Meu amigo Adolfo Sachsida me mandou três perguntas para que
eu respondesse no Blog. As duas primeiras parecem provocações (parece que meu
período café-com-leite acabou), já manifestamos opiniões diferentes. A terceira
é para provocar os outros, pois provavelmente pensamos de forma parecida. Vamos
às perguntas:
1. Você andou postando
que nenhuma ditadura te representa. Qual sua opinião sobre o golpe militar no
Egito. Como o golpe no Egito pode ser comparado com o Golpe de 1964 no Brasil?
Maldade pura, mas vou responder. De fato sou contra toda e qualquer ditadura, sou
adepto da frase que costuma se atribuída a Churchill: “It has been said that democracy is the worst form of government except
all the others that have been tried.”. Dito isto é preciso
pensar sobre como agir no caso de um governo democraticamente eleito tentar se utilizar
das instituições democráticas para implantar uma ditadura. Existem vários
exemplos: Hitler e seus Nazistas devem ser o mais famoso, mas Chávez e seus
bolivarianos em tempos e locais mais recentes usaram dos mesmos artifícios com
sucesso. Considerando este problema (que insisto não ser uma possibilidade
teórica nem um problema do passado distante) é necessário que exista alguma
forma de tirar do governo quem quer tente implantar uma ditadura, mesmo que o
candidato a tirano tenha sido democraticamente eleito. Infelizmente é difícil
tratar destes problemas dentro da estrita legalidade e mesmo quando é o caso
não falta quem acuse golpe no país (Honduras e Paraguai se livraram de seus
presidentes de forma constitucional e até hoje tem quem veja golpe naqueles
países). Tudo indica que Mohamed Morsi e sua Irmandade Muçulmana estavam
seguindo o caminho dos que usam a democracia para destruí-la. Se for este o
caso sou favorável à remoção do presidente desde que os interventores chamem
uma nova eleição e reestabeleçam a democracia o mais rápido possível, mais que
um ano entorna o caldo.
Passemos para o Brasil. De saída considero necessário diferenciar
entre o golpe e a ditadura. Não vejo um motivo aceitável para justificar uma
intervenção de 20 anos. Nada justifica a perseguição, tortura e assassinato de
oposicionistas. A ditadura brasileira foi criminosa (como são todas as
ditaduras) e deve ser denunciada para que nunca passemos novamente por este
horror. Da mesma forma, se os golpistas do Egito resolverem estabelecer um
governo sem chamar eleições livres, eu acredito que devam ser denunciados (em
tempo: os “golpistas” de Honduras e Paraguai não estabeleceram governos e
realizaram eleições livres). Voltemos então ao golpe de 1964. Já li um bocado
sobre a história daqueles anos e não consigo ver um indício qualquer que João
Goulart estivesse prestes a dar um golpe, muito menos estabelecer um governo
comunista. Também não acredito que as organizações comunistas tivessem em
condições de tomar o poder, no máximo repetiriam o fracasso da intentona
comunista dos anos 1930. Desta forma, conquanto o golpe do Egito possa ser
justificado (não conheço o Egito o suficiente para afirmar com certeza) o golpe
brasileiro não teve justificativa nenhuma. Sendo assim repito: 1964 não me
representa!
2. Você acha que o
Brasil deve dar asilo a Snowden? Como você compara Snowden a Assange?
Minha crítica ao governo brasileiro foi mais pela a inconsistência
das ações do que pelas ações propriamente ditas. Meu ponto é que ou nosso
governo considera Snowden um herói e teria obrigação moral de conceder asilo ou
considera Snowden um terrorista traidor e teria obrigação moral de defender os
EUA. Mostrar indignação com os EUA por ter espionado brasileiros e negar asilo
a quem denunciou a espionagem é hipocrisia covarde. Agora tentarei responder a
pergunta. Espionagem é um terreno delicado e dar palpites sem conhecer bem o
caso (ninguém fora dos governos conhece bem o caso) envolve alguma
irresponsabilidade, como não tenho nenhuma responsabilidade neste assunto posso
me dar ao luxo de ser irresponsável. Considero Snowden um herói da liberdade.
Ao revelar o que o governo americano estava fazendo Snowden atrapalhou a vida
de quem atentava contra a privacidade de milhões de cidadãos ao redor do mundo.
Desta forma sou favorável que o asilo seja concedido. O caso de Assange é mais
complicado. Se as revelações de Assange levaram a exposição de agentes
americanos ou de outros países (parece que foi o caso) considero que as
revelações foram, no mínimo, irresponsáveis, porém irresponsabilidade não é
crime. Assange é procurado por estupro. Este é um crime grave que não pode ser
minimizado por conta da atuação política do acusado. A Suécia é uma democracia respeitável
e tem todas as condições de realizar um julgamento justo. Sou contra o asilo
para Assange.
3. Qual o valor do
câmbio de equilíbrio?
Esta é mais fácil, pelo menos conceitualmente. O câmbio de
equilíbrio é o câmbio em que a moeda for negociada na ausência de intervenção
do Banco Central. Caso queira considerar o equilíbrio condicionado pela
intervenção do Banco Central (algo do tipo: Dada a intervenção do BC, qual o
câmbio de equilíbrio?), então o câmbio de equilíbrio é R$ 2,23 por dólar (valor
que fechou hoje). Amanhã o valor será outro e, sinceramente, não aconselho que
tentem prever.
Espero ter respondido as perguntas do meu amigo Adolfo
Sachsida, de qualquer forma a bola agora está com ele.
Quase perfeito, exceto pela expressão "hipocrisia covarde", que é quase um pleonasmo. Mas sei que isso é força do hábito e meu amigo Roberto Ellery está certo, as usual.
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