Um dos problemas de debater gasto público é a ordem de
grandeza desses gastos, são números muito grandes de difícil comparação com
nossa experiencia no dia a dia. Gastar R$ 520 mil com diárias e passagens em
seis meses como fez Dilma Roussef este ano (link aqui) impressiona, grande parte
dos brasileiros não faz R$ 520 mil em dez anos de trabalho, mas quando
comparamos com os R$ 2,4 bilhões gastos com funções legislativas entre janeiro
e maio deste ano os R$ 520 mil desaparecem. Da mesma forma os R$ 2,4 bilhões
parecem pequenos quando comparados com R$ 253 bilhões gastos em previdência
social no mesmo período. O uso dessas grandezas astronômicas para confundir o
público e fugir do debate sobre a necessidade de controle do gasto público
ficou marcado na expressão “Dá bilhão?” que foi usada por Ciro Gomes,
folclórico candidato a candidato presidencial, em tentativa tosca de se
contrapor a Rodrigo Constantino quando este último apontava para necessidade de
cortes de gastos.
Tal problema aparece quando falamos dos subsídios do BNDES.
Afinal R$ 40 bilhões é muito ou pouco? Comparado ao quê? Para ilustrar o
tamanho do gasto com subsídios peguei o gasto por função conforme divulgado
pela Secretaria do Tesouro Nacional (link aqui) e adicionei o gasto com
subsídios totais também divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional (mais
sobre esses dados e conceitos ver aqui e aqui). Usei o ano de 2016 por ser o
último ano completo, seria mais adequado fazer uma média de três ou quatro
anos, mas isso exigiria mais trabalho, talvez em outro post. A figura abaixo
mostra os gastos por função, foram excluídos o gasto com previdência que, por
ser muito alto, distorceria a figura e os gastos da função “Encargos Especiais”
pois tão gastos não estão associados a um bem ou serviço específico (ver aqui).
Os subsídios do BNDES não constam na tabela de gasto por
função, vale lembrar que parte desses subsídios são implícitos e estão diluídos
na conta de juros. Repare que apenas saúde, educação, assistência social,
trabalho e defesa nacional custaram mais que os subsídios do BNDES. O gasto com
subsídios destinados aos empresários amigos foram mais de cinco vezes o gasto
federal com segurança e quase sete vezes maior que o gasto com ciência e tecnologia.
Transporte e agricultura somados não chegam nem a metade do gasto com
subsídios.
Em qualquer das
funções listadas os recursos usados para subsidiar os clientes do BNDES teriam
um impacto significativo. Para quem está preocupado com educação e inovação seria
possível resolver a crise das universidades e institutos federais e ainda
sobrariam recursos para a ciência e tecnologia. Para quem está preocupado com
segurança seria possível turbinar a Polícia Federal permitindo um combate mais
efetivo à corrupção e outros crimes federais. Para quem está preocupado com o
social seria possível mais que dobrar o Bolsa Família ou turbinar outros
programas sociais. Mesmo na saúde a chegada de um volume de recursos de quase
40% do recurso recebido teria um impacto significativo. Até aqui considerei
apenas outros usos dos recursos pelo setor público, sendo um liberal e estando
mais preocupado com famílias e empresas do que com governo eu deixaria o
dinheiro com quem de direito, ou seja, reduziria o que o governo toma do
pagador de impostos.
Para esta discussão não importa o que seria feito com o
dinheiro, o que importa é que o valor dos subsídios é significativo e teria
forte impacto em outras áreas. E se a sociedade decidisse colocar estes quase
R$ 40 bilhões em subsídios? Não seria uma escolha válida? Para mim não, mas
minha opinião não importa, se for desejo da sociedade, representadas pelos
congressistas, que tais recursos sejam usados para subsidiar os muito ricos que
os R$ 40 bilhões sejam incluídos no orçamento com esta finalidade.
É sobre isso que trata a Medida Provisória que cria a TLP.
Se o Congresso decidir que devemos gastar R$ 100 bilhões por ano com subsídios
assim será, eu continuarei reclamando, é meu direito. Não votarei em deputado ou
senadores que aprovem um orçamento com tanto dinheiro para subsídios nem muito
menos em um presidente que envie tal orçamento, mas se o orçamento foi aprovado
é porque outros brasileiros votaram. O importante é que tais subsídios estejam
claros no orçamento. O importante é que eu possa dizer a meus colegas de
academia que estão preocupados com a redução nas verbas para ciência e tecnologia
que podemos sextuplicar tais recursos sem aumentar o gasto total do governo. O importante
é que eu possa dizer a meus amigos preocupados com segurança que podemos
quintuplicar os recursos federais para segurança apenas tirando dos subsídios aos
JBS da vida. O importante é que possa dizer a meus amigos preocupados com o
social que podemos duplicar o Bolsa Família apenas reduzindo subsídios dados
aos muito ricos. Se eles vão me ouvir ou concordar comigo? Tomando a
experiência em outros debates eu creio que não, mas é por demais injusto me
negar a possibilidade de pelo menos fazer um post no meu blog questionando a
lei orçamentária e perguntando porque os recursos destinados a subsídios não
ficam com o pagador de impostos ou são destinados a outros fins.
Ellery,
ResponderExcluirO que são os 40 bi? O volume de empréstimos de janeiro a maio ou o diferencial dos juros de mercado e do BNDES de janeiro a maio? Ou outra coisa?
abs,
Zamba