domingo, 4 de fevereiro de 2018

Situação fiscal: se tudo der certo ainda estaremos encrencados.

Mês passado o Ministério da Fazenda publicou o Relatório Anual da Dívida Pública Federal relativo ao ano de 2017 (link aqui). No relatório estão muitas informações essenciais para entender o tamanho do problema fiscal em que estamos, uma informação me pareceu resumir o tamanho do problema e, por isso, resolvi compartilhar com os leitores do blog. A figura abaixo está na apresentação (link aqui) que acompanha o texto principal e mostra as projeções da dívida bruta do governo geral.




No parágrafo anterior a versão da figura que aparece no texto principal (pg. 8) está a seguinte explicação:

“Considerando-se o espectro de risco, as simulações mostram a DBGG estabilizando-se ao redor de 80% do PIB nos cenários centrais, cujo cenário base incluem como premissas o cumprimento do teto dos gastos e os parâmetros macroeconômicos divulgados pela Secretaria de Política Econômica (SPE). Nas situações em que as reformas sejam implementadas integralmente, a DBGG tende a assumir trajetória estável. Por outro lado, a ausência de reformas promotoras da consolidação fiscal pode resultar em cenários mais adversos, nos quais a DBGG poderia superar 90% do PIB.”

Da figura e do parágrafo citado aprendemos que se tudo der certo e o governo conseguir respeitar o teto de gastos a dívida bruta vai estabilizar em 80% do PIB. Se o governo não conseguir respeitar o teto a dívida pode ultrapassar 90% do PIB sem garantia que vai estabilizar em algum ponto. Sejamos otimistas para além do razoável, o próprio governo parece estar desanimado em relação a aprovação da reforma da previdência que é fundamental para conseguir respeitar o teto de gastos nos próximos anos, e fiquemos com a hipótese que a dívida estabiliza em 80% do PIB. Quão razoável é esse patamar?

Para responder a pergunta peço que o leitor repare na figura abaixo, nela estão listadas a relação entre dívida pública e PIB nos países emergentes (emergentes da Europa, América Latina e Caribe, emergentes da Ásia e Comunidade dos Estados Independentes) com mais de dez milhões de habitantes que estão na base de dados do FMI, para evitar efeitos pontuais foi usado o valor médio dos anos de 2015, 2016 e 2017. Repare que apenas a Ucrânia tem uma dívida bruta superior a 80% do PIB. O valor médio da dívida como proporção do PIB é de 41%, a mediana é de 36% e apenas nove dos trinta e um países da amostra apresentam dívida brita acima de 50% do PIB. A Rússia tem uma dívida de 16% do PIB, a China de 44%, a Índia de 69%. Na América Latina a Argentina deve 55% do PIB, o Chile 21% e o México 55%.





A conclusão é preocupante: se tudo der certo no esforço fiscal proposto pelo governo vamos ser o país mais endividado da América Latina e, com a possível exceção da Ucrânia, também vamos ser o mais endividado dos emergentes. Mas pode ficar tranquilo, um economista falou no rádio que nossa dívida é baixa quando comparada a de países como Japão, França e outros do clube dos ricos...

2 comentários:

  1. Volto a dizer que a reforma previdenciária, se houver, será a possível e não a necessária (ou desejável, como preferir). São muitos grupos de interesses contrariados que farão pressão e o governo não suprimirá "direitos adquiridos". Aliás, fala-se do peso dos militares no rombo da Previdência e o próprio Jungmann, ministro de Temer, disse que não haveria alteração em relação aos benefícios previdenciários da turma da caserna.
    Não escaparemos do desastre. Haverá a necessidade de demissão em massa de funcionários públicos no próximo quadriênio e, talvez, já vejamos o reflexo de nossa omissão enquanto sociedade e de 13 anos de incompetência petista numa elevação geral de preços.

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  2. Aff.. fico doido com esses economistas que querem comparar dívida de País rico com a do Brasil. Parece que não sabem que a dívida aqui se dá por políticas progressistas, péssimos investimentos, corrupção e afins.

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