Tenho andando atarefado e sem tempo para comentar o tanto de
coisas que estão acontecendo na economia. Aproveito o sábado para registrar
dois temas que foram discutidos durante a semana. O primeiro, que nunca sai de
pauta, diz respeito ao crescimento. Governistas insistem em colocar no resto do
mundo a culpa pelo baixíssimo crescimento da economia no governo Dilma. Chega a
ser ridículo que um dos países mais fechados do mundo culpe a falta de demanda
externa pelo baixo crescimento, mais ridículo do que isso só um governo que em
2013 previu um crescimento real de 4% para 2014 (link aqui) culpe uma crise que começou em
2008 por um crescimento de menos de 0,5% (a mediana das previsões está em 0,3%)
em 2014.
Para os que ainda têm dúvidas quanto ao caráter local de
nossa crise gostaria de mostrar um par de gráficos que fiz para uma palestra na
embaixada do Reino Unido aqui em Brasília. O primeiro mostra o crescimento de
Brasil, Chile, Rússia, EUA e Reino Unido entre 2000 e 2011, o segundo mostra o
crescimento dos mesmos países entre 2011 e 2014 (dados do FMI). Os países foram
escolhidos de forma a comparar o Brasil com um país da América Latina, um dos
BRICS (colocar a China poderia parecer apelação), com os EUA (economia líder) e
com o Reino Unido (anfitrião do evento). Entre 2000 e 2011 crescemos mais que
Reino Unido e EUA e menos que Rússia e Chile. Um resultado esperado, se
considerarmos os avanços sociais um bom resultado. Estávamos nos aproximando
dos países ricos, mais lentamente que Rússia e Chile, mas a passos firmes. Do
Chile já falei aqui, sobre a Rússia falarei outro dia, apenas registro que
estamos bem à frente dos russos na consolidação de nossa democracia. Quando
olhamos para o período 2011 a 2014 continuamos atrás do Chile e da Rússia, até
aqui tudo bem, mas ficamos atrás dos EUA e, pasmem, do Reino Unido. No governo
Dilma nós voltamos a nos distanciar da economia líder, pior, crescemos menos
que o Reino Unido, um país rico e bastante atingido pela crise. Se mesmo assim
o governo insiste em culpar a crise por nossos problemas eu só tenho a lamentar
e esperar que a fase da negação passe logo, existe uma alta probabilidade da
presidente ser reeleita e é impossível corrigir erros não reconhecidos.
O outro ponto diz respeito ao saque do fundo soberano. Quase
tudo que eu poderia dizer foi dito pelo excelente blog Beyond BRICS do FT no
texto onde definiu de forma brilhante a economia brasileira com em stagno-squeeze
(algo como espremendo para tirar a última gota), link aqui. Destaque para o estranho fato de
o Brasil ter um fundo soberano sem ter superávit, ou seja, se endividou caro
para aplicar barato. Como bem resumiu Allan Lopes no comentário no FB: “Governo
pegou dinheiro no cheque especial pra botar na poupança, agora tá sacando da
poupança pra fazer mais gastos, num período de inflação já fora do limite
superior da meta. Genial.”. É por aí. Mas tem um ponto que não está no FT e que
faz tempo eu quero comentar, trata-se de fazer justiça aos amigos keynesianos
de carteirinha, daqueles que acreditam que política fiscal pode gerar
crescimento até mesmo no longo prazo.
A base para defender política fiscal como forma de estimular
o crescimento é a ideia de garantir aos empresários a demanda futura para os
investimentos. Por esta lógica o empresário não investe por temer falta de
demanda no futuro, então o governo diz que ele pode investir que o gasto
público garante a demanda. Não concordo com nada desta ideia e devo dizer ao
leitor que os principais autores keynesianos modernos, chamados de
novos-keynesianos, não acreditam que isto funcione no longo prazo, vários não defendem este tipo de lógica nem
mesmo no curto prazo. Ao expandir o gasto, aponto de ter de sacar do fundo para
tentar fechar a conta, e simultaneamente negar que está expandindo gastos e
anunciar insistentemente corte de gastos o governo destrói qualquer
possibilidade de estimular o investimento via política fiscal. É como dizer para
o empresário: investe agora que o gasto está alto que quando você estiver
produzindo eu corto o gasto e tiro sua demanda. Claro que na minha avaliação
uma política de aumentar os gastos e anunciar que os gastos permanecerão altos
seria tão desastrosa quanto a atual, mas eu não me pretendo keynesiano, nem
novo, nem velho, nem pós, nem neo... também não culpo os outros por meus erros.
Roberto, seria interessante, para enriquecer sua nota, colocar na ponta dos dois gráficos a taxa acumulada de crescimento em cada período para cada país. Incluiria também a curva da evolução do PIB global. Faria ainda um gráfico contínuo, de 2000 a 2014, para que não paire duvida de que a ruptura do processo de crescimento se deve a escolhas ruins de política econômica, não apenas aos problemas globais. Abs.
ResponderExcluirA taxa acumulada poderia ajudar, mas como os períodos possuem tamanhos diferentes eu teria que calcular a média o que seria mais ou menos o que está no gráfico. Quanto ao PIB mundial eu não creio que seja útil para fins de comparação. Meu ponto é que esta é uma crise de países ricos, não (pelo menos até agora) uma crise de países em desenvolvimento, logo o grupo de comparação é o de países em desenvolvimento. Não foi o caso do post porque a apresentação era para o Reino Unido, mas fiz isto em outros posts. Ressalto que não é a primeira vez que crises em países ricos e em desenvolvimento ocorrem de forma separada. As décadas de 80 e 90 são lembradas como tempos de prosperidade no mundo rico.
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