Saíram as contas nacionais relativas ao primeiro trimestre de
2017 (link aqui e aqui), depois de uma sequência de quedas o PIB voltou a crescer. Foi
o suficiente para o governo comemorar e anunciar o fim da recessão (link aqui), eu não
seria tão rápido em abrir o champanhe. Primeiro porque os dados não refletem os
impactos da delação da turma da JBS; segundo porque, mesmo ignorando as
delações, o crescimento do primeiro trimestre não parece muito robusto; terceiro
porque houve mudanças metodológicas que afetam o resultado e por fim depois de
tantas quedas um crescimento em um trimestre relativo ao anterior não é exatamente
algo a ser comemorado com muito barulho.
A figura abaixo mostra o crescimento do PIB quando
comparados os últimos quatro trimestres com os quatro trimestres anteriores, o
atual trimestre com o trimestre anterior, o atual trimestre com o mesmo
trimestre do ano anterior e o acumulado ao longo deste ano com o acumulado ao
longo do mesmo período do ano anterior. Repare que pelo primeiro critério, o
que captura os últimos doze meses, o PIB caiu 2,3%. Repare também que quando comparado
ao trimestre anterior o PIB caiu 0,4%. O aumento só aparece quando são
comparados o primeiro trimestre de 2017 com o último trimestre de 2016 e após o
ajuste de sazonalidade.
Comecemos analisando o festejado 1% de crescimento neste
trimestre em comparação ao trimestre anterior. A figura abaixo mostra o
crescimento dos componentes do PIB pela ótica da despesa e pela ótica da produção.
Pelo lado da despesa houve queda no investimento, no consumo das famílias e no
consumo do governo, vale destacar que desta vez o esforço de contenção de
gastos do governo foi maior que o das famílias. Como as importações entram de
forma negativa no cálculo do PIB o único componente que puxou a despesa para
cima foram as exportações. Isso significa que o crescimento da despesa ocorreu
por conta do resto do mundo, isso não necessariamente é bom ou ruim, mas merece
registro.
Na ótica da produção os serviços, maior de todos os setores,
teve crescimento zero, ou seja, ficou parado e a indústria cresceu 0,9%. O
crescimento significativo ocorreu na agropecuária que aumentou o valor da
produção em 13,4% quando comparado ao último trimestre de 2017. Juntando o lado
da produção com o da despesa é possível concluir que o crescimento for
praticamente todo devido ao aumento da venda de produtos agropecuários para o exterior.
Nada de muito surpreendente, mas não pode ser creditado à política econômica. O
festejado crescimento foi um choque externo positivo.
Quando comparamos o primeiro trimestre de 2017 com o
primeiro trimestre de 2016 observamos uma queda de 0,4% no PIB. A figura abaixo
mostra o crescimento do PIB pela ótica da despesa e pela ótica da produção.
Assim como na comparação com o trimestre anterior a análise pela ótica da
despesa mostra queda no consumo das famílias, no consumo do governo e no
investimento. Porém, nesta comparação, o esforço das famílias foi maior que o
do governo, o que mostra que o governo vem aumentando o esforço de contenção de
gastos de consumo. A queda significativa do investimento mostra que uma
recuperação consistente da economia ainda não está no horizonte.
Pelo lado da produção houve queda 1,7% nos serviços e de
1,1% na indústria, mais uma vez a agropecuária salvou o período com crescimento
de 15,2%. Confundir choques positivos vindos do exterior com uma trajetória de crescimento
sustentando é um erro que não podemos cometer novamente. Tais choques devem ser
vistos como uma oportunidade de compensar efeitos negativos de curto prazo de
reformas estruturais e do ajuste fiscal.
Na agricultura receberam destaque do IBGE a soja, crescimento
de 17,5% na quantidade produzida, o milho (46,8%), o arroz (13,5%) e o fumo (28,4%).
Na indústria a queda não foi maior por conta da indústria extrativa mineral,
que cresceu 9,7%, assim como a agropecuária tal crescimento foi devido a fatores
externos. A indústria da construção civil uma queda de 6,3% e, o aprofundamento
da incerteza por conta da crise política, pode adiar a recuperação desse setor.
No setor de serviços vale destacar a queda de 2,5% no comércio, atacado e
varejo, comportamento consistente com a contração o consumo das famílias.
A comparação com os quatro últimos trimestres, que reflete o
desempenho da economia no último ano corrido o PIB caiu 2,3%. Assim como as
figuras anteriores a figura abaixo ilustra a variação do PIB nesta comparação.
Tanto pela ótica da despesa quando pela ótica da produção o único crescimento observado
foi na agropecuária. A queda de 6,7% do investimento dá a dimensão da crise que
estamos passando.
Olhando um maior período de tempo fica claro que menos que
uma recuperação estamos vivendo uma diminuição da intensidade da queda, tal
diminuição começou no terceiro trimestre de 2016. Como já foi discutido aqui no
blog o Brasil passa por duas crises econômicas (link aqui). Uma de curto/médio
prazo que está associada aos desequilíbrios macroeconômicos do governo Dilma e
dos erros de política que começaram lá por 2006, outra de longo prazo que é
caracterizada pelo baixo crescimento da produtividade nas últimas décadas. A redução
no ritmo de queda do PIB está relacionada as expectativas de melhoras na
política macroeconômica e na reversão das políticas erradas, mas, por mais importante
que sejam, expectativas sozinhas não movem moinhos. Para que saiamos da crise
de curto médio/prazo é necessário que pelo menos ocorra um ajuste fiscal e um
controle da inflação. Os números mostram que tais medidas estão em andamento, o
grande perigo é que a crise política leve o governo a rever tais medidas e a
apostar em estímulos que podem ter efeitos de curtíssimo prazo ao preço de
agravar mais ainda as duas crises que vivemos.
Um último ponto a ser comentado é o aumento da taxa de
poupança que foi de 13,9% no primeiro trimestre de 2016 para 15,7% no primeiro
trimestre deste ano. O valor ainda é baixo, mas o aumento da taxa de poupança
no meio de uma crise pode ser um sinal que estamos começando a nos preocupar mais
com o futuro. Ademais, por conta da queda na taxa de investimento, a taxa de
poupança ficou maior que a taxa de investimento que foi 15,6% neste trimestre.
Assim como outros números de comércio exterior a taxa de poupança ficar acima
da taxa de investimento não é algo necessariamente bom ou ruim, mas merece ser
registrado.
Perfeito!
ResponderExcluirMais uma vez constatamos que tudo o que temos são indicadores manipulados.