Li alguma coisa sobre o Marcelo Neri, ministro da SAE/PR e
um dos melhores economistas aplicados do Brasil, ter dito que no governo Dilma
a renda dos mais pobres cresceu mais do que tinha crescido no governo Lula. Não
consegui ver onde e como ele disse isto, mesmo assim resolvi olhar os dados
para ver o que estava acontecendo. Tenho defendido que a redução dos juros e a
desvalorização do câmbio realizadas no governo Dilma prejudicariam os mais
pobres, a conclusão de Neri, portanto, me deixaria de calças curtas. Meus
objetivos ao buscar os dados eram dois: avaliar o comportamento ano a ano, dado
que as políticas que falei acima foram revertidas e ver se o resultado era
robusto à vários índices de preços, visto que tudo indica que a inflação para os
mais pobres tem sido maior que a inflação para os mais ricos.
Ao olhar os dados tive uma surpresa desconcertante. A PNAD
mais recente disponível no site do IBGE é de 2012 (link aqui), nesta procurei a
tabela com as rendas por faixa de renda (link aqui). Levei para o Excel e
transpus a matriz porque gosto de ler anos nas linhas e não nas colunas. O
resultado está aqui:
Percentil de Renda
|
|||||||||||||
Ano
|
Total
|
Até 10
|
10 a 20
|
20 a 30
|
30 a 40
|
40 a 50
|
50 a 60
|
60 a 70
|
70 a 80
|
80 a 90
|
90 a 100
|
95 a 100
|
99 a 100
|
2004
|
76.4
|
59.8
|
58.4
|
62.9
|
64.8
|
67.5
|
70.6
|
70.7
|
76.5
|
80.5
|
82.6
|
82.1
|
77.0
|
2005
|
80.4
|
68.9
|
65.2
|
69.0
|
68.8
|
72.1
|
74.1
|
75.0
|
79.9
|
82.6
|
86.6
|
86.5
|
82.3
|
2006
|
85.1
|
67.1
|
65.4
|
78.0
|
77.2
|
76.6
|
79.0
|
80.2
|
84.3
|
87.8
|
90.9
|
90.6
|
86.0
|
2007
|
87.4
|
81.7
|
76.6
|
81.0
|
80.7
|
81.2
|
81.9
|
84.2
|
86.7
|
90.5
|
91.2
|
90.4
|
85.5
|
2008
|
88.9
|
82.9
|
79.1
|
82.6
|
82.9
|
84.8
|
85.6
|
86.6
|
89.2
|
91.5
|
91.7
|
91.1
|
85.8
|
2009
|
90.6
|
84.1
|
79.7
|
88.6
|
88.1
|
86.9
|
87.8
|
88.8
|
90.3
|
92.6
|
92.8
|
92.2
|
88.2
|
2010
|
92.7
|
89.6
|
87.3
|
90.5
|
91.0
|
90.7
|
91.3
|
91.6
|
93.1
|
94.1
|
93.6
|
92.9
|
88.4
|
2011
|
94.7
|
95.1
|
94.9
|
92.4
|
93.9
|
94.5
|
94.7
|
94.5
|
95.9
|
95.5
|
94.4
|
93.6
|
88.7
|
2012
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
Da esquerda para direita estão os mais pobres até os mais
ricos, por exemplo, a coluna “Até 10” mostra os 10% mais pobres, a coluna “40 a
50” mostra os que estão acima dos 40% mais pobres e abaixo dos 50% mais ricos e
a coluna “99 a 100” mostra os tão falados 1% mais ricos. A coluna “Total”
mostra a renda de toda a economia. Os números são números índices, logo nãos e
prestam a avaliar o nível de renda, mostram apenas a variação da renda. Por
exemplo, olhando a coluna “Total” em 2004 vemos que o número índice é 74,6 e
que em 2012 o número índice é 100. Isto significa
que a renda em 2004 era 76,4% da renda em 2012, ou, dito de outra forma, que a
renda cresceu 30,8% entre 2004 e 2012. Olhando a tabela é possível ver o
gigantesco crescimento da renda dos 1% mais ricos em 2012, o número índice pula
de 88,7 para 100, um crescimento de 12,7%. Para visualizar melhor o que a
tabela está dizendo fiz a figura abaixo mostrando o crescimento da renda de
cada grupo. Em azul o crescimento entre 2004 e 2010, anos de governo Lula, em
vermelho o crescimento em 2011 e em verde o crescimento em 2012.
