terça-feira, 2 de setembro de 2014

Os Números da Indústria e o Descolamento da Realidade de Dilma na Defesa do Indefensável

A novidade do dia foi a divulgação da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) mostrando que em relação a junho a indústria cresceu 0,7% em julho (link aqui). Não é um número que impressione, apesar de ajustes sazonais é praticamente impossível limpar os efeitos da Copa do Mundo deste resultado. O cenário fica mais claro quando se compara julho de 2014 com julho de 2013, queda de 3,6% na produção industrial. No acumulado do ano a queda é 2,8% e nos últimos doze meses a queda foi de 1,2%. Uma evidência forte que o aumento de julho pode ter sido uma compensação da queda de junho é obtida quando se observa que as categorias que mais subiram em julho foram as categorias que mais caíram em junho (link aqui). Bens de Consumo Duráveis aumentou 20,3% em julho, mas tinha caído 24,9% em junho e Bens de Capital que aumentou 16,7% em julho, mas tinha caído 9,7% em julho.

Deixemos então de lado a variação mensal e voltemos nossa atenção para o que é mais interessante: a comparação com julho de 2013. Como já sabemos neste período ocorreu uma queda de 3,6% na produção industrial. Dentre as grandes categorias a maior queda foi de 13,7% e ocorreu na categoria de Bens de Consumo Duráveis. A produção de bens de capital caiu 6,4%, a de bens intermediários caiu 3,6% e a produção total de bens de consumo caiu 2,8%. A única variação positiva foi em Bens de Consumo Semiduráveis e Duráveis que aumentou 0,6%. É um cenário particularmente preocupante por conta da queda na produção de bens de capital, sinalizando que a taxa de investimento pode continuar caindo, e da queda da produção de bens intermediários, que pode sinalizar planos de redução na produção. A queda gigantesca da produção de bens de consumo duráveis também é um péssimo sinal para um governo que vem apostando no aumento permanente do consumo como motor da economia. Outra aposta grande do governo que também caiu foi a atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias, a queda foi de 22,8%!

Não deixa de ser curioso que no mesmo dia que estes números vieram a público a presidente Dilma resolveu criticar Marina dizendo que a proposta da candidata do PSB reduziria a política industrial a pó (link aqui). Seria cômico se não fosse... esquece, é cômico. Defender a atuação do BNDES para estimular a indústria e o investimento depois da chuva de números mostrando o fracasso inequívoco desta estratégia é sinal de um senso de humor fascinante ou de completa negação da realidade, quase uma loucura. Se um dia Maria Antonieta ficou atordoada sem entender a razão de na ausência de pão o povo não comer brioches, hoje nossa presidente parece atordoada sem entender a razão de na ausência de bons projetos de investimento os empresários não pegarem dinheiro barato do BNDES para investir em projetos ruins mesmo. O problema do baixo investimento no Brasil não é a falta de financiamento, é a falta de bons projetos. É impossível ter bons projetos quando a rentabilidade esperada depende do humor do governante, quando falta infraestrutura e quando falta mão de obra especializada.


Se eu te emprestasse o dinheiro a juros baixos você construiria uma ferrovia no Brasil? Antes de responder pense no tempo e na dificuldade para conseguir as licenças necessárias, nos embargos, nas ocupações do MST, nos desvios de trajeto para atender “lideranças locais”, nos desvios e/ou nos acordos para atender as demandas das populações originárias que aparecerão depois que começar a empreitada, na desvalorização do câmbio para anteder a “indústria local” que vai encarecer suas importações e, se for o caso, reduzir o valor em dólares de suas remessas de lucros... É tanta coisa que se você tiver juízo provavelmente não vai querer construir a ferrovia. Daí eu te pergunto se você não faria mesmo que eu te emprestasse dinheiro a juros menores que os que você consegue aplicando no mercado, juros menores até que a inflação. Agora pode ser que você aceite, não para fazer a ferrovia, mas para aplicar em outras opções mais rentáveis enquanto atrasa a obra. Parece familiar? É mais ou menos isto que acontece no Brasil. Não é por acaso que os empréstimos do BNDES só aumentam e o investimento só cai.


0 comentários:

Postar um comentário