De saída devo dizer que a ideia do governo federal avaliar
todas as escolas do país não me agrada, é muito poder nas mãos dos que em tese
deveriam estar nos servindo. Dito isto confesso que não resisti a dar uma
olhada nos resultados do Ideb (Índice Nacional de Educação Básica, link aqui)
para 2013. Como o nome diz o índice é uma tentativa de avaliar e classificar as
escolas de educação básica. Várias coisas me chamaram atenção, em tempo farei
comentários a respeito de cada uma delas, hoje quero comentar o que, apesar de
não ser nenhuma surpresa, me chamou mais atenção: a gigantesca diferença entre
a qualidade das escolas públicas e das escolas privadas. Para fazer os
comentários usei os números relativos aos estudantes de oitava e nona série da
rede pública e da rede privada. Tentei usar os estudantes que terminaram o
terceiro ano do ensino médio, mas os dados não estavam disponíveis para a rede
pública.
Os dados mostram uma realidade brutal. A melhor avaliação da
rede pública foi em Minas Gerais e a nota foi 4,6. A pior avaliação da rede
particular foi em Alagoas, a nota foi 5,2. Isto quer dizer que um estudante
retirado aleatoriamente da melhor rede pública do país deverá ter um desempenho
inferior a um estudante escolhido aleatoriamente da pior rede privada do país.
Notem que isto não significa que não existe escola pública melhor do que alguma
escola particular, mas sugere que se o aluno não der muita sorte de estar em uma
destas escolas públicas de destaque ela terá um ensino muito pior que o dos
alunos da rede particular. A menor diferença entre a nota da rede privada e da
rede pública aconteceu em Goiás, naquele estado a rede pública foi avaliada com
nota 4,5 e a rede privada recebeu nota 5,8. A diferença, que foi de 1,3 pontos,
pode parecer pequena, mas repare que corresponde a 28,9% da nota da rede
pública, é muita coisa. A figura abaixo ilustra a distância entre o ensino
público e o ensino privado. Os pontos em laranja representam a nota da rede privada, os pontos em verde representam as notas da rede público. Repare que em todos os estados existe uma diferença gigantesca entre os pontos.
Na década de 1990 foi cunhada a expressão estabilidade inaceitável
para se referir à distribuição de renda no Brasil, naquela época o que
incomodava era que além da renda brasileira ser muito concentrada os dados não
apontavam nenhum sinal que haveria uma mudança na distribuição de renda.
Independente da opinião que cada um tenha a respeito da distribuição de renda,
o fato é que a partir deste diagnóstico foram desenhadas políticas públicas que
conseguiram mudar a estabilidade que era considerada inaceitável. Ao olhar a
distância entre a avaliação da rede de ensino pública e privada eu vejo um
fosso inaceitável. Se é verdade que a educação é fundamental no nível de renda,
eu acredito que seja, esse fosso é uma força a perpetuar a desigualdade e,
talvez mais importante, a quase impossibilitar o crescimento da economia
brasileira. Se os brasileiros pobres não recebem uma educação adequada como
esperar que em algum ponto do futuro venham a ser altamente produtivos e capazes
de gerar uma renda alta?
Acredito que um sistema de vouchers onde o governo transfira para as famílias de baixa renda
um determinado valor que deverá ser usado para pagar uma escola privada é o
melhor caminho para resolver esse problema. Entendo que sou minoria, a maioria dos
brasileiros parece preferir que exista um sistema público e gratuito de ensino,
vivo com isto. Porém apelo aos que estão com a maioria para que encontrem uma
forma do sistema público e gratuito ser também de qualidade, mas façam isto
rapidamente, para as crianças que estão ficando para trás cada ano é uma
eternidade.
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