Em post anterior explorei a base de dados do FMI para avaliar o impacto da pandemia no crescimento das economias em 2020 (link aqui). Nesse post farei exercício semelhante, porém o foco será na relação dívida/PIB. É importante ter em mente que a relação dívida/PIB á afetada pela variação do PIB e da dívida, desta forma o crescimento desta relação pode ocorrer por conta do crescimento da dívida ou da queda do PIB. Como na maioria dos países ocorreu queda do PIB e aumento dos gastos para combater e amenizar os efeitos da pandemia, o crescimento da relação dívida/PIB observado nos dados era esperado. Mesmo assim o exercício pode ser interessante por mostrar o que aconteceu nos diversos países e o tamanho do aumento da relação dívida/PIB.
Para fazer o exercício selecionei os países com mais de 10
milhões de habitantes em 2020, mais uma vez a Venezuela foi excluída da amostra,
o que me deixou a amostra com 87 países. Em 2019 a média da relação dívida/PIB
nos países da amostra foi de 59,6%, em 2020 subiu para 69,1%. Na comparação de
2020 com 2019 a relação dívida/PIB caiu em apenas 7 dos 87 países da amostra,
desses cinco estão na África Subsaariana (Zimbabwe, Etiópia, Chade, República
Democrática do Congo e Tanzânia), um na América Latina e Caribe (Haiti) e um no
Oriente Médio (Irã). A figura abaixo mostra o deslocamento da distribuição da
relação dívida/PIB entre 2020 e 2019 com destaque para as médias de cada ano.
Os três países com maior crescimento da relação dívida/PIB
ficam no Oriente Médio: Iraque (70%), Emirados Árabes Unidos (43%) e Arábia Saudita
(32%). No Brasil o crescimento desta relação foi de 13%, o que nos coloca na
parte inferior da turma, ou seja, entre os países onde a relação dívida/PIB
cresceu menos. Para ser preciso em 33% dos países a relação dívida/PIB cresceu
menos do que a do Brasil. A figura abaixo mostra o crescimento da relação
dívida/PIB nos países da amostra com destaque para alguns países, quanto mais
para esquerda (ou para baixo) menor o crescimento da relação dívida/PIB. Repare
que esta relação cresceu menos no Brasil do que nos Estados Unidos e na China, países
onde o PIB teve melhor desempenho do que no Brasil em 2020.
Na comparação com os países da amostra que pertencem ao
grupo América Latina e Caribe o Brasil teve o menor crescimento da relação
dívida/PIB dentre os países onde essa relação cresceu. Isso é bom porque mostra
que a deterioração do quadro fiscal no Brasil foi menor do que em países que
normalmente são usados como referência em comparações internacionais. Entre os
países do BRICS, outro grupo de comparação, o Brasil teve o menor crescimento
na relação dívida/PIB como pode ser visto na figura acima.
O resultado relativamente bom no crescimento da razão
dívida/PIB significa que temos melhores condições fiscais que outros países
semelhantes? Não creio que seja o caso. Apesar de ter crescimento menos do que
na maioria dos países da amostra, a relação dívida/PIB no Brasil é alta quando
compara à dos mesmos países. Em cerca de 80% dos países da amostra a relação
dívida/PIB é menor do que no Brasil, quase todos são países avançados ou estão
na África Subsaariana. Temos a maior relação dívida/PIB entre os países do
BRICS.
Considerando apenas os países da América Latina e caribe que
estão na amostra, apenas a Argentina tem uma relação dívida/PIB maior do que a nossa.
Mesmo tendo crescido mais em 2020 a relação dívida/PIB no Chile ainda é cerca
de um terço da nossa. A figura abaixo mostra a relação dívida/PIB nos países da
América Latina e Caribe.
Os números relativos à dívida como proporção do PIB mostram
que essa relação cresceu menos por aqui do na maioria dos países, porém
continuamos com uma relação muito alta em comparação com América Latina e com países
emergentes em geral. A elevada relação dívida/PIB acaba funcionando como um
limite para o aumento da dívida e, por consequência, dificulta medidas para
amenizar o sofrimento da população com a pandemia. Como mostra o aumento da
inflação: existe mais limites para a política fiscal do que parecem pensar os
críticos do teto de gastos.
0 comentários:
Postar um comentário