Conforme esperado o PIB brasileiro encolheu no primeiro trimestre
de 2015. Na comparação do primeiro trimestre de 2015 com o último trimestre de
2014 a queda foi de 0,2%, em termos anualizados, como é feito nos EUA, a
retração seria de 0,78%. Comentarei de forma mais detalhada os números que
comparam o primeiro trimestre de 2015 com o primeiro trimestre de 2014, porém
um dado que acontece tanto na comparação do primeiro trimestre de 2015 com o
último de 2014 quanto na comparação do primeiro de 2014 com o primeiro de 2015
é que o único componente da demanda que aumentou no primeiro trimestre de 2015
foram as exportações de bens e serviços. Imagino que o dado seja um tanto
quanto embaraçoso para os que insistem em culpar o resto do mundo por nossa
crise.
Na comparação do primeiro trimestre de 2015 com o primeiro
trimestre de 2014 a retração foi de 1,6%. É uma queda expressiva que fica ainda
mais grave quando observamos a composição do PIB. Pelo lado da oferta o
primeiro fato a ser destacado é que mais uma vez a agropecuário nos salvou de
uma queda ainda maior no PIB, o setor cresceu 4% puxado principalmente pela
soja cujo a quantidade produzida aumentou 10,6% e a área plantada aumentou 4,7%.
A indústria teve uma queda de 3% e o setor de serviços teve uma retração de
1,2%. A retração de 3% da indústria são não foi maior por conta do crescimento
de 12,8% na indústria extrativa mineral, a indústria de transformação teve uma
retração de 7,0%, fica ainda pior, a indústria de máquinas e equipamentos
aparece na lista de destaques negativos, o que sugere que não há sinais de recuperação
do investimento. A construção civil teve uma queda de 2,9%. No setor de
serviços a maior retração ficou no comércio (atacado e varejo) com queda de 6%.
A queda generalizada por vários setores da indústria e dos serviços
mostra que não se trata de uma crise pontual causada por um colapso em setores específicos
da economia, pelo contrário, é uma crise que está disseminada nos vários
setores. A queda de 7% na indústria de transformação, menina dos olhos dos
desenvolvimentistas e suposta beneficiaria da desvalorização do câmbio que
ocorre desde 2011, é mais um atestado do fracasso da agenda de contrarreformas
iniciada com o objetivo de retomar o crescimento por meio de estímulos à indústria
de transformação. Da mesma forma a contração de 12% na produção e distribuição de
eletricidade, gás e água atesta o fracasso da política energética do primeiro
governo Dilma.
Pela ótica da despesa o consumo das famílias caiu 0,9%
mostrando que a crise continua atingindo o bem-estar dos brasileiros, não se
trata mais de uma “crise que só economistas enxergam”. A queda do investimento
foi de 7,8% o que significa que o fim da crise ainda deve demorar, o fato da
queda do investimento ter vindo acompanhada de queda na produção e na importação
de máquinas e equipamentos reforça a tese que o fim da crise está longe por
sinalizar que não há disposição de investir por parte dos empresários. O consumo
do governo caiu em 1,5%. No setor externo as importações caíram 4,7% como consequência
da desvalorização do câmbio e da retração da renda, se eu tivesse de arriscar um
palpite diria que o segundo fator foi mais importante. O fato de máquinas e
tratores bem como petróleo e carvão estarem entre os destaques negativos das importações
reforça a tese que a crise ainda está longe do fim. As exportações aumentaram 3,2%,
aqui há uma ironia: o governo tem insistido na tese que nossa crise é consequência
de uma crise internacional, porém a demanda externa por nossos bens foi o único
componente da despesa que subiu. Como não sou (muito) turrão registro que o
destaque positivo para indústria têxtil deve ser feito do câmbio, os outros
destaques positivos nas exportações (petróleo e carvão, siderurgia e metalurgia
não ferrosos) me parecem relacionados ao mercado externo e à crise interna. A
análise do PIB pela ótica da despesa deixa dois recados fortes: (i) a queda do
investimento sinaliza que a crise é profunda e que a Nova Matriz Macroeconômica
fracassou em seu principal objetivo que era aumentar a taxa de investimento;
(ii) se o PIB é determinado pela demanda o setor externo evitou uma crise ainda
maior em nossa economia.
Olhando o acumulado nos quatro últimos trimestres observamos
uma queda de 0,9% no PIB. Pela ótica da oferta a agropecuária cresceu 0,6%, a indústria
encolheu 2,5% e os serviços caíram em 0,2%. Pela ótica da despesa o consumo das
famílias cresceu 0,2%, o consumo do governo cresceu 0,4%, refletindo a gastança
de 2014, o investimento caiu 6,9%, as exportações caíram 1% e as importações caíram
2,5%. Um gráfico que está na apresentação do IBGE (link aqui) e que eu reproduzo
abaixo mostra o tamanho da queda do PIB em comparação a outros anos. Repare que
desde o fim de 1997 o único trimestre com crescimento acumulado menor que o
atual foi o quarto trimestre de 2009, no fundo poço da crise de 2008, que de
fato foi uma crise internacional. A queda atual é mais que o dobro da queda do
quarto trimestre de 1999 que ocorreu na sequência de uma série de crises em
países emergentes que chegou oficialmente ao Brasil no primeiro trimestre de
1999 quando o regime de bandas cambiais que sustentou os primeiros anos do
Plano Real colapsou.
Um último ponto a ser registrado é que a queda da taxa de
investimento de 20,3% para 19,7% do último trimestre de 2014 para o primeiro
trimestre de 2015 foi acompanhada de uma queda da taxa de poupança de 17% para
16% no mesmo período. Conquanto seja recomendado cuidado extremo com
comparações de trimestres consecutivos o aumento da distância entre as duas
taxas de 3,3% para 3,7% mesmo com uma queda significativa da taxa de
investimento pode sinalizar para problemas futuros no balanço de pagamentos.
Dá pra acreditar que a coisa melhora no segundo semestre como os feiticeiros do governo estão dizendo?
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