Análises de crescimento econômico devem ser feitas olhando o
longo prazo e tomando cuidado para não confundir relações de longo prazo com
relações de curto prazo entre variáveis. Infelizmente para fins de avaliar políticas
é difícil escapar de análises de curto/médio prazo. Tome por exemplo alguém que
queira avaliar a economia brasileira durante o governo Lula. Qualquer conclusão
pode ser questionada a partir do fato que Lula governou durante um período de
aumento dos preços das commodities. Infelizmente não podemos repetir as mesmas políticas
de Lula em uma realidade alternativa onde o preço das commodities não subiu
tanto. Esta impossibilidade de experimentos controlados é que torna as ciências
sociais tão predispostas a debates inconclusivos. Claro que sei que existem várias
técnicas para se realizar exercícios contrafactuais, ocorre que, para dizer o
mínimo, são técnicas limitadas, principalmente quando o assunto é
macroeconomia. Não temos milhares de países no mundo e só temos uma história que
afeta todos os países.
Por outro lado a existência de determinadas relações, mesmo
que apenas por seis ou sete anos, cria desafios para os que estudam o
crescimento da economia. Não posso dizer que a existência de uma determinada relação
entre duas variáveis por um determinado tempo estabeleça uma verdade universal.
Mas posso dizer que se alguém quer explicar aquele período é preciso explicar
porque aquela relação aconteceu. Considere um exemplo ao qual dedico muito de
meu tempo: a existência de políticas desenvolvimentistas por quase toda América
Latina do final da II Guerra ao início da década de 1990 e o baixo crescimento
dos países latino-americanos neste período. Isto não pode ser usado como prova
que qualquer política desenvolvimentista em qualquer tempo e lugar levará ao
baixo crescimento da economia em um período de 40 anos. Mas qualquer teoria que
queira explicar o que aconteceu na América Latina naquele período tem que ser
capaz de explicar este fenômeno. Em resumo, a experiência da América Latina não
prova a tese que políticas desenvolvimentistas não geram crescimento de longo
prazo, mas refuta a tese de que estas políticas sozinhas criam este
desenvolvimento.
Argumento semelhante pode ser usado no meu post anterior,
que chamei de “Mito da Indústria de Transformação”. Os dados não dizem que
indústria de transformação não é importante para o crescimento. Os dados dizem
que o aumento da participação da indústria de transformação no PIB não levou a
um processo de crescimento da economia brasileira sustentado no longo prazo,
nem mesmo da produtividade, acrescento.
Neste espírito gostaria de comentar a relação entre
participação da indústria de transformação no PIB e o valor da renda destinada
aos salários durante o governo Lula (exclui 2010 porque nos dados que eu tinha
no computador faltava à participação do trabalho para este ano, não creio que a
exclusão mude a figura). Durante o governo Lula (2003 a 2009) a participação
dos salários na renda dos fatores (sei a diferença entre PIB e renda dos
fatores, estou intercambiando os termos para facilitar a leitura, isto é um post
em um blog não é um artigo científico) subiu de 40% para 45%. No mesmo período
a participação da indústria de transformação no PIB caiu de 18% para 16%. A
Figura ilustra os dados.
Estou adorando este blog. Um dos melhores macroeconomistas do Brasil escrevendo gratis sobre questões teóricas e empíricas relavantes.
ResponderExcluirObrigado, Roberto.
Abrs,
A
Obrigado pela força. Eu tento. Abs.
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