Em abril de 2014 fiz um post (link aqui) mostrando que o
pessoal do mercado pecava por excesso de otimismo, na época o objetivo era
desmistificar a tese que o mercado era pessimista e fazia terrorismo econômico.
A verdade é que os números do Boletim Focus (link aqui), que resume as
expectativas de mercado, mostravam o exato contrário: nos anos anteriores a
2014 o mercado estimava crescimento maior e inflação menor do que o crescimento
e a inflação que de fato ocorreram.
Hoje volto ao otimismo de mercado, mas com outra perspectiva.
Se em 2014 o otimismo do mercado era estranhamente percebido como pessimismo em
2019 a correção do otimismo do mercado durante o ano é vista como sinal de
aprofundamento da crise. Por certo a recuperação é lenta e está ameaçada, não há
questionamentos aqui, meu ponto é que a redução das expectativas de crescimento
do Focus não é um bom termômetro para isso. A verdade é que normalmente as
expectativas de crescimento para baixo são corrigidas para baixo durante o ano.
A figura abaixo mostra a expectativa de crescimento na última semana de janeiro
e na última semana de junho entre 2001 e 2019.
Com exceção do período 2006-08 e de 2010 em todos os anos a
expectativa de crescimento em junho era menor do que em janeiro. É verdade que
a queda deste ano ficou acima da média, mas isso se deve mais ao excesso de
otimismo em janeiro do que a dinâmica da economia propriamente dita. Desde que
a crise saiu do armário em 2014 até 2018 a economia brasileira encolheu em
média 0,96% ao ano, neste mesmo período o maior crescimento foi de 1,1% em
2018. De onde o pessoal do mercado tirou a ideia que o crescimento em 2019
seria de 2,5%?
Terá sido empolgação com a vitória de Bolsonaro? Pode ser,
mas, como eu já disse antes, esse padrão de superestimar o crescimento em
janeiro não é atípico. Em onze dos dezoitos anos decorridos entre 2001 e 2018 o
crescimento previsto em janeiro foi maior que o crescimento ocorrido de fato. A
figura abaixo mostra a expectativa de crescimento em janeiro e o crescimento ocorrido
no período posterior à crise.
Repare que apenas em 2017 o pessoal do mercado previu um
crescimento menos que o ocorrido, mas foi por pouca coisa. Em 2018 mesmo após
anos de crise o mercado em janeiro falava que a economia cresceria 2,66%! Os
números dos anos anteriores não sugerem que o erro de 2019 foi excesso de
empolgação com Bolsonaro, na verdade a comparação da série histórica de previsões
em janeiro e da série de crescimento do PIB aponta que costuma ocorrer um
excesso de otimismo em janeiro. Será que o pessoal do mercado acredita em Papai
Noel?
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