Reparem como os dados são estranhos. A renda total em 2012
cresceu 5,58% contra um crescimento do PIB de aproximadamente 1%. Sei que
existem debates a respeito do uso de deflatores que tomam por base cestas de
consumo, caso do IPCA, e o deflator do PIB, mas, mesmo assim, creio que a proporção
está exagerada. Outro fato que chama atenção é o crescimento da renda dos mais
ricos durante o governo Dilma. O padrão de crescimento pró-pobre que é
observado com Lula não é seguido nos anos de Dilma, pelo contrário, em 2012 o
crescimento da renda dos 10% mais pobres só foi maior que o dos que estão acima
dos 70% mais pobres e abaixo dos 90% mais ricos. No mesmo ano o crescimento o
crescimento na renda dos 5% mais ricos só foi menor que o crescimento na renda
dos 1% mais ricos e o crescimento na renda dos que estão entre 0s 20% e 30% da
distribuição de renda.
Onde está o erro? Os dados da PNAD de 2012 foram revistos na
edição de 2013? Fiz alguma conta errada? Os efeitos da desastrosa política
econômica de Dilma vieram mais rápido e de forma mais intensa do que pensei? O governo
Dilma é um governo dos 1%?
O erro está em você levar a sério o que Marcelo Neri diz. Qualquer pessoa ligada ao governo Dilma - Coutinho, Mantega, Augustin, Neri, Tombini - não é um profissional sério e independente.
ResponderExcluirOs números demonstram isso. A economia no governo Dilma não tem uma vitória pra contar.
Reveja sua planilha que ela contém erros crassos. Além de ter esquecido de dizer que o pico de crescimento em 2012, da classe mais alta, tende à média dos demais quando acrescido do vale e 2011. Não localizei o ano de 2010 em sua fonte. E senti falta da comparação do período todo, que é totalmente favorável às classes mais baixas.
ResponderExcluirA planilha não é minha, é do IBGE. Se não existir diferenças nos números então não tem erro, se existir peço que, por favor, diga onde está o erro.
ExcluirO ano de 2010 foi ano de Censo e não consta na PNAD, desta forma fiz a média entre 2009 e 2011, isto não muda o resultado relevante que é a variação estranha em 2012, que está tal a qual a observada na tabela do IBGE. Os resultados de 2011, estes sim influenciados pelo tratamento que dei a 2010, mostram um crescimento forte da renda dos mais pobres.
A comparação de todo período é trivial pois o ano base é 2012, mas não era meu objetivo. A grande ruptura na política econômica se deu durante o ano de 2011, o ideal seria analisar de 2012 em diante. Meu objetivo era avaliar a evolução ano a ano para saber os impactos da mudança da política econômica na renda dos mais pobres.
Quando falasse de um ano X falasse de 31/dez/XX ou de 01/jan/XX?
ResponderExcluirPor que se for 31/12 podemos considerar sempre o ano anterior, certo?
Pela lógica de 31/12, em 31/12/2009 até 31/12/2012 a renda que mais cresce é de 10 a 20 e a segunda que mais cresce é até 10.
E na sua análise, podia ter adicionado que nos 3 anos anteriores o crescimento dos mais ricos foi proximo de 0 ou seja cresceu 12% em 1 ano da mesma forma como cresceu 12% nos ultimos 4. Depende só como voce quer olhar o problema na verdade.
É tipo aquele time de futebol que empatou os ultimos 5 jogos, a midia favoravel vai falar em 5 jogos de invencibilidade e a midia desfavoravel vai falar em 5 jogos sem ganhar. No final os dois estão certos, mas cada um puxando a sardinha pra aquilo que quer ver.
Não sou especialista em PNAD, mas se eu não me engano a pesquisa é feita em setembro. Desta forma o mês de referência é setembro.
ExcluirQuanto ao período. A questão é que não considero o período 2004 a 2012 como um único período, o fato de presidente que governou nestes anos ter sido do mesmo partido é irrelevante na análise que faço da economia brasileira. Se fosse para dividir a economia recente pós-estabilização) em períodos eu seguiria a seguinte classificação:
1994 a 1998: Combate a inflação por meio de controle de câmbio, em 1998 já houve um preocupação maior com o lado fiscal, mas a referência para quebra do período creio que seja a mudança de regime cambial em janeiro de 1999. Crises econômicas nos países em desenvolvimento.
1999 a 2005/06: Período do tripé econômico (metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante) e agenda reformas microeconômicas.
2005/06-2010: Período de transição. As reformas acabam e a lógica do PAC ganha força, voltam as políticas industriais mas o tripé e mantido. Crise econômica nos EUA e na Europa.
2011-hoje(?): Sai o tripé e entra a nova matriz macroeconômica. Tentativa de forçar a redução da taxa de juros e desvalorizar o câmbio para estimular o investimento e a produção industrial, política industrial.
Desta forma não posso juntar o período anterior a 2011 com o período posterior, se fizesse isto perderia meu foco que é analisar os efeitos do abandono do tripé e da volta do desenvolvimentismo.
P.S. O ponto de interrogação no final do último período é porque existem sinais que o governo Dilma recuou das mudanças que implementou a partir de 2011. No momento não sei se foi uma mudança de estratégia ou um recuo estratégico.