Este mês o IPCA teve variação negativa, a turma das redes sociais já saiu para festa ou ataque de acordo com as cores políticas de cada um. De um lado parecem esquecer que a queda no IPCA foi por conta de uma intervenção para lá de polêmica da União nos impostos cobrados pelos estados. O custo da intervenção pode cair no colo da União mais cedo do que se pensava agravando o problema fiscal. A última vez que vi quatro estados (Alagoas, Maranhão, São Paulo e Piauí) já tinham conseguido liminares do STF para suspender pagamentos da dívida com a União por conta das perdas com a redução do ICMS. Do outro lado, há quem fale dos perigos da deflação e coisas do tipo. Não apenas esses perigos, se é que existem mesmo, podem ser bem menores do que apregoam alguns caros colegas de profissão como o que aconteceu um julho está longe de ser um episódio típico de deflação.
Uma olhada nos grupos que forma o IPCA ajuda a entender o
que está acontecendo. A figura abaixo mostra cada um dos nove grupos ordenados do
de menor para maior variação, em azul escuro está o índice geral. No grupo “Alimentação
e bebidas” o crescimento foi de 1,3%, acima do crescimento de 0,8% em junho,
outro grupo com crescimento maior do que 1% no mês foi o de “Despesas pessoais”
que cresceu 1,13% em julho contra 0,49% em junho. Os grupos “Vestuário”, 0,58%,
e “Saúde e cuidados pessoais”, 0,49%, também mostraram crescimento alto e
preocupante.
Na outra ponta é possível ver a forte queda nos grupos “Transportes”
e “Habitação”, as duas quedas estão diretamente relacionadas à marretada nos preços
via corte de impostos com direito a lei obrigando postos a mostrar a variação
nos preços no melhor estilo fiscais do Sarney. Uma olhada nos componentes do
grupo “Habitação” deixa isso claro, itens como “Aluguel e taxas”, 0,86%, e “Condomínio”,
0,61%, tiveram altas significativas em julho, mesmo assim o grupo teve variação
de -1,05% por conta da forte queda em “Combustíveis e energia” que caiu 4,26%
por conta da queda de 5,78% em “Energia elétrica residencial”. Da mesma forma,
a queda de 4,51% em transportes foi puxada pela queda de 14,15% em “Combustíveis
(veículos)”. A análise dos grupos e subgrupos do IPCA deixa claro que a redução
de preços em julho está mais relacionada à intervenção pontual do governo do
que a uma redução dos desequilíbrios macroeconômicos que fizeram a inflação
disparar em primeiro lugar.
São conhecidos os perigos de vender ilusão em economia. Friedman
dizia que a inflação é sempre e em qualquer lugar um fenômeno monetário,
Sargent mostrou que a origem desse fenômeno costuma estar em desequilíbrios
fiscais. Redução de impostos, ainda que bem-vindas, não resolvem nem o problema
monetário nem o fiscal. Na pior das hipóteses o corte de impostos agrava o problema
fiscal nos fazendo trocar um imposto muito ruim, ICMS sobre combustíveis, pelo
pior de todos os impostos que é a inflação. Na melhor das hipóteses o BC consegue
controlar a inflação, mas ao custo de taxas de juros ainda maiores do que as
que prevaleceriam em uma situação de melhor equilíbrio fiscal.
De toda forma, se o governo está convencido que inflação é
doença dos preços e não da moeda, sugiro uma medida para limitar impostos sobre
a melancia. Vocês acreditam que o preço da danada subiu 31,26% em julho? Só
podia ser vermelha por dentro...
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