Reportagem de O Globo informa que os desembolsos do BNDESpodem chegar a R$ 190 bilhões este ano. A se confirmar este número o BNDES terá
aumentado seus desembolsos quase 22% em relação a 2012, no mesmo período o PIB
deve crescer menos de 2%. O fato que os desembolsos do BNDES têm crescido de
forma significativa nos últimos anos. A figura abaixo mostra os desembolsos do
BNDES desde 1997. Entre 1997 e 2012 os desembolsos do BNDES aumentaram 716,75%,
no mesmo período o PIB aumentou 368,78% e o investimento aumentou 389,59%, tudo
em valores correntes. O resultado é que os desembolsos do BNDES passaram de
2,0% do PIB em 1997 para 3,5% em 2012, o valor máximo do período foi de 4,5% do
PIB em 2010.
O discurso oficial é que é preciso estimular o investimento,
o fato dos desembolsos do BNDES terem crescido muito mais do que o investimento
sugere cautela com este discurso. Vou começar sendo extremamente favorável ao
argumento do governo e supor que toda a variação no investimento é devida a
variações nos desembolsos do BNDES. Neste caso a maneira de medir o efeito dos
gastos do BNDES sobre o investimento seria calcular a razão entre a variação no
investimento e a variação nos gastos do BNDES. Fiz isto para todos os anos
entre 1997 e 2012, a média de todos os anos deu 1,86. Desta forma podemos dizer
que para cada aumento de R$ 1,00 nos desembolsos do BNDES o investimento aumenta
em R$ 1,86, ou ainda, os empresários colocam 86 centavos de investimento para
cada um real que o governo os empresta para investir. Parece um efeito
multiplicador muito pequeno para justificar tanto gasto.
Mas a hipótese que as variações no investimento decorrem de
variações nos gastos do BNDES é forte, fiz um pequeno e apressado teste
estatístico para checar se esta é uma hipótese razoável. Em uma regressão da
variação da taxa de investimento contra a variação dos desembolsos do BNDES
como proporção do PIB obtive um coeficiente não significativo dos desembolsos
do BNDES como proporção do PIB. Dito de outra forma, as variações dos
desembolsos do BNDES em proporção ao PIB não parecem ter efeito significativo
sobre as variações da taxa de investimento. A figura abaixo mostra a taxa de
investimento, azul claro, e o desembolso do BNDES em relação ao PIB. Note que o
segundo cresce muito mais que o primeiro.
Qual razão dos desembolsos do BNDES não terem um impacto
multiplicador significativo sobre o investimento? Existem várias respostas para
esta pergunta. Uma linha de raciocínio é imaginar que o BNDES empresta dinheiro
usando mais critérios políticos do que técnicos, assim em vez de emprestar para
empresas com bons projetos o BNDES acaba emprestando para empresas próximas aos
governantes de plantão. Um bom teste para esta hipótese é calcular a correlação
entre o volume de empréstimos que a empresa consegue junto ao BNDES e as
doações que a empresa fez para a campanha da coligação que ganhou as eleições
federais. Outra possibilidade é que o BNDES esteja resolvendo um problema que
não existe. Apesar do apelo da primeira hipótese, principalmente em tempos de
Mensalão e congêneres, a segunda hipótese me parece mais pertinente. Antes deseguir adiante recomendo a leitura do artigo de Sérgio G. Lazzarini, AldoMusacchio, Rodrigo Bandeira-de-Mello e Rosilene Marcon sobre a atuação doBNDES. Destaco aqui a última
frase do abstract do paper: “In general, BNDES appears to be generally
selecting firms with capacity to repay their loans, as regular commercial banks
would do”.
Este é o que considere o ponto central para explicar porque
os desembolsos do BNDES não criaram uma expansão equivalente no investimento e
no crescimento do Brasil. Existem vários motivos que levam uma firma a não
investir, um deles é a falta de acesso ao mercado financeiro. O empresário tem
um bom projeto, quer investir, mas não encontra ninguém que financie o
projeto. Se este fosse o problema das
empresas beneficiadas pelo BNDES certamente a história teria sido outra. Ocorre
que falta de acesso ao crédito é apenas uma das possíveis razões para uma
empresa não investir. Acredito que hoje o maior problema do Brasil não seja
este, pode até ter sido nas décadas de 1950 a 1970, mas não é mais. As empresas
não investem no Brasil porque o ambiente de negócios no Brasil é muito ruim. Noranking do Banco Mundial que classifica os países por facilidade de fazer negócioso Brasil aparece na 130º posição, atrás de Bangladesh, Indonésia e Etiópia!
As empresas não deixam de investir no Brasil por falta de
financiamento, deixam de investir porque a dificuldade de fazer negócios torna
mais rentável investir em outros lugares. Ao beneficiar empresas específicas o
BNDES piora ainda mais a situação. Quem vai investir no Brasil se pode acabar tendo
de concorrer com empresas fortemente subsidiadas?
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