A Petrobras não é apenas a maior empresa brasileira, é uma
empresa que controla uma área estratégica para o país. O petróleo é o principal
insumo do mundo moderno, não apenas é fonte de energia como é insumo básico
para a produção de vários produtos químicos e outros materiais, por exemplo, o
petróleo é matéria prima para a produção de plástico. Problemas com a Petrobras
significam problemas para economia brasileira. Por esta razão o derretimento do
valor da Petrobras tem sido objeto de debates e recebe muita atenção da
imprensa e também deste blog. Nos últimos cinco anos o preço da ação da Petrobras negociada na
Bolsa de Valores de Nova York caiu quase 79%, quem comprou por US$ 50,18 em 13
de novembro de 2013 se vender hoje, 11/11/2014 conseguirá US$ 10,65. A figura
abaixo mostra o comportamento do preço das ações da Petrobras na Bolsa de
Valores de Nova York nos últimos 10 anos (todos os dados de preços de ações são do Google Finance).
Repare que houve um crescimento até junho de 2007, neste mês
ocorreu uma queda rapidamente seguida por uma recuperação que levou o preço a
um recorde de US$ 72,38 em maio de 2008. Em dezembro de 2008 o valor estava
próximo a US$ 18, a queda ocorre no período da Crise Financeira de 2008. Depois
do auge da crise o preço volta a subir, no final de novembro de 2009 passa de
US$ 51. A partir daí começa o processo de queda até que chegue aos atuais US$
10,65. Como explicar esta história? Antes de tentar será útil olhar para os
preços de outras empresas. Escolhi a ExxonMobil, de acordo com o ranking da
Forbes (link aqui) é a única das cinco maiores petroleiras do mundo que não
está sob controle estatal. A primeira do ranking é a Saudi Aramco (Arábia Saudita),
a segunda é a Gazprom (Rússia), a terceira é a National Iranian OIl Co. (Iran),
a quarta é a ExxonMobil e a quinta é a PetroChina (subsidiária da China
National Petroleum Corporation, uma semiestatal chinesa). No ranking a
Petrobras fica na 14º posição. Por ser privada vou assumir que a ExxonMobil
representa de alguma forma a tendência do mercado e não o desejo de governos.
A figura abaixo ilustra o comportamento do preço das ações
da ExxonMobil na Bolsa de Valores de Nova York. Repare que assim como a
Petrobras as ações sobem de forma consistente até o período anterior à crise e caem
de forma brusca durante o período da crise. Porém a partir de 2010 o preço
começa uma tendência de alta que segue até os dias atuais. A PetroChina,
semiestatatal, também apresenta um aumento forte até o período anterior à
crise, cai durante crise e depois torna a crescer, porém pouco, e fica
estabilizada. Chevron, Total e Shell apresentam comportamento semelhante ao da
ExxonMobil, porém com queda nos últimos meses, padrão que é seguido pela BP, porém
com uma queda forte em 2010 seguida de rápida recuperação. Enfim, enquanto a valorização
no período anterior à crise e a queda durante a crise seguiu uma espécie de padrão
a tendência de queda que a Petrobras seguiu nos últimos cinco anos não parece
ser algo do mercado, está mais parecido com algo com a empresa. Para que não
fiquem dúvidas a respeito da tendência a figura ao lado mostra o preço das
ações da Petrobras nos últimos cinco anos.
O que poderia ter causado a queda? Se fosse um fenômeno
recente, como nos casos da Chevron, Total, Shell e BP poderíamos dizer que foi
a queda no preço do petróleo. A figura abaixo mostra o preço do petróleo (West
Texas Intermediate, WTI), na esquerda estão os últimos seis meses, a tendência
de queda é clara, na direita estão os últimos dez anos. Note que o aumento
significativo do preço no período anterior à crise coincide com o aumento nos
preços das ações das petroleiras, note também que não existe uma tendência de
queda que venha desde 2010. Se não foi o preço do petróleo, o que foi? Uma
resposta rápida seria culpar o governo Dilma e o uso político que foi feito na
empresa. É uma causa possível, mas não fico satisfeito de pensar que um setor
que opera em países como Iraque, Irã, Arábia Saudita, Rússia, Nigéria e Venezuela
fique intimidade com as instituições brasileiras. Não ficaria surpreso se na
maioria destes países ocorrer tanto ou mais intervenção do governo do que no
Brasil, mesmo o em tempos petistas. Seria um problema com o Brasil? Também não
considero provável, petróleo é commoditie, aliás, não ficaria surpreso se uma
redução da demanda no Brasil melhorasse a situação financeira da Petrobrás. De
toda forma fui olhar as ações da AMBEV, embora tenha tido queda de quase 15%
nos últimos cinco anos está longe dos 79% da Petrobrás. A Embraer aumentou
86,5% nos últimos cinco anos, por outro lado a Vale teve queda de 67,5%, bem
grande, mas ainda menor que a Petrobras.
