Teve quem visse os resultados do PIB no segundo semestre como um sinal de uma nova era de crescimento e/ou de que as mudanças na política econômica que foram implementadas no governo Dilma estavam corretas. A ideia é que estas políticas causariam uma
queda do crescimento no primeiro momento, mas, na sequencia, a taxa de
crescimento aumentaria em um padrão que lembra a letra J, primeiro cai e depois cresce. Infelizmente os
que viram o crescimento do segundo semestre como a subida do J estavam errados, os números do terceiro semestre vieram de acordo com as projeções mais pessimistas. De
fato a grande maioria dos analistas econômicos nunca comprou a história do J e previa uma retração do PIB,
o que de fato correu.
Aparentemente o governo também não comprou a história do J, o fato é que de lá para cá
(com uma ligeira pressão do povo nas ruas) o governo perdeu o ânimo inicial de
mudar a política econômica. O Banco Central voltou a aumentar juros para
combater a inflação, o que impediu o descontrole inflacionário, mas ainda não
foi suficiente para trazer a inflação para o centro da meta. Os ministros
pararam de pedir desvalorização do dólar para proteger a indústria. O governo
colocou as privatizações para andar. Foram medidas tímidas, mas que sinalizaram
que a loucura do governo estava temporariamente parcialmente controlada.
Pois bem, o governo está em uma encruzilhada, pode retomar o
desenvolvimentismo dos seus primeiros anos ou pode seguir o caminho da
estabilização, privatizações e reformas. Como vimos em junho a primeira opção é
muito eficiente em colocar o povo nas ruas, principalmente quando preços que
atingem muita gente começam a subir. Para que a segunda opção possa funcionar medidas urgentes devem ser tomadas e políticas ruins devem ser revertidas, cito algumas:
Deixar o câmbio flutuar. Se isto levar a uma desvalorização que
assim seja, da mesma forma assim seja se isto levar a uma valorização. As
intervenções visando ora valorizar ora desvalorizar o câmbio geram volatilidade
que apenas serve para contrair o investimento.
Não ter medo dos juros altos. A política monetária deve ter como
objetivo controlar a inflação. Esta afirmação pode até gerar polêmica em países
com altas taxas de desemprego, mas em um país com desemprego baixo e que usa o
sistema de metas de inflação não tem nem o que discutir. Como não bastasse ser
o que se espera de um Banco Central que segue um regime de metas, a regra de
aumentar ou diminuir os juros de acordo com as previsões de inflação ainda
tornam a política monetária previsível, o que é muito bom.
Perder a vergonha de privatizar. Com exceção de alguns grupos
presos no século passado todo mundo já sabe que privatizar é bom para todos. Já
foi o tempo que privatizar era bandeira dos liberais, hoje é uma medida
técnica. Diversos governos socialistas da Europa lideraram privatizações, aqui
no Brasil os sociais democratas lideraram as privatizações e hoje é o PT quem
privatiza. Já perdemos muito tempo e não temos porque perder mais tempo. O
Leilão de Libra foi simbólico, o último leilão de aeroportos foi a prova do
amadurecimento do governo neste sentido.
Não se brinca com conceitos nem com definições. Contabilidade
nacional e finanças são públicas passam periodicamente por revisões de conceitos,
isto não é um problema. Mas mudar definições de conceitos com objetivo de sair
melhor na foto não funciona. Pior, a medida que fica clara a manipulação os
interessados perdem a confiança nas contas públicas e deixam de considerar
mesmo os resultados positivos que de fato ocorre. Fica como na história onde
todos mentem, mas não tem problema porque ninguém escuta o que os outros dizem
e os que escutam não acreditam.
Mais dinheiro não significa mais investimento. Colocar dinheiropara estimular investimento só funciona quando o problema do investimento é afalta dinheiro. Com taxas de juros nominais próximas à zero nas principais
economias do mundo alguém pode acreditar que japoneses, alemães ou chineses não
investem no Brasil por falta de crédito? Basta ver do reclamam os investidores:
insegurança jurídica, falta de infraestrutura, escassez de capital humano e
coisas deste tipo. Não adianta dar mais crédito senão resolver estes problemas,
o fato do BNDES ter colocado quase R$ 400 bilhões para financiar investimento
nos últimos cinco anos e a taxa de investimento não ter subido é forte indício
que falta de dinheiro não é problema do investimento.
Educação importa. Não se trata de colocar crianças na escola, isto
é importante, mas não resolve
o problema da educação. É preciso garantir que as
melhores e mais modernas ferramentas de gestão e técnicas de ensino sejam
utilizadas em nossas escolas. É inadmissível que o Brasil permaneça na parte debaixo das avaliações internacionais de educação. Já se perdeu muito tempo
tentando desviar da questão da educação, é preciso encarar o problema de frente
e cobrar resultados para ontem.
É claro que os pontos acima não esgotam a agenda para uma
nova política econômica, mas certamente fazem parte desta agenda. Continuar
buscando saídas fáceis via manipulação de preços (câmbio, juros, salários, combustíveis
e etc) é nos manter com taxas de crescimento medíocres. Como alento para os que viram os números do segundo semestre como a aurora de uma nova era de crescimento e felicidade generalizada deixo a companhia do poeta e do maestro.
Perfeito comentário!
ResponderExcluirProfessor, conhece esse novo livro da profª Terra?
ResponderExcluirhttp://www.elsevier.com.br/site/produtos/Detalhe-Produto.aspx?tid=94282&seg=3&cat=276&tit=FINAN%u00c7AS+INTERNACIONAIS