sábado, 17 de abril de 2021

Como a pandemia afetou a relação dívida/PIB dos diversos países?

Em post anterior explorei a base de dados do FMI para avaliar o impacto da pandemia no crescimento das economias em 2020 (link aqui). Nesse post farei exercício semelhante, porém o foco será na relação dívida/PIB. É importante ter em mente que a relação dívida/PIB á afetada pela variação do PIB e da dívida, desta forma o crescimento desta relação pode ocorrer por conta do crescimento da dívida ou da queda do PIB. Como na maioria dos países ocorreu queda do PIB e aumento dos gastos para combater e amenizar os efeitos da pandemia, o crescimento da relação dívida/PIB observado nos dados era esperado. Mesmo assim o exercício pode ser interessante por mostrar o que aconteceu nos diversos países e o tamanho do aumento da relação dívida/PIB.

Para fazer o exercício selecionei os países com mais de 10 milhões de habitantes em 2020, mais uma vez a Venezuela foi excluída da amostra, o que me deixou a amostra com 87 países. Em 2019 a média da relação dívida/PIB nos países da amostra foi de 59,6%, em 2020 subiu para 69,1%. Na comparação de 2020 com 2019 a relação dívida/PIB caiu em apenas 7 dos 87 países da amostra, desses cinco estão na África Subsaariana (Zimbabwe, Etiópia, Chade, República Democrática do Congo e Tanzânia), um na América Latina e Caribe (Haiti) e um no Oriente Médio (Irã). A figura abaixo mostra o deslocamento da distribuição da relação dívida/PIB entre 2020 e 2019 com destaque para as médias de cada ano.

 


Os três países com maior crescimento da relação dívida/PIB ficam no Oriente Médio: Iraque (70%), Emirados Árabes Unidos (43%) e Arábia Saudita (32%). No Brasil o crescimento desta relação foi de 13%, o que nos coloca na parte inferior da turma, ou seja, entre os países onde a relação dívida/PIB cresceu menos. Para ser preciso em 33% dos países a relação dívida/PIB cresceu menos do que a do Brasil. A figura abaixo mostra o crescimento da relação dívida/PIB nos países da amostra com destaque para alguns países, quanto mais para esquerda (ou para baixo) menor o crescimento da relação dívida/PIB. Repare que esta relação cresceu menos no Brasil do que nos Estados Unidos e na China, países onde o PIB teve melhor desempenho do que no Brasil em 2020.

 


Na comparação com os países da amostra que pertencem ao grupo América Latina e Caribe o Brasil teve o menor crescimento da relação dívida/PIB dentre os países onde essa relação cresceu. Isso é bom porque mostra que a deterioração do quadro fiscal no Brasil foi menor do que em países que normalmente são usados como referência em comparações internacionais. Entre os países do BRICS, outro grupo de comparação, o Brasil teve o menor crescimento na relação dívida/PIB como pode ser visto na figura acima.

 


O resultado relativamente bom no crescimento da razão dívida/PIB significa que temos melhores condições fiscais que outros países semelhantes? Não creio que seja o caso. Apesar de ter crescimento menos do que na maioria dos países da amostra, a relação dívida/PIB no Brasil é alta quando compara à dos mesmos países. Em cerca de 80% dos países da amostra a relação dívida/PIB é menor do que no Brasil, quase todos são países avançados ou estão na África Subsaariana. Temos a maior relação dívida/PIB entre os países do BRICS.

 


Considerando apenas os países da América Latina e caribe que estão na amostra, apenas a Argentina tem uma relação dívida/PIB maior do que a nossa. Mesmo tendo crescido mais em 2020 a relação dívida/PIB no Chile ainda é cerca de um terço da nossa. A figura abaixo mostra a relação dívida/PIB nos países da América Latina e Caribe.

 


Os números relativos à dívida como proporção do PIB mostram que essa relação cresceu menos por aqui do na maioria dos países, porém continuamos com uma relação muito alta em comparação com América Latina e com países emergentes em geral. A elevada relação dívida/PIB acaba funcionando como um limite para o aumento da dívida e, por consequência, dificulta medidas para amenizar o sofrimento da população com a pandemia. Como mostra o aumento da inflação: existe mais limites para a política fiscal do que parecem pensar os críticos do teto de gastos.

 

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