A verdade é que não estou convencido que o problema da
Petrobrás seja apenas a ingerência política (escrevo antes de saber a extensão
da investigação que a Petrobrás está sendo alvo nos EUA, a depender do que a
justiça americana concluir o custo do uso político da Petrobrás pode ficar
gigantesco) nem seja o desempenho da economia brasileira. Cada vez mais desconfio
que o problema da Petrobrás é o pré-sal. Já comentei aqui no Blog a respeito dos
custos do pré-sal (link aqui), a Petrobrás afirma que o pré-sal é viável com o
preço do barril entre US$40 e US$45, especialistas pelo mundo duvidam dos
números da Petrobrás. Alguns desconfiam do verdadeiro volume de petróleo na
área, talvez lembrem do grupo X, outros questionam os custos de transporte e
outros custos não diretamente ligados à extração.
Não sou engenheiro nem geólogo, também não tenho acesso a
relatórios técnicos sobre o pré-sal, mas olho o mercado e vejo algo que não
fecha. Leio que com o barril abaixo de US$ 80,00 a extração de petróleo em
partes do Golfo do México ficaria inviável, o mesmo aconteceria com o “oil
sands” do Canadá e o “shale gas” dos EUA, mesmo a Rússia teria problemas com o
barril abaixo de US$ 65,00. Já li até teorias de conspiração dizendo que a
Arábia Saudita está forçando o preço para baixo para quebrar a turma do “shale
gas”, cavar areia parece ser fácil, o petróleo da Arábia Saudita seria viável
mesmo com o barril a US$ 15,00. Como entender que a Petrobras encontre um “oceano
de petróleo submerso” a custo de extração relativamente baixo e ainda assim
esteja perdendo valor de mercado? Na minha avaliação o mercado já deixou claro
que não compra as estimativas da Petrobrás de custo médio de extração do
pré-sal.
Se minha avaliação estiver certa, há um bocado de
especulação nela, podemos estar com sérios problemas. O comportamento do preço
do petróleo nos últimos dez anos sugere que a atual tendência de queda pode ser
uma volta aos preços pré-2005 e não um movimento passageiro, muitos analistas
no exterior trabalham com a hipótese que a queda do preço veio para ficar, as próprias
tecnologias poupadoras de energia reforçam tal visão. O Brasil é um país que
investe pouco, nossa taxa de investimento está entre as mais baixas do mundo,
se nossa grande aposta de investimento se mostrar inviável estaremos em maus
lençóis. Se além disto a aposta afundar nossa maior empresa e comprometer a
energia no Brasil podemos ter sérios problemas no futuro próximo.
Você está levando em conta que a bolsa americana passa por nova bolha pra falar da exxon?
ResponderExcluirNão considerei a hipótese de bolha, sou daqueles que acreditam que bolha só é identificada depois que estoura, mas tomei o cuidado de usar as ações negociadas em Nova York para todas as ações que citei no post. Desta forma se existir uma bolha em formação na bolsa de Nova York ela deveria afetar as ações das outras empresas. Note que além da Exxon eu olhei a PetroChina, Shell, Chevron, Total e BP, sempre ações negociadas em Nova York.
ExcluirOlá, Roberto. Gosto do seu blog e sempre leio as suas atualizações.
ResponderExcluirPorém, há um erro. Tenho quase certeza que a AMBEV não desvalorizou nos últimos cinco anos, muito pelo contrário.
Houve SPLIT nas ações. Das maiores empresas listadas em bolsa, provavelmente a AMBEV foi a que mais cresceu, não é à toa que é a maior empresa em valor de mercado do Brasil (pelo menos era até uns meses atrás, mesmo sendo muito menor do que a Petrobrás).
Abraço!
Obrigado, vou tentar descobrir, apenas olhei para os preços. Se for o caso reforça o argumento que não é um problema das empresas brasileiras e sim algo da Petrobras.
ExcluirAmbev mais que triplicou de preço nos últimos 5 anos. O post deve ser corrigido imediatamente.
ExcluirBetão grande texto....mas antes de jogar confete,,,,,,ratifico o que o leitor soul surfer falou....houve split nas ações da ambev ( é uma empresa tão boa e o preço da ação estava muito alto, uma das razões do split ) ...... o que pode ter te levado ao erro....mas quanto ao seu otimo texto refletiu exatamente o que eu penso ja faz alguns anos.....a petrobras apostou todas as suas fichas no pré sal aacreditando que o preço do petroleo iria as loucuras.....pois é,,,,a estoria não foi bem assim.....pra mim o mercado ja esta precificando o preço da empresa tendo em vista os altos investimentos no pre sal e seu retorno no futuro....ja fui ridicularizado aqui na internet em defender esse ponto de vista,,,,,serão dias durissimos para o investidor no curto e medio prazo .....no lonnnnnngo prazo creio que teremos alguma recuperação e quem sabe com com uma melhor gestão da empresa....por ultimo imploro para você continuar com este assunto de vital interesse....
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