Pior do que uma imprensa golpista é uma imprensa governista.
Hoje no Facebook circulou uma matéria do Estadão afirmando que “Inflação média
de Dilma é a mais baixa desde o Plano Real” (link aqui). Estranhei e fui ler a matéria completa, logo abaixo da chamada está escrito: “Em 3 primeiros anos, alta de preços do atual
governo é menor que a de Lula e FHC”. Pensei que poderia ser verdade em relação
aos primeiros mandatos de FHC e Lula, mas estranhei que fosse válido para os
segundos mandatos. Lendo a matéria percebi que segundo o Estadão só contam os
primeiros mandatos, o prestigioso jornal paulista acredita que segundo mandato
não conta. Com este critério o Estadão conseguiu de fato justificar o título da
matéria uma vez que nos períodos 1995/1997, 2003/2005 e 2011/2013 a inflação média
foi de 12,4%, 7,53% e 6,08%, respectivamente. O que aconteceu em 1998, 1999,
2000, 2001, 2002, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 não interessa a quem escreveu a
manchete.
Como sou um sujeito persistente continuei lendo a
reportagem. Foi assim que descobri que a inflação de 2.447,15% em 1994 e de 916,43%em
1995 podem ter tido algum efeito no triênio 1995/1997, quem poderia imaginar?
Naturalmente quem elaborou a manchete não achou que esta singela informação
poderia ter algum efeito no julgamento de quem quer que tenha lido a seção de
economia do Estadão. Da mesma forma o corpo da reportagem faz menção ao
desarranjo da economia em 2002, nenhuma referência foi feita a desconfiança do
mercado com a eleição de Lula.
Continuo a leitura, sou mais persistente do que o amigo imagina,
para finalmente encontrar a inflação média em cada mandato. Os números são:
FHC1: 9,56%, FHC2: 8,78%, Lula1: 6,43%, Lula2: 5,14% e Dilma: 5,95%.
Imediatamente pensei em uma manchete alternativa:” Governo Dilma é o Primeiro a
Aumentar a Inflação Média desde o Plano Real”. Ao contrário da manchete do
Estadão a minha é fiel aos fatos e não precisa sumir com nenhum ano. Não me dei
por satisfeito, 5,95% de inflação média para os quatro anos de Dilma me pareceu
um número baixo. Na nota de rodapé o autor da matéria diz que para 2014 usou o
valor estimado pelo Banco Central, mas abaixo vejo que este valor é de 5,55%,
ou seja, no cálculo da média o autor da reportagem usou 5,55% com a inflação de
2014. O número me pareceu estranho, fui checar no Relatório Focus, escolhi o
mais recente disponível que é o de 29/08/2014 (link aqui). Nele vejo que a
expectativa do mercado para inflação de 2014 é de 6,27% pela mediana e de 6,30%
se considerarmos as cinco instituições que mais acertam as previsões. Usando a
inflação de 6,27% para 2014 a inflação média do governo Dilma passa a ser
6,13%. Ainda é menor que as de FHC e Lula 1, mas fica ainda mais evidente que a
inflação voltou a crescer. Feitas as correções o gráfico que encerra a
reportagem deveria ficar mais ou menos como o gráfico abaixo.
Daí eu pergunto ao leitor: Qual a manchete mais fidedigna
aos fatos? A minha ou a do Estadão? E olhem que eu nem comentei que o aumento da
inflação veio acompanhado de uma queda no crescimento, se tivesse minha
manchete poderia ser: “Entre Aumentar a Inflação e Gerar uma Recessão Governo
Dilma Escolheu os Dois”.
Recessão faz diminuir a inflação. Teoria econômica ortodoxa continua funcionando.
ResponderExcluirAgora os economistas campineiros vão rever suas posições heterodoxas e cocordar que eles estavam errados ao dizer que recessão não serve para combater a inflação. Hahahaha.....
A manchete do Estadão esta correta e você errado.
ResponderExcluirA matéria é de janeiro deste ano e deixa claro que compara os 3 primeiros anos dos governos FHC, Lula e Dilma. E não poderia ser diferente, visto que esta última não ter, na ocasião, mais do que três anos como parâmetro de comparação com os outros dois,