Nos últimos dias mais uma vez apareceram discussões no FB a respeito
de pobreza e desigualdade. Em tais discussões sempre aparece alguém dizendo que
se a renda do mundo fosse distribuída de forma igualitária não haveria mais
pobreza, outros dizem que todos viveriam bem e, por fim, há quem diga que
seriam todos ricos. A discussão é capciosa, a verdade é que os conceitos de
pobreza e riqueza são relativos. Um homem muito rico que tenha vivido no começo
do século XX provavelmente tinha acesso a menos bens e serviços que esse professor
que vos escreve. Um homem que viva sozinho nos EUA ganhando U$ 1.000 por mês
(cerca de R$ 2.650) lá é considerado pobre, aqui estaria na classe média alta.
Mesmo sabendo de tudo isto resolvi fazer uma conta boba e sem muita aplicação,
mas que pode ser útil para que cada um possa avaliar como está hoje em relação
a um hipotético mundo onde todos tenham a mesma renda. A conta consiste em
calcular o PIB per capita do mundo e trazer para valores brasileiros.
A conta é boba porque ignora os incentivos aos quais os
agentes econômicos estão respondendo. Como professor universitário tenho um
salário que, mesmos sendo considerado baixo por vários colegas, está muito
acima do salário médio do Brasil. Ocorre que eu também considero meu salário
baixo e para resolver isto procuro complementar minha renda com pesquisas e
parcerias com órgãos públicos ou privados externos à UnB, tudo dentro da lei
como atestam os pareceres da procuradoria jurídica da UnB, sem tal parecer o
convênio não é assinado. Será que eu buscaria tais projetos se eu não pudesse aumentar
minha renda com eles? Creio que não. Da mesma forma acredito que médicos que
fazem vários plantões, vendedores que se esforçam para bater metas de vendas e
tantos outros que “correm atrás” de um extra no final do mês deixariam de fazer
o que fazem se não pudessem receber o tal “extra”. Mesmo sabendo de tudo isso resolvi
deixar de lado os incentivos (oh, o pecado!) e supor que um mundo alternativo onde
todos ganhassem exatamente a mesma coisa seria capaz de gerar a mesma renda que
o mundo gerou em 2013. Quanto cada um ganharia neste mundo alternativo?
Para responder a pergunta fui buscar os dados de PIB do
mundo na base de dados do FMI (link aqui). Em 2013 o PIB do mundo foi de US$
77,6 trilhões se usarmos dólares correntes e US$ 101,9 trilhões se usarmos
correção por paridade de poder de compra (PPP), uma tentativa de corrigir por
diferentes níveis de preços nos diversos países. Pelos números do Population Reference
Berau (link aqui) em 2013 existiam 7,14 bilhões de pessoas no mundo. Desta
forma o PIB per capita do mundo em 2013 foi de US$ 10.874 se usarmos dólares
correntes e de US$ 14.282 se usarmos correção por poder de compra. Nos dois
casos o PIB per capita do mundo fica próximo ao PIB per capita do Brasil. De
acordo com os dados do FMI o PIB per capita do Brasil em de 2013 foi de US$
11.172 usando dólar corrente e de US$ 14.297 usando paridade do poder de
compra. No primeiro caso o PIB per capita do mundo é equivalente a 97,3% do PIB
per capita brasileiro, no segundo é equivalente a 95,3%.
O passo seguinte foi calcular o PIB per capita brasileiro de
2013 em reais. Pelos números do Ipeadata (link aqui) em 2013 o PIB do Brasil
foi de R$ 4,8 trilhões e a população era de 201 milhões. Desta forma o PIB per
capita do Brasil em 2013 foi de R$ 24.099, ou seja, em 2013 se todos os
brasileiros tivessem a mesma renda cada um ganharia R$ 2.008 por mês. Aplicando
os percentuais do parágrafo acima é possível trazer para a realidade brasileira
os números para o mundo. Pelo o primeiro método se a renda do mundo fosse distribuída
igualmente cada habitante do planeta ganharia o equivalente a R$ 1.954 por mês,
pelo segundo método ganharia R$ 1.913 por mês. Há ainda uma terceira
alternativa, calcular o PIB per capita do mundo em dólares correntes e trazer
para reais usando o câmbio médio de 2013, com este método no mundo igualitário
cada habitante ganharia R$ 1.957 por mês. Considerando os três métodos me
parece justo dizer que no mundo igualitário que imaginei cada habitante
ganharia cerca de R$ 1.950 por mês.
Como alertei este número não significa muita coisa, é muito
provável que em um mundo igualitário o PIB fosse bem menor que o do nosso
mundo, mas o número serve de referência. Se você acredita que para viver com
dignidade basta ganhar o equivalente a R$ 1.950,00 então você acredita que, na
melhor das hipóteses, um mundo igualitário permitiria que todos tivessem uma
vida digna, porém, se você acredita que não é possível levar uma vida digna
ganhando R$ 1.950,00 por mês então você acredita que nem mesmo na melhor das
hipóteses um mundo igualitário permitiria uma vida digna a todos. Faça as
contas e veja de que lado você está.
Eu gosto mais de pensar o volume total de consumo no brasil dividido pelo número de famílias. Uma família média (com 3 pessoas) teria R$3900 por mês para consumo na época que fiz a conta.
ResponderExcluirBoa. Desfeito o mito igualitário dos socialistas.
ResponderExcluirEllery, temos que lembrar que nesse Brasil igualitário ainda temos que descontar o imposto de renda, que passaria a ser igualitário também. Quanto ficaria o salário liquido depois de descontado o imposto? Uns R$1500?
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