Os números das contas nacionais divulgados pelo IBGE (link
aqui e aqui) não deixam dúvidas: vivemos na maior crise registrada em nossa história.
Não é nenhuma surpresa, aqui no blog este é um tema recorrente (por exemplo:
aqui, aqui e aqui), mas a notícia merece ser registrada. Comecemos pelo tamanho
e amplitude da queda. A figura abaixo mostra a variação do PIB em 2016 (em
azul), a variação da produção de cada setor em 2016 (em verde) e a variação dos
principais elementos da despesa (em vermelho). Todos foram negativos!
Pelo lado da oferta a queda de 3,6% do PIB é decomposta em
queda de 6,6% na agropecuária, 3,8% na indústria e 2,7% nos serviços. Como
podemos ver a agropecuária, que nos salvou em outros anos, inverteu os papéis
em 2016 e mostrou a maior queda entre os três grandes setores. Desde que o
desempenho da agropecuária é muito afetado por condições climáticas e pela demanda
externa é possível que o setor melhore em 2016. Na indústria, um setor que está
mais a associado a dinâmica interna da economia, a queda foi de 3,8%. Na
indústria extrativa mineral, dos setores industriais o mais ligado ao que
acontece no resto do mundo, a queda foi de 2,9%. Na construção civil e na
indústria de transformação a queda foi de 5,2%, ou seja, a depender apenas de
fatores internos a queda da indústria poderia ter sido ainda mais severa. O
setor de serviços, que responde pela maior parte do PIB, teve queda de 2,7%.
Para quem gosta de esperança o lado da oferta traz uma notícia boa, a produção
de eletricidade subiu 4,4% em 2016, isso pode dar espaço para um aumento da
produção. Lembrem sempre que energia é um limitante para nosso crescimento, não
fosse a crise provavelmente já teríamos tido um colapso de energia e água.
Pelo lado da demanda houve queda de 10,2% no investimento
(FBCF), o que sugere que uma recuperação de fato ainda está distante, queda de
4,2% no consumo das famílias e queda de 0,6% no consumo do governo. Fica claro
que o esforço de ajuste do consumo foi maior nas famílias do que no governo, só
isso já é motivo suficiente para rechaçar qualquer proposta de aumento de
impostos. Não faz sentido penalizar quem fez um ajuste mais intenso para
facilitar a vida de quem fez o menor ajuste. As importações tiveram queda
10,3%, magnitude semelhante a queda no investimento, e a exportações aumentaram
1,9%. De fato, com a crise que estamos vivendo, é de se esperar que as pessoas
comprem menos importados e as firmas façam um esforço maior para conseguir
mercados externos.
Olhando a dinâmica da crise é possível que ainda estamos
descendo, porém a uma velocidade menor. A figura abaixo mostra a taxa de
crescimento do PIB acumulada em quatro trimestres em relação ao mesmo período
do ano anterior. Repare que no primeiro e segundo trimestres de 2016 a queda
foi de mais de 4,5% (-4,7% e -4,8%, respectivamente), no terceiro trimestre a
queda foi de 4,4% e no quarto trimestre a queda foi de 3,6%. Um otimista diria
que estamos melhorando, eu prefiro dizer que estamos piorando menos.
A verdade é que estamos voltando para o começo da década em
termos de PIB. Se considerarmos as séries encadeadas com valores de 1995, uma
medida de quantidade que tenta eliminar variações de preços relativos, o valor
observado no quarto trimestre de 2016 (161,5) é menor que o observado no terceiro
trimestre de 2010 (163,6). A figura abaixo mostra o valor do índice no quarto
trimestre de cada ano, o retrocesso é inegável.
É sempre importante considerar a taxa de investimento e a taxa
de poupança. A taxa de investimento aponta os rumos da recuperação, para que a
produção aumente de forma consistente a médio prazo é preciso investir. A taxa
de poupança mostra nossa capacidade de financiar o investimento. A figura
abaixo mostra que ambas estão caindo, mas a taxa de poupança está caindo mais
devagar que a taxa de investimento, ou seja, a diferença entre as duas está
caindo. De fato, a diferença está nos níveis de 2013, antes da crise tomar
força e ficar explícita. Isso significa que precisamos menos dinheiro do
exterior para financiar o investimento, mas não é para comemorar, se a taxa de
investimento voltar a crescer, condição necessária para uma recuperação saudável
da economia, vamos de ter nos financiar no resto do mundo ou poupar mais.
Cara, o seu blog é bom, mas o layout dele é terrível!
ResponderExcluirParabéns por mais um texto esclarecedor!Como sou leigo, gostaria de entender a parte que cabe ao gasto do governo no item investimento?Pois vejo a oposição culpando o governo por em plena crise em vez de aumentar gastos está é reduzindo com o ajuste fiscal.Na verdade tenho dúvida sobre o consumo, investimento e gasto do governo, e até que ponto isso ajuda no crescimento,pois já vi também economistas falarem que 60% do PIB é consumo das famílias.Será que não foi por isso que os governos petistas incentivavam muito a demanda?
ResponderExcluirAbraço!
Em "Desde que o desempenho da agropecuária é muito afetado por condições climáticas e pela demanda externa é possível que o setor melhore em 2016", não deveria ser 2017? Em segundo lugar, há um erro de digitação no gráfico da taxa de poupança e investimento. No mais, ótimo post, com informações enriquecem bastante o debate sobre a atual situação brasileira.
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