Semana passada meu amigo, co-autor e colega de departamento
Victor Gomes me mandou olhar a taxa de câmbio da Colômbia e comparar com a do
Brasil, na realidade ele fez mais e foi gentil o suficiente para mandar uma
figura com as duas taxas de câmbio. Fiquei tão impressionado com o gráfico que
compartilhei com os amigos do FB (link aqui), mas como estava fora de Brasília não tive
como comparar Brasil e Colômbia a partir de outras variáveis. Hoje, já em casa,
resolvi dar uma olhada nos dados do FMI para Brasil e Colômbia e ver quais as
semelhanças e diferenças entre os dois países. Desde já registro que os dados do
FMI não são os mais atualizados que existem, porém oferecem séries com as mesmas
definições e com os dados originais recebendo o mesmo tratamento.
Comecemos com a taxa de câmbio, a figura abaixo foi feita
com o Google Finance e mostra a variação da taxa de câmbio entre real e dólar
em azul e a taxa de câmbio entre peso colombiano e dólar em laranja. É fato que
existe uma pequena diferença no final das séries, mas na maior parte do tempo
as séries estão coladas, ou seja, se o real está “derretendo” então o peso
colombiano também está. Quem me acompanha no blog ou no FB deve ter reparado
que costumo terminar quase todos os meus comentários a respeito do câmbio com a
máxima “deixa o câmbio flutuar”. A ideia é deixar claro que mesmo estando
irritado com a desvalorização do real, na condição de assalariado que recebe em
reais a perda de valor do real é ruim para mim, eu tenho em mente que câmbio é
um preço e variações em quaisquer preços não são boas ou ruins. Variações em preços
prejudicam uns e beneficiam outros, assim como o aumento do preço da laranja
prejudica os consumidores de laranja e beneficia os vendedores de laranja o
aumento do preço do dólar beneficia os que possuem renda em dólares e prejudica
os que têm gastos em dólares ou atrelados ao dólar. Em resumo, a desvalorização
da moeda de um país não necessariamente significa que a economia do país está
naufragando, na verdade existem economistas que acreditam que a desvalorização
é boa por beneficiar exportadores que de alguma forma repartirão esse benefício
com toda a população, o leitor atento deve ter percebido que eu não pertenço a
esse grupo de economistas.
O caso da Colômbia pode ser didático a esse respeito, apesar
do peso colombiano estar enfrentando um processo de desvalorização semelhante
ao do real o FMI prevê que a Colômbia irá crescer 3,39% e terá uma inflação de
3,35% em 2015. Um sonho se comparado a previsão de crescimento de -1,02% e
inflação de 7,8% que o FMI faz para o Brasil em 2015. Não é de hoje que a
Colômbia cresce mais e tem menos inflação que o Brasil, o primeiro gráfico abaixo mostra que desde 2011 a Colômbia cresce mais do que nós e o segundo gráfico mostra que desde 2009 a
inflação na Colômbia é mais baixa do que no Brasil. No “trade-off” entre
inflação e crescimento tão citado entre os economistas governistas a Colômbia
ficou com mais crescimento e menos inflação que o Brasil. Como isso aconteceu?
É difícil responder sem uma análise mais profunda da economia colombiana, o que
não é objetivo desse post, porém alguns dados podem ajudar e desenhar uma
futura explicação.
Um bom ponto de partida é comparar o investimento. Se
considerarmos as projeções do FMI esse ano haverá queda na taxa de investimento
tanto no Brasil quanto na Colômbia, se consideramos os dados, até 2014 para o
Brasil e até 2013 para a Colômbia, os colombianos não apenas investem uma proporção do PIB maior do a investida pleos brasileiros, o que também acontece nas projeções
do FMI, como estão investindo cada vez mais em relação ao Brasil, nas projeções
do FMI a queda da taxa de investimento da Colômbia será maior do que
no Brasil em 2015. O fato da taxa de investimento no Brasil ter sido mais baixa
do que na Colômbia em todo o período que vai de 2005 a 2015 e ter crescido menos do que a da Colômbia nos últimos anos deveria ser motivo de preocupação para o
pessoal do BNDES visto que o banco usou algumas centenas de bilhões de reais
para estimular o investimento no Brasil. Antes que alguém saia dizendo que a
diferença entre o investimento na Colômbia e no Brasil é cultural ou um “efeito
do nosso contrato social” registro que no ano 2000 a taxa de investimento no
Brasil foi de 19,1% e na Colômbia foi de 14,9%.
Outro ponto que distingue Brasil e Colômbia é o tamanho do
gasto e da arrecadação do governo, foquemos no gasto, enquanto nosso governo
gasta aproximadamente 40% do PIB o da Colômbia gasta aproximadamente 30%. O
governo brasileiro gastar mais do que o governo colombiano em relação ao PIB
não é um fenômeno novo, o gráfico abaixo mostra que em todos os anos entre 2005
e 2015 o governo colombiano gastou menos que o brasileiro, se recuássemos até o
início do século o resultado não seria diferente. O governo brasileiro também
arrecada uma proporção maior do PIB do que o colombiano, não seria sem
fundamento afirmar que o governo brasileiro é maior que o governo colombiano.
Pelo conceito primário o resultado do governo brasileiro foi superior ao
colombiano até 2013, em 2014 a Colômbia teve resultado primário positivo e o
Brasil teve negativo e para 2015 o FMI ainda mantém a previsão de superávit
primário de 1,2% do PIB para o Brasil, o governo brasileiro já abandonou essa
promessa e um déficit primário de 0,45% para Colômbia. Espero que os
economistas brasileiros que tem fixação com resultado primário não fiquem muito
desapontados com o fato que a Colômbia tem conseguido resultados econômicos
muitos superiores ao Brasil mesmo com um resultado primário menos entre 2005 e
2013, de 2009 a 2011, a Colômbia, suprema heresia, teve déficit primário.
Talvez o exemplo da Colômbia ensine nossos economistas que fixar a análise em
só indicador é uma estratégia, para dizer o mínimo, limitada.
Muito interessante o artigo pois sai do lugar comum e faz uma comparação das economias em diversos aspectos.
ResponderExcluirGostaria de comparar os tamanhos do governo brasileiro e dos EUA desde a 1a guerra mundial e na primeira (e confesso que rasa) busca não consegui achar os números oficiais que você apresenta no quinto gráfico apresentado aqui (gastos do governo/PIB). A única metodologia de cálculo do tamanho do governo brasileiro não considera governos estaduais e municipais e por isso ficou por volta dos 20%. Peço então a fonte dos dados citados.
Obrigada!
Liza Valença Ramos
lizavalenca@yahoo.com.br
A maioria dos dados são do World Economic Outlook Database do FMI (http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2015/02/weodata/index.aspx). Para dados posteriores a segunda guerra eu recomendo a Penn World Table, para o entre-guerras é mais complicado, provavelmente será necessário recorrer as fontes nos EUA e no Brasil.
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