sábado, 24 de agosto de 2013

O que está acontecendo com o câmbio?

O gráfico abaixo mostra a taxa de câmbio entre real e dólar no Brasil de janeiro de 2008 até hoje, peguei a série na página de cotações do UOL. Pelo gráfico podemos ver dois momentos em que a taxa de câmbio passou de R$ 2,40 por dólar. O primeiro foi no final de 2008, durante a crise financeira, e o segundo foi semana passada. Qual a diferença entre os dois momentos? Olhando o gráfico com cuidado é possível ver que em 2008 a subida se deu de forma repentina, em menos de um mês o dólar passou de menos de R% 1,60 para mais de R$ 2,40. Este tipo de movimento brusco costuma ser causado por movimentos especulativos.




Por alguma razão o mercado começa a comprar dólar, em 2008 a razão foi a crise, e o preço do dólar começa a subir. Esta subida faz com que todo mundo corra para comprar dólares antes que fique ainda mais caro levando a um aumento repentino da demanda por dólares e uma redução da oferta de dólares, afinal quem tem dólar não quer vender se acredita que o preço vai subir. Em situações como esta o Banco Central deve entrar no mercado vendendo dólares. Esta política tem dois efeitos: aumenta a oferta de dólares e sinaliza para o mercado que a alta do dólar pode ser revertida. Como ninguém quer vender barato, principalmente se comprou caro, o mercado começa a vender dólares. Manobras como esta, se bem executadas, podem trazer o câmbio de volta para o valor de antes de tudo começar. Foi o que aconteceu em 2008/09. Note que a intervenção do Banco Central foi para evitar um movimento especulativo que poderia ser danoso à economia como um todo, tal tipo de política não é exatamente um rompimento com o regime de câmbio flutuante. Embora deva reconhecer que é preciso alguma arte para saber quando começar intervir e quando parar de intervir nestas situações. Talvez o fato que em 2008 o Banco Central era presidido por um economista vindo do mercado tenha ajudado no timing.

Desta vez a subida se deu de forma diferente. O dólar saiu do patamar de R$ 1,60 no final de 2011, chegou a R$ 2,00 em meados de 2012 onde ficou por um bom tempo e recentemente teve uma subida íngreme (porém não tanto quanto em 2008) até passar de R$ 2,40. Perceberam a diferença entre uma desvalorização puramente especulativa como a de 2008 e uma desvalorização induzida pelo governo como a atual? Ocorre que câmbio é uma variável difícil de prever e controlar, tudo indica que a recente desvalorização foi mais rápida (não necessariamente maior) que a desejada pelo governo. Existem várias explicações para isto ter acontecido e quase todas guardam um pedaço da verdade. O fato é que o Banco Central resolveu agir como quem combate um movimento especulativo. Vais dar certo? Difícil prever.

Como falei acima câmbio é uma variável complicada. Neste caso além das dificuldades usuais tem um fator que pode complicar a estratégia do Banco Central. Nós não somos os únicos a olhar o gráfico deste post, todo o mercado o conhece. Isto significa que o mercado sabe que o governo deseja um real desvalorizado, até porque vários ministros já disseram isto em momentos diferentes. Sendo assim como acreditar que o governo de fato vai se emprenhar para trazer o dólar de volta a digamos R$ 2,00? Na semana passada o governo deu sinais fortes que não vai deixar o real se desvalorizar, tão fortes que deram resultados e o dólar recuou para menos de R$ 2,40. Mas e se o governo mudar de ideia? Não será a primeira vez que o governo muda de ideia em assuntos importantes, sequer será a primeira vez este ano. O próprio governo não mudou de ideia ao decidir intervir no mercado para não deixar o dólar chegar a R$ 2,50? Valor menor que o Ministro Mantega considerou ideal em 2009.

Esta incerteza tem custo. Se o governo de fato quiser “segurar” o dólar vai acabar gastando mais do que gastaria se tivesse a confiança do mercado. Se o governo mudar de ideia e resolver “aceitar” um câmbio a R$ 2,60 ou mais terá literalmente jogado dinheiro fora. Particularmente sou de opinião que o governo deva deixar o câmbio flutuar, isto evita a tarefa impossível de determinar a taxa de câmbio correta. Mas se o governo pretende fixar um valor ou um intervalo de flutuação para o câmbio é bom que faça isto de maneira clara. Do jeito que está é o pior dos mundos.


P.S. Dada a dificuldade de prever o que vai acontecer com o câmbio se você está com viagem de fim de ano marcado para o exterior e ainda precisa comprar dólares, comece a comprar agora e vá comprando aos poucos até o final do ano. Assim se o dólar subir você já comprou uma parte e não terá de comprar tudo tão caro e se o dólar cair você poderá comprar uma parte a preços mais baixos.

Um comentário:

  1. Movimento do dólar em 2.008 e agora em 2.013 tem muito a ver com causas externas - crise americana, QEs, anti-QEs, etc - do que apenas problemas domésticos.
    É fato que o governo queria um real mais fraco mas a intensidade da mudança não deveria ser brusca como foi. Agora não tem jeito, vamos pagar o preço de excesso de consumo e baixa poupança se a liquidez mundial for secando.

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