segunda-feira, 19 de maio de 2014

Doutrinação em Questão do Brasília sem Fronteiras?

Espero que seja um mal-entendido, se não for é algo muito grave. Vi no FB uma polêmica em relação a uma questão em uma prova do Programa Brasília sem Fronteiras elaborada pelo CESPE. A afirmação era a seguinte:
"Adolf Hitler presidiu a Alemanhã entre 1933 e 1945, tendo implantado nesse tempo o Nacional Socialismo, também conhecido como nazismo, movimento político e ideológico baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no anti-comunismo e no liberalismo econômico e político"
O gabarito parece apontar a afirmação como certa. Isto é um absurdo, um despropósito. Que um partido que se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães tenha por base o liberalismo econômico já seria motivo para levantar desconfiança dos mais atentos. Definitiviamente as agendas socialistas e trabalhistas não encontram abrigo no pensamento liberal, mesmo o nacionalismo não pode ser facilmente encaixado no liberalismo.
Alguém pode no entanto argumentar que o nome do partido não necessariamente guarda relação com a prática do partido. Neste caso uma alternativa é olhar o programa, existem várias versões na internet do Programa do Partido Nazista, as diferenças são devidas a tradução e não mudam o ponto que quero fazer, segue abaixo o programa como aparece na Wikpedia em português (link aqui). Os que não gostam da fonte sintam-se livres para buscar outras fontes. Segue o programa:
  1. Nós pedimos a constituição de uma Grande Alemanha, que reúna todos os alemães, baseados no direito a autodeterminação dos povos.
  2. Pedimos igualdade de direitos para o povo alemão em relação às outras nações e a revogação do Tratado de Versalhes e do Tratado de Saint Germain.
  3. Pedimos terras e colônias para nutrir o nosso povo e reabsorver a nossa população.
  4. Só os cidadãos gozam de direitos cívicos. Para ser cidadão, é necessário ser de sangue alemão. A confissão religiosa pouco importa. Nenhum judeu, porém, pode ser cidadão.
  5. Os não cidadãos só podem viver na Alemanha como hóspedes, e terão de submeter-se à legislação sobre os estrangeiros.
  6. O direito de fixar a orientação e as leis do Estado é reservado unicamente aos cidadãos. Por isso, pedimos que todas as funções públicas, seja qual for a sua natureza, não possam ser exercidas senão por cidadãos. Nós combatemos a prática parlamentar, origem da corrupção, de atribuição de lugares por relações de partido, sem importar o caráter ou a capacidade.
  7. Pedimos que o Estado se comprometa a proporcionar meios de vida a todos os cidadãos. Se o país não puder alimentar toda a população, os não cidadãos devem ser expulsos do Reich.
  8. É necessário impedir novas imigrações de não alemães. Pedimos que todos os não alemães estabelecidos no Reich, depois de 2 de agosto de 1914, sejam imediatamente obrigados a deixar o Reich.
  9. Todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres.
  10. O primeiro dever do cidadão é trabalhar, física ou intelectualmente. A atividade do indivíduo não deve prejudicar os interesses do coletivo, mas integrar-se dentro desta e para o bem de todos. É por isso que pedimos:
  11. A supressão do rendimento dos ociosos e dos que levam uma vida fácil, a supressão da escravidão do juro.
  12. Considerando os enormes sacrifícios de vidas e de dinheiro que qualquer guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal com a guerra deve ser estigmatizado como um crime contra o povo. Pedimos por isso o confisco de todos os lucros de guerra, sem exceção.
  13. Pedimos a nacionalização de todas as empresas que atualmente pertencem a trusts.
  14. Pedimos uma participação nos lucros das grandes empresas.
  15. Pedimos um aumento substancial das pensões de reforma.
  16. Pedimos a criação e proteção de uma classe média sã, a entrega imediata das grandes lojas à administração comunal e o seu aluguel aos pequenos comerciantes, a baixo preço. Deve ser dado prioridade aos pequenos comerciantes e industriais nos fornecimentos ao Estado, aos Länder ou aos municípios.
  17. Pedimos uma reforma agrária adaptada às nossas necessidades nacionais, a promulgação de uma lei que permite a expropriação, sem indenização, de terrenos para fins de utilidade pública, a supressão de impostos sobre os terrenos e a extinção da especulação fundiária.
  18. Pedimos uma luta sem tréguas contra todos os que, pelas suas atividades, prejudicam o interesse nacional. Criminosos de direito comum, traficantes, agiotas etc. devem ser punidos com a pena de morte, sem consideração de credo religioso ou raça.
  19. Pedimos que o direito romano seja substituído por um direito público alemão, pois o primeiro é servidor de uma concepção materialista do mundo.
  20. A extensão da nossa infraestrutura escolar deve permitir a todos os alemães bem dotados e trabalhadores o acesso a uma educação superior e, através dela, aos lugares de direção. Os programas de todos os estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às necessidades da vida prática. O espírito nacional deve ser incutido na escola a partir da idade da razão. Pedimos que o Estado suporte os encargos da instituição superior dos filhos excepcionalmente dotados de pais pobres, qualquer que seja a sua profissão ou classe social.
  21. O Estado deve preocupar-se em melhorar a saúde pública mediante a proteção da mãe e dos filhos, a introdução de meios idôneos para desenvolver as aptidões físicas, pela obrigação legal de praticar desporto e ginástica, e um apoio poderoso a todas as associações que tenham por objetivo a educação física da juventude.
  22. Pedimos a supressão do exército de mercenários e a criação de um exército nacional.
  23. Pedimos a luta pela lei contra a mentira política consciente e a sua propagação por meio da imprensa. Para que se torne possível a criação de uma imprensa alemã, pedimos que:
    1. todos os diretores e colaboradores de jornais em língua alemã sejam cidadãos alemães;
    2. a difusão dos jornais não alemães seja submetida a autorização expressa. Estes jornais não podem ser impressos em língua alemã;
    3. seja proibida por lei qualquer participação financeira ou de qualquer influência de não alemães em jornais alemães. Pedimos que qualquer infração dessas medidas seja sancionada com o encerramento das empresas de impressão culpadas, bem como pela expulsão imediata, para fora do Reich, dos não alemães responsáveis. Os jornais que forem contra o interesse público devem ser proibidos. Pedimos que se combata pela lei um ensino literário e artístico gerador da desagregação da nossa vida nacional; e o encerramento das organizações que contrariem as medidas anteriores.
  24. Pedimos a liberdade no seio do Estado para todas as confissões religiosas, na medida em que não ponham em perigo a existência do Estado ou não ofendam o sentimento moral da raça germânica. O partido, como tal, defende o ponto de vista de um cristianismo positivo, sem todavia se ligar a uma confissão precisa. Combate o espírito judaico-materialista no interior e no exterior e está convencido de que a restauração duradoura do nosso povo não se pode conseguir senão partindo do interior e com base no princípio: o interesse geral sobrepõe-se ao interesse particular.
  25. Para levar tudo isso a bom termo, pedimos a criação de um poder central forte, a autoridade absoluta do gabinete político sobre a totalidade do Reich e as suas organizações, a criação de câmaras profissionais e de organismos municipais encarregados da realização dos diferentes Länder, de leis e bases promulgadas pelo Reich.
Os dirigentes do partido prometem envidar todos os seus esforços para a realização dos pontos antes enumerados, sacrificando, se for preciso, a sua própria vida.
Munique, 24 de Fevereiro de 1920.

