Aécio Neves foi ao Jornal da Globo e não respondeu de forma clara
o que fará com a taxa de juros em 2015. A primeira vista pode parecer mais um
caso onde um candidato tenta esconder medidas impopulares que terá de tomar
caso seja o eleito. Olhando com mais cuidado pode ser que Aécio não tenha
respondido pelo simples fato que é impossível responder a pergunta. Não tenho
como saber o que se passava na cabeça de Aécio e, portanto, não descarto
nenhuma das duas possibilidades como a real motivação de Aécio. Mas acredito
que é válido aproveitar a oportunidade para explicar a razão de ser
praticamente impossível afirmar o que deverá ser feito com a taxa de juros em
2015.
Comecemos com alguns conceitos de economia (é chato, mas foi
você que veio ler o blog de um economista). Existe um grande debate a respeito
da relação entre inflação e variáveis como nível de atividade e desemprego,
porém, a sabedoria padrão relativa ao tema diz que a inflação depende da
inflação esperada, do desemprego e de fatores aleatórios que possam afetar a
economia. A relação pode ser escrita na forma:
Inflação = Inflação Esperada – constante*(Taxa de Desemprego – Taxa Natural de Desemprego) + Fator Aleatório
Naturalmente não cabe argumentar a respeito do fator
aleatório, se fosse possível saber como este fator será em 2015 então não seria
um fator aleatório. Ademais o Banco Central passou os últimos quatro anos
apostando que inflação voltará ao centro da meta por conta do fator aleatório
e, como é de conhecimento geral, a aposta não deu certo. Descartado o fator
aleatório sobram a inflação esperada e a taxa de desemprego.
Comecemos com a taxa de desemprego. De saída cabe explicar
que taxa de desemprego natural é aquela que não tem relação com o estado da
economia. Sempre haverá alguém mudando de cidade, alguém que brigou com o chefe
ou alguém que simplesmente desistiu do emprego que tinha, todos estes estão
desempregados, mas não por conta da economia ou da política econômica, estão
desempregados por questões individuais. Voltando a relação acima, note que toda
vez que a taxa de desemprego for menor que a taxa natural a inflação tende a
aumentar, por outro lado, se a taxa de desemprego aumenta ocorrerá uma redução
na inflação. Por conta disso os jornalistas que entrevistaram Aécio e boa parte
da população, inclusive vários economistas, acreditam que o combate a inflação
exigirá um aumento do desemprego no próximo ano. Não vou dizer que não seja o
caso, mas digo que é praticamente impossível saber o tamanho desse aumento.
A questão é que atualmente quem está puxando a inflação
brasileira para cima é a inflação esperada, o próprio Banco Central reconhece
isto. Este fato explica a razão de estarmos com a economia encolhendo e com
previsão de inflação na redondeza de 6%. Nesse sentido Aécio foi muito feliz
quando disse que a recessão já está sendo imposta pelo atual governo, é
verdade, os números mostram isso de forma clara. O problema é saber a razão da
recessão conviver com a alta inflação e a resposta são as expectativas de
inflação. A péssima condução da política econômica nos últimos anos fez com que
o Banco Central perdesse o controle das expectativas, dito de outra forma, as
pessoas acreditam que vai ter inflação e não acreditam que o Banco Central fará
algo para impedir que ocorra. Em um cenário deste tipo apenas um desemprego
brutal conseguiria combater a inflação, a não ser que...
A não ser que por algum motivo as pessoas voltassem a
confiar no Banco Central. Como bem sabem todos que já aprontaram na vida,
recuperar a confiança não é uma tarefa fácil. Na maioria das vezes exige
grandes sacrifícios, que no caso seria um desemprego muito alto por muito
tempo, mas algumas vezes não. Existem casos em que uma mudança radical é
suficiente para restabelecer a confiança perdida. Retirar um governo que está
no poder há doze anos e colocar de volta no governo um partido que já enfrentou
um quadro inflacionário muito mais grave do que o atual pode ser a mudança que
estamos falando. Claro que isto é uma especulação, não uma certeza, ninguém
pode saber se um novo governo será suficiente para que o BC recupere a confiança
da população, nem o Aécio.
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