história recente da economia
brasileira sem mencionar o esforço para trazer a inflação para níveis
civilizados. Durante muitos anos o debate econômico no Brasil girou em torno de
temas relacionados à inflação, alguns debatiam como conviver com a inflação,
outros debatiam como reduzir a inflação e outros se dedicavam a entender as
origens e as causas da inflação. Não vou questionar a validade de tais debates,
grosso modo acredito que foram em vão, entrar nessa questão desviaria o foco do
post, apenas registro que quando finalmente conseguimos controlar a inflação
fizemos o que todo mundo faz: usamos política monetária. Sem o uso da política
monetária o Plano Real quase certamente teria sido mais um exemplo de fracasso,
o controle inicial da inflação teria evaporado em menos de um ano.
Os críticos do uso da política monetária para controlar a
inflação costumam apontar efeitos coletarias reais ou imaginários da elevação
da taxa de juros. Uma leitura nos jornais é suficiente para encontrar dezenas
de autores falando como a elevação da taxa de juros pode causar desemprego,
acabar com o crescimento da economia, reduzir investimento, valorizar o câmbio,
comprometer as exportações e ainda destruir as contas públicas. Particularmente
creio que a maior parte dos efeitos listados são fantasiosos ou são falácias, a
relação entre a política monetária e as variáveis reais da economia (e.g.: emprego,
crescimento e taxa de investimento) é, para dizer o mínimo, mal compreendida
pelos economistas. Porém não nego que alguns efeitos existem, no final do dia a
taxa de juros é um preço e mudanças em qualquer preço beneficiam uns e
prejudicam outros, via de regra beneficia vendedores, no caso os donos dos
recursos emprestados, e prejudica os compradores, no caso os que pegam dinheiro
emprestado. Nada de catastrófico e nada de impressionante, apenas o dia a dia
da economia.
São tantos argumentos e tantos autores criticando o aumento
da taxa de juros que o leitor pode estar se perguntando se eu estou louco ou eu
sou um economista do mercado financeiro. A primeira dúvida eu não posso tirar,
acredito que não sou louco, mas dizer que não é louco é uma característica dos
loucos. A segunda dúvida eu posso esclarecer, não sou ligado a nenhum banco ou
corretora ou nada que tenha relação com o sistema financeiro, sou professor na
Universidade de Brasília e trabalho com produtividade, não faço nada que
interesse diretamente aos investidores no mercado financeiro. Ocorre que sou um
macroeconomista aplicado e tenho por hábito olhar os dados. A figura abaixo foi
elaborada com dados do Ipeadata e mostra a taxa Over/Selic e a diferença entre
a taxa Over/Selic e o IGP-DI, uma proxy para juros reais, desde agosto de 1994,
ou seja, desde o mês seguinte ao Plano Real. Repare que nem a taxa nominal
(linha azul) nem a diferença entre a taxa nominal e a inflação (linha laranja)
estão em valores particularmente altos, pelo contrário, a média da taxa nominal
mensal entre agosto de 1994 e junho de 2015 foi de 1,4% e em junho de 2015 o
valor foi de 1,06%, a média da diferença entre a taxa nominal e a inflação no
mesmo período foi de 0,72%, em junho de 2015 o valor foi 0,39%, pouco mais que
metade da média.
Visto que a taxa de juros atual, nem a nominal nem a proxy
que usei para taxa real, estão abaixo da média observada desde a estabilização
seria o caso de perguntar se a economia está melhor do que quando as taxas de
juros estavam mais altas. Talvez seja útil saber que apenas nos últimos meses
do primeiro mandato de Lula a taxa nominal foi menor que de junho de 2015,
ainda assim Lula foi reeleito e se tornou o presidente mais popular da história
recente. Da mesma forma a taxa de juros média dos dois mandatos de Lula foi de
1,14% ao mês, maior que a de junho de 2015, no mandato de Dilma a média foi de
0,8%, bem menor que a de Lula. Alguém está disposto a argumentar que a economia
teve melhor desempenho no governo Dilma do que no governo Lula?
A verdade é que como acontece com vários preços não sabemos
muito a respeito de como mudanças na taxa de juros afetam o lado real da
economia, porém sabemos que a taxa de juros é um bom instrumento para combater
a inflação e que a inflação não apenas transfere recursos da sociedade para o
governo (e para os bancos) como penaliza as famílias que tem dificuldade para
reajustar suas rendas, sendo assim a inflação prejudica sobremaneira a
pensionistas, assalariados e beneficiários de programas sociais. Não entendo
porque tantos criticam o uso de um instrumento que já mostrou ter feito para
combater a inflação por conta de efeitos colaterais mal definidos e que parecem
contrários aos fatos.... talvez eu entenda...
O que eu também tenho visto e uma RE-INDEXAÇÃO dos preços! Logo, logo isto vai virar pauta de campanha salarial!
ResponderExcluirAnos 80?????