Quando o FED começou a imprimir dólares no atacado nosso governo falou de tsunami monetário e guerra cambial. A preocupação do governo era com efeitos da valorização do real. Na época discordei e disse que a política monetária americana era boa para o Brasil. Meu motivo era simples: o Brasil é um grande importador de capitais, com o FED mantendo os juros nominais nos EUA próximos a zero teríamos acesso a capital barato. Bem utilizado este capital poderia ter financiado grandes transformações que deixassem a economia brasileira pronta para inevitável alta dos juros americanos. O governo preferiu seguir sua tese de cambial e mudou a política monetária para desvalorizar o câmbio. Conseguiu o que queria, Dilma começou seu mandato com o dólar valendo em torno de R$ 1,60 e hoje já vale R$ 2,40. Nenhum dos resultados previstos aconteceram: a taxa de investimento não subiu (e olha que fizemos os investimentos da Copa), a balança comercial piorou e a indústria continuou como estava.
Pois bem, agora que começam a aparecer ameaças de reversão da política monetária americana fica claro o que eu falava. Nos últimos anos, mais até do que as commodities, foram os juros internacionais baixos que garantiram o funcionamento da economia brasileira. Se este padrão de saída de dólares continuar nos próximos anos uma desvalorização do real será inevitável, se o câmbio estivesse a R$ 1,60 isto não seria problema, com o câmbio a R$ 2,40 é possível que a inflação responda e o BC tenha que aumentar os juros a patamares absurdamente altos, como na década de 90, simplesmente para evitar uma inflação acima de 10% ao ano. Mais ainda, como não fizemos a infraestrutura necessária para o país, inclusive a indústria, crescer vamos ter de fazer com juros mais altos. Qualquer pessoa que já reformou a casa tendo de pegar dinheiro emprestado sabe a diferença entre construir com juros altos e construir com juros baixos. Enquanto perseguíamos a saída mágica do câmbio também podemos ter perdido a chance de ajustar o sistema tributário e a previdência em um ambiente de juros baixos. Como são ajustes inevitáveis terão de ser feitos mesmo com juros altos, sob pena da economia continuar com crescimento medíocre e com inflação e alta e possivelmente crescendo. A lista de oportunidades perdidas e interminável.
E agora o que fazer? Temos de fazer o que não fizemos. Em primeiro lugar deixar o câmbio flutuar mesmo que isto signifique mais desvalorização do real, se a inflação apertar a saída é elevar os juros até onde dor preciso. Além do câmbio flutuante é preciso reconquistar a credibilidade do BC no combate a inflação e adotar um sistema de contabilidade pública transparente. Um ajuste fiscal tanto quantitativo quando qualitativo seria bem-vindo. Em suma, é preciso refazer o que foi desfeito a partir de 2006 e demolido no governo Dilma.
Depois é seguir buscando modelos de
É claro que tudo isto que falei precisa de tempo e dinheiro para ser feito. Todo iniciado em economia já foi apresentado aos juros como sendo o preço do tempo e/ou do dinheiro. Entendeu a razão do tsunami monetário americano ter sido bom para o Brasil? Precisamos de tempo e de dinheiro, quanto mais baratos estiverem o tempo e o dinheiro melhor estaremos.
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