Esta é uma agenda liberal? Estado garantido os meios de vida dos cidadãos (7), suspensão dos rendimentos dos ociosos e fim da escravidão dos juros (11), nacionalização de corporações (13), participação nos lucros (14), aumento no valor das pensões (15), entrega das grandes lojas a administração comunal (16), reforma agrária sem indenização e fim da especulação fundiária (17), saúde pública (21) e poder central forte (25). Parece uma agenda de uma partido socialista, na realidade é a agenda de um partido socialista.
Até entendo que os socialistas tentem renegar os nazistas com a desculpa que o nazismo era anti-marxista e anti-comunista, o que de fato era. Mas jogar o nazismo na conta do liberalismo vai além do limite do razoável. Espero que o CESPE, como instituição respeitável que é, tome as medidas cabiveis para esclarecer esta situação.




5 comentários:

  1. Seu post foi longe. Tomei a liberdade de enviar ao Constantino e olha o resultado: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/historia/hitler-um-liberal-para-o-governo-do-distrito-federal-sim/

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    1. Muito bom que o Constantino tenha se manifestado, ele tem uma grande audiência e pode chamar atenção para o tema. Se ele conseguir que a questão seja anulada já seria uma grande ajuda as pessoas que fizeram a prova.

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    2. Coluna dele de hoje

      Não existem duas ideologias mais díspares do que nazismo e liberalismo. Mas não é o que pensam os organizadores de um concurso público da CespeUnB, feito pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Distrito Federal. O governador, como sabemos, é o petista Agnelo Queiroz. Na prova, havia a afirmação, considerada correta pelo gabarito, de que o nazismo era um movimento político e ideológico “baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no anticomunismo e no liberalismo econômico e político”.

      Em meu dicionário, isso se chama doutrinação ideológica. Que nas redes sociais os militantes petistas apelem para aquilo que ficou conhecido como argumentum ad Hitlerum, ou seja, enfiar Hitler em qualquer discussão com um liberal, vá lá; mas que um concurso oficial do governo repita essa patética mentira, associando nazismo a liberalismo, isso é ultrajante!

      Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/liberais-nazistas-12612100#ixzz32vkdQb8E
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  2. Professor, por favor, nos avise se o CESPE retificar ou ratificar essa aberração!!!!

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