quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Expectativas de Inflação e a Entrevista de Aécio Neves ao Jornal da Globo

Aécio Neves foi ao Jornal da Globo e não respondeu de forma clara o que fará com a taxa de juros em 2015. A primeira vista pode parecer mais um caso onde um candidato tenta esconder medidas impopulares que terá de tomar caso seja o eleito. Olhando com mais cuidado pode ser que Aécio não tenha respondido pelo simples fato que é impossível responder a pergunta. Não tenho como saber o que se passava na cabeça de Aécio e, portanto, não descarto nenhuma das duas possibilidades como a real motivação de Aécio. Mas acredito que é válido aproveitar a oportunidade para explicar a razão de ser praticamente impossível afirmar o que deverá ser feito com a taxa de juros em 2015.

Comecemos com alguns conceitos de economia (é chato, mas foi você que veio ler o blog de um economista). Existe um grande debate a respeito da relação entre inflação e variáveis como nível de atividade e desemprego, porém, a sabedoria padrão relativa ao tema diz que a inflação depende da inflação esperada, do desemprego e de fatores aleatórios que possam afetar a economia. A relação pode ser escrita na forma:

Inflação = Inflação Esperada – constante*(Taxa de Desemprego – Taxa Natural de Desemprego) + Fator Aleatório

Naturalmente não cabe argumentar a respeito do fator aleatório, se fosse possível saber como este fator será em 2015 então não seria um fator aleatório. Ademais o Banco Central passou os últimos quatro anos apostando que inflação voltará ao centro da meta por conta do fator aleatório e, como é de conhecimento geral, a aposta não deu certo. Descartado o fator aleatório sobram a inflação esperada e a taxa de desemprego.

Comecemos com a taxa de desemprego. De saída cabe explicar que taxa de desemprego natural é aquela que não tem relação com o estado da economia. Sempre haverá alguém mudando de cidade, alguém que brigou com o chefe ou alguém que simplesmente desistiu do emprego que tinha, todos estes estão desempregados, mas não por conta da economia ou da política econômica, estão desempregados por questões individuais. Voltando a relação acima, note que toda vez que a taxa de desemprego for menor que a taxa natural a inflação tende a aumentar, por outro lado, se a taxa de desemprego aumenta ocorrerá uma redução na inflação. Por conta disso os jornalistas que entrevistaram Aécio e boa parte da população, inclusive vários economistas, acreditam que o combate a inflação exigirá um aumento do desemprego no próximo ano. Não vou dizer que não seja o caso, mas digo que é praticamente impossível saber o tamanho desse aumento.

A questão é que atualmente quem está puxando a inflação brasileira para cima é a inflação esperada, o próprio Banco Central reconhece isto. Este fato explica a razão de estarmos com a economia encolhendo e com previsão de inflação na redondeza de 6%. Nesse sentido Aécio foi muito feliz quando disse que a recessão já está sendo imposta pelo atual governo, é verdade, os números mostram isso de forma clara. O problema é saber a razão da recessão conviver com a alta inflação e a resposta são as expectativas de inflação. A péssima condução da política econômica nos últimos anos fez com que o Banco Central perdesse o controle das expectativas, dito de outra forma, as pessoas acreditam que vai ter inflação e não acreditam que o Banco Central fará algo para impedir que ocorra. Em um cenário deste tipo apenas um desemprego brutal conseguiria combater a inflação, a não ser que...


A não ser que por algum motivo as pessoas voltassem a confiar no Banco Central. Como bem sabem todos que já aprontaram na vida, recuperar a confiança não é uma tarefa fácil. Na maioria das vezes exige grandes sacrifícios, que no caso seria um desemprego muito alto por muito tempo, mas algumas vezes não. Existem casos em que uma mudança radical é suficiente para restabelecer a confiança perdida. Retirar um governo que está no poder há doze anos e colocar de volta no governo um partido que já enfrentou um quadro inflacionário muito mais grave do que o atual pode ser a mudança que estamos falando. Claro que isto é uma especulação, não uma certeza, ninguém pode saber se um novo governo será suficiente para que o BC recupere a confiança da população, nem o Aécio.


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