Em 2007 foi lançado o PAC (link aqui). Para muitos seria um
programa capaz de estimular o investimento e fazer com que o Brasil passasse a
crescer mais. Por meio do programa o governo faria grandes investimentos em
áreas estratégicas e esse investimento do governo impulsionaria investimentos
privados. O aumento do investimento seria motor do crescimento e isso
justificava o pomposo nome do programa, um nome que não fazia referência ao
investimento propriamente dito, mas ao crescimento que tal investimento traria,
afinal era o Programa de Aceleração do Crescimento.
As condições eram favoráveis à empreitada. Depois de muito esforço
a inflação parecia finalmente controlada, o golpe final parecia ter sido dado
em 2003, no governo Lula, quando o Banco Central presidido por Henrique
Meirelles não tremeu para elevar a taxa de juros mesmo com a dívida bruta acima
de 70% do PIB (de acordo com os dados do FMI em 2003 a dívida pública era 73,7%
do PIB). Na época a Selic subiu para 26,5% em fevereiro de 2003 e ficou nesse
valor até junho de 2003, o resultado, como era de se esperar, foi que a
inflação cedeu e a taxa de juros começou a cair. Em janeiro de 2007 a Selic estava
em 13% e caindo, no final de 2007 estava em 11,25%. A economia estava
crescendo, depois de uma freada em 2003, ano de ajuste fiscal e combate à
inflação, a economia voltou a crescer, em 2006 cresceu 4%. Faltava apenas o
investimento para completar o quadro propício para um processo de crescimento
de longo prazo, na verdade faltava a produtividade, mas naquela época falar em
produtividade era mal visto.
Em um quadro assim era querer demais que alguém não pensasse
que se faltava alguma coisa cabia ao governo providenciar. Como bem apontou Bruno
Garschagen no livro “Pare de acreditar no
governo - Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado”
(link aqui) temos uma fé inabalável na capacidade do governo resolver nossos
problemas, é bem verdade que não somos os únicos a ter tal característica que a
cada dia é mais comum pelo mundo, mas o fato de não ser uma característica exclusivamente
nossa não anula o fato que é uma característica nossa. Reconheço que a situação
em 2006-07 era um convite à nossa fé no governo.
A resistência ao PAC foi quase nula. Elogiaram o programa
líderes empresariais como Paulo Skaf, então presidente da FIESP, Armando
Monteiro, então presidente da CNI, Rogério Golfarb, então presidente da Anfavea
(link aqui). Mesmo Armínio Fraga, um dos melhores economistas em atividade no
Brasil e nome ligado à oposição, preferiu sair pela tangente do que apontar os
problemas do PAC (link aqui). Eu nunca me iludi com o PAC, já na época me
pareceu que o programa era consequência do bom cenário econômico e não a causa
de um cenário melhor ainda, também na época alertei que sem cuidar da eficiência
um programa de investimento público poderia ser inócuo (link aqui).
Pois bem, quase dez anos e uma das maiores crises de nossa
história depois já é oportuno olhar para os efeitos do PAC. A figura abaixo
mostra a taxa de investimento entre 1995 e 2015, é fácil ver que a partir de
2006 ocorreu uma inflexão na taxa de investimento. Se foi devida ao PAC ou a
saúde da economia é outra questão, mas sou generoso e dou de barato que o PAC
teve um papel relevante no aumento da taxa de investimento. Afinal se um
governo grande como o nosso começa a investir é de se esperar que o
investimento aumente, principalmente quando o investimento é em áreas onde o investimento
privado é quase proibido. A segunda fase do PAC, iniciada em 2011, parece não
ter tido tanto sucesso (ou seria sorte?) com a taxa de investimento. De 2011
para cá a taxa de investimento caiu e voltou ao patamar de 18%, não muito
diferente do que era na época em que o Banco Central se importava com a
inflação e mantinha a Selic em torno de 20% ao ano. Assim como não é possível
creditar a aumento da taxa de investimento a partir de 2007 ao PAC também não é
possível culpar a segunda fase do PAC pela queda na taxa de investimento após
2011. Se no primeiro caso a saúde da economia pode ter levado ao aumento do
investimento no segundo caso os erros em série de política econômica cometidos
por Dilma e seus economistas podem ter ajudado muito na queda da taxa de
investimento.
Mas não falemos apenas de investimento, afinal estamos
tratando do Programa de Aceleração do Crescimento e não de um programa de
aceleração do investimento. A figura abaixo mostra a taxa de crescimento entre
1995 e 2015, a queda brusca em 2009 foi resultado da crise internacional e pode
ser ignorada, o que é importante reparar é que o aumento do crescimento que se
seguiu ao PAC não se manteve nem mesmo no médio prazo. Por que isso pé
importante? Porque mostra que um aumento da taxa de investimento por si não
leva ao crescimento de longo prazo. Todo mundo não sabe disso? Se soubesse não
teriam chamado um programa de investimento de Programa de Aceleração do
Crescimento. A verdade é que o governo apostou no investimento como motor do
crescimento de longo prazo... e errou. Pior, errou como nosso dinheiro e errou
em algo que pelo menos desde da década de 50 é conhecido e que já deu o Nobel
para Robert Solow: o crescimento de longo prazo depende da produtividade. Claro
que alguém pode falar que é tudo culpa da crise internacional e que sem o PAC
estaríamos ainda piores do que estamos, é um direito, cada um fala o que quer,
mas, se a esta altura o sujeito ainda acredita que nossos problemas são frutos
de uma crise internacional então o melhor a fazer é concordar e mudar de
assunto.
Se algum governo quiser fazer um Programa de Aceleração do
Crescimento deveria colocar a produtividade no centro das atenções. Ocorre que governos
não sabem como estimular produtividade, pior, quase tudo que um governo pode
fazer para ajudar empresários amigos, financiadores de campanha e ganhar apoio
de sindicatos e outros movimentos organizados é ruim para a produtividade,
embora possa ser bom para o investimento. Não é então por acaso que governos
pelo mundo, particularmente governo que estimulam o compadrio, colocam o
investimento no lugar que deveria ser ocupado pela produtividade. Estimular
investimento pode ser compatível com ganhar votos e financiamento, estimular
produtividade costuma levar a perda de votos e financiamento, pelo menos no
curto prazo. Para tomar medidas que permitam o aumento da produtividade é
preciso um estadista, para estimular investimento basta um populista ávido por aplausos
e verbas fáceis.
Isso quer dizer que o PAC é culpado por nosso não crescimento?
Não. Isso apenas quer dizer que o PAC não entregou o que prometeu.
Olá Roberto. Parabéns pelo cientificismo. No começo do primeiro mandato da Dilma, ela reduziu o juros e o investimento não ocorreu. A minha leitura é que a valorização dos salários achatou os lucros dos empresários e, com isso, só seria viável investir caso os juros reduzissem mais do que 7,25% para tornar o capital mais barato e as aplicações financeiras menos atrativas do que um investimento. Porta era necessário reduzir mais o juros para que ocorressem investimentos. Concorda com a minha leitura?
ResponderExcluirObrigado! Juros, salários e lucros são variáveis determinadas pelas forças de mercado, melhor do que o governo forçar tais variáveis para cima ou para baixo seria o governo fazer reformas que permitissem o mercado chegar ao equilíbrio desejado. No caso específico dos juros seria necessário incentivar a poupança privada, reduzir gasto público de modo que o governo não pegue grande parte da poupança existente para se financiar, permitir mais competição no mercado financeiro e etc.
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