Quando alguém pensa em um economista liberal a ideia que vem
à mente é de um economista defendendo um Estado Mínimo, é uma ideia de senso
comum e que em essência não está errada. Liberais podem discutir entre si quão
mínimo deve ser o Estado, uns acreditam que o Estado Mínimo pode atender
serviços básicos e oferecer proteção social outros acreditam que o mínimo é
zero, mas via de regra, quando confrontado com um determinado governo, o liberal
defende que é possível diminuir este governo. Em outras palavras: liberais
discordam sobre qual o tamanho adequado do Estado, mas tendem a concordar que
os Estados existentes estão muito grandes. No Brasil, desde muito, há um quase consenso
entre liberais que o Estado é muito grande e o governo arrecada muito, digo
quase consenso para que não apareçam um ou dois liberais se oferecendo de
exemplo para me provar errado, mas se tivesse dito que há um consenso não teria
sido um despropósito de minha parte.
Quem acompanha a economia e a política dos EUA pode assistir
ao debate de camarote. Os liberais (estou usando o conceito tradicional que é
usado no Brasil, por lá liberais formam a esquerda) e os ditos economistas
ortodoxos, especialmente a turma de Chicago, estão em grande parte aliados ao
Partido Republicano pedindo corte de gastos e defendendo redução, ou pelo menos
não elevação, dos impostos. Do outro lado, mais à esquerda, estão o Partido
Democrata e economistas de orientação keynesiana (nem todos, que fique claro)
pedindo mais impostos. Não é só n os EUA, em quase todos os países defensores
do livre mercado estão pedindo por redução de gastos e impostos. Até muito
recentemente no Brasil também era assim. Liberais estavam associados à redução
do Estado e corte de impostos, valendo a associação tanto nos discursos dos
liberais quanto no imaginário a respeito das ideias liberais.
Pois bem, nesta semana o Ministro da Fazenda do governo dos
Partidos de Trabalhadores, um partido de esquerda, anunciou um ajuste fiscal
por meio de elevação de impostos. Não fossem as mentiras da campanha do ano
passado seriam medidas esperadas de um governo de esquerda. A economia
brasileira vai mal, as finanças públicas estão comprometidas pelo aumento de
gastos e por queda de receita, não é de assombrar que um governo de esquerda tente
resolver a situação com aumento de impostos. O problema é que na campanha a
presidente negou que existisse problemas na economia, afirmou que não havia
necessidade de ajuste fiscal e que a inflação estava controlada. Como
justificar as medidas diante daquele discurso?
Aqui entra Olavo de Carvalho. Para além de se envolver em
polêmicas na internet Olavo de Carvalho tem uma obra extensa que trata, entre
outras coisas, de psicologia coletiva. Foi por influência de Olavo de Carvalho
que li “Political Ponerology” do psiquiatra polonês Andrew Lobaczewski (link aqui), o livro
trata de como patologias da mente tomam forma nos processos políticos e sociais.
Um dos pontos discutidos no livro e abordado várias vezes por Olavo de Carvalho
diz respeito à histeria coletiva. Não tendo conhecimentos suficientes para
arriscar uma definição minha do que seria histeria, por isto copio e colo a de
Olavo de Carvalho (link aqui):
“A histeria é um comportamento fingido e imitativo, no qual o doente nega o que percebe e sabe, criando com palavras um mundo fictício cuja credibilidade depende inteiramente da reiteração de atitudes emocionais exageradas e teatrais.”
Como não enxergar um comportamento histérico na reação de
grande parte da imprensa e da sociedade que viram como medidas liberais o
aumento de impostos proposto pelo ministro Joaquim Levy? Não é conhecimento
comum que liberais costumam ser contra aumento de impostos? As pessoas não
perceberam as medidas como um aumento de impostos? Se histeria é negar o que se
sabe e o que se percebe e passar acreditar em uma ficção de caráter emocional
como negar que a reação ao anúncio das medidas foi uma reação histérica? Como
não ver no boletim da Fundação Perseu Abramo onde é dito que o governo adotou
uma estratégia conservadora e ortodoxa para a economia (link aqui) um estímulo
à histeria coletiva? Conheço vários conservadores, não lembro de nenhum pedindo
mais impostos para o Brasil. Me considero um economista ortodoxo, não pedi aumento
de impostos, não lembro de nenhum colega ortodoxo pedindo mais impostos, quando
muito alguns aceitam mais impostos dado que o governo não irá cortar gastos,
menos que um pedido ou uma proposta concordar com mais impostos é uma rendição
destes economistas. Inclusive ouso dizer que é neste caso que se encontra
Joaquim Levy, por não ver como reduzir gastos acabou por aumentar impostos. Por
outro lado já escutei vários colegas heterodoxos falando que há espaço para
aumento de impostos no Brasil. Dizer que medidas que não atendem a pedidos de
conservadores e que se adequam mais ao receituário heteredoxo do que ao
ortodoxo da economia representam uma guinada para “uma estratégia bastante
conservadora e ortodoxa na política econômica” é negar os fatos e contribuir
para o estado de histeria coletiva vigente.
Tudo isso pode ser uma bobagem, uma peça de um jogo político
onde negar o que se faz e o que se pensa virou norma, onde políticos deixam de
ter opiniões e defender bandeiras e passam a agir de acordo com as teses de marqueteiros.
Identificações políticos partidárias podem acabar levando para dentro do jogo
parte da imprensa e fundações como a Perseu Abramo. Se for é triste, mas pode
não ser fatal. O problema é que a valer as teses de Olavo de Carvalho que estão
amparadas nos escritos de Andrew Lobaczewski tudo isso pode ser parte de um
desenho maior e mais perigosos que a ânsia de alguns políticos em permanecer
vivendo às custas do povo. Não tenho uma opinião definida, preciso ler mais e
entender melhor o que está acontecendo para poder formar uma opinião. Mas os
fatos estão aí e não tem muitas outras histórias capazes de conectar tantos
fatos.
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