Hoje o IBGE divulgou as contas nacionais referentes ao
primeiro trimestre de 2019 (link aqui). Na comparação com trimestre anterior
houve uma queda no PIB de 0,2%, na comparação com o mesmo trimestre do ano
anterior houve um crescimento de 0,5%. O resultado liga o sinal de alerta em
relação ao padrão de lenta recuperação que vinha sendo observado anteriormente
e que pode ser substituído por um aprofundamento da crise.
Quem acompanha o blog sabe que considero a recuperação lenta
o caminho mais seguro para que o Brasil volte a crescer sem esbarrar em novas
crises no futuro próximo. A verdade é que durante quase uma década, mais ou
menos de 2006 a 2014, o uso indiscriminado de políticas de estímulo induziu
investimentos errados, ou seja, investimentos para produzir o que não era
desejado e/ou para produzir de forma ineficiente o que era desejado. Sair da
crise de forma consistente envolve depreciar o investimento errado que seria
substituído por investimentos corretos, esse é um processo longo e penoso. Estímulos
durante esse período de recuperação podem até gerar algum crescimento, mas na
prática significa estimular o resultado de investimentos errados, ou seja, no
longo prazo tais estímulos estariam agravando a crise.
A figura abaixo mostra a taxa de crescimento do PIB em
relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) e em relação ao mesmo trimestre
do ano anterior. Na figura é possível observar que o processo de lenta recuperação
iniciado em meados de 2016 começa a perder fôlego em meados de 2018 e agora
parece estar dando lugar a um processo de aprofundamento da crise.
Se a reversão é um fenômeno temporário decorrente da
retração do investimento devido a incertezas relativas ao processo de reformas,
especificamente a reforma da previdência, ou é um fenômeno mais profundo o
tempo dirá. A figura abaixo mostra a taxa de crescimento do consumo das
famílias, consumo do governo e do investimento (FBPC). A redução na taxa de crescimento
do investimento pode ser um argumento em favor da tese que o mercado está
esperando a reforma para investir, por outro lado, pode sinalizar uma recuperação ainda mais lenta da economia nos próximos meses. Na comparação com o trimestre anterior a situação
fica mais grave, com ajuste sazonal o investimento reduz em 1,7%.
Desde o começo do ano defendo a tese que uma reforma da
previdência rápida, mesmo que tenhamos de discutir outra reforma em alguns
anos, é mais recomendável que perder muito tempo buscando uma reforma mais
robusta. A demora em aprovar a reforma pode contrair ainda mais o investimento
e o consumo das famílias o que pode minar a popularidade do governo e
dificultar a aprovação de qualquer reforma.
A decomposição setorial do PIB mostra que em relação ao
mesmo trimestre do ano anterior ocorreu uma retração de 0,1% na agropecuária (seroe
que representa cerca de 5,1% do PIB), uma retração de 1,1% na indústria (21,6%
do PIB) e um crescimento de 1,2% nos serviços (73,3% do PIB). Na comparação com
o trimestre anterior a retração na agropecuária foi de 0,5%, na indústria foi
de 0,7% e o crescimento dos serviços foi de 0,2%. A figura abaixo mostra a taxa
de crescimento do setor de serviços e do PIB, a redução do ritmo de crescimento
dos serviços pode sinalizar para uma redução do ritmo de criação de empregos.
A próxima figura mostra o crescimento em setores da
indústria. A forte queda na indústria extrativa no primeiro trimestre de 2019
ajuda a explicar o fraco desempenho da indústria, por outro lado, a queda na
indústria de construção e na indústria de transformação mostra que os problemas
na indústria de extração em grande parte associados à Vale não explicam
sozinhos o problema na indústria.
Por ser particularmente sensível a política econômica e ao desempenho
da economia a indústria de transformação merece ser analisada separadamente. A
figura abaixo mostra o crescimento da indústria de transformação e do PIB. A
queda na taxa de crescimento da indústria de transformação iniciada em 2018
parece ganhar força de forma que neste primeiro trimestre de 2019 a indústria
de transformação volta a encolher. De forma isolada isso não seria um grande
problema, no quadro geral ajuda a compor a ideia que a economia brasileira está
parada esperando as reformas.
O quadro geral é de uma economia que está em ponto morto
esperando para definir que caminho vai tomar. Se nos próximos meses forem
aprovadas reformas que sinalizem para redução do problema fiscal, abertura da economia e melhora no
ambiente de negócios é provável que os investimentos certos retornem e tragam
de volta o processo de recuperação que está interrompido. Por outro lado, se as
incertezas continuarem com agravamento do problema fiscal o investimento
dificilmente retornará deixando o governo com a difícil escolha de permitir o
aprofundamento da crise ou tentar estimular a economia agravando as distorções
existentes e comprometendo ainda mais o lado fiscal. Como disse Paulo Guedes
escapamos do destino da Venezuela, mas o destino da Argentina ainda é uma
possibilidade (link aqui).
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