A novidade do dia foi a divulgação da Pesquisa Industrial
Mensal (PIM) mostrando que em relação a junho a indústria cresceu 0,7% em julho
(link aqui). Não é um número que impressione, apesar de ajustes sazonais é
praticamente impossível limpar os efeitos da Copa do Mundo deste resultado. O
cenário fica mais claro quando se compara julho de 2014 com julho de 2013,
queda de 3,6% na produção industrial. No acumulado do ano a queda é 2,8% e nos
últimos doze meses a queda foi de 1,2%. Uma evidência forte que o aumento de
julho pode ter sido uma compensação da queda de junho é obtida quando se observa
que as categorias que mais subiram em julho foram as categorias que mais caíram
em junho (link aqui). Bens de Consumo Duráveis aumentou 20,3% em julho, mas tinha caído 24,9%
em junho e Bens de Capital que aumentou 16,7% em julho, mas tinha caído 9,7% em
julho.
Deixemos então de lado a variação mensal e voltemos nossa
atenção para o que é mais interessante: a comparação com julho de 2013. Como já
sabemos neste período ocorreu uma queda de 3,6% na produção industrial. Dentre
as grandes categorias a maior queda foi de 13,7% e ocorreu na categoria de Bens
de Consumo Duráveis. A produção de bens de capital caiu 6,4%, a de bens intermediários
caiu 3,6% e a produção total de bens de consumo caiu 2,8%. A única variação
positiva foi em Bens de Consumo Semiduráveis e Duráveis que aumentou 0,6%. É um
cenário particularmente preocupante por conta da queda na produção de bens de
capital, sinalizando que a taxa de investimento pode continuar caindo, e da
queda da produção de bens intermediários, que pode sinalizar planos de redução
na produção. A queda gigantesca da produção de bens de consumo duráveis também
é um péssimo sinal para um governo que vem apostando no aumento permanente do
consumo como motor da economia. Outra aposta grande do governo que também caiu
foi a atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias, a queda foi de
22,8%!
Não deixa de ser curioso que no mesmo dia que estes números
vieram a público a presidente Dilma resolveu criticar Marina dizendo que a
proposta da candidata do PSB reduziria a política industrial a pó (link aqui). Seria
cômico se não fosse... esquece, é cômico. Defender a atuação do BNDES para
estimular a indústria e o investimento depois da chuva de números mostrando o
fracasso inequívoco desta estratégia é sinal de um senso de humor fascinante ou
de completa negação da realidade, quase uma loucura. Se um dia Maria Antonieta
ficou atordoada sem entender a razão de na ausência de pão o povo não comer
brioches, hoje nossa presidente parece atordoada sem entender a razão de na
ausência de bons projetos de investimento os empresários não pegarem dinheiro
barato do BNDES para investir em projetos ruins mesmo. O problema do baixo
investimento no Brasil não é a falta de financiamento, é a falta de bons
projetos. É impossível ter bons projetos quando a rentabilidade esperada
depende do humor do governante, quando falta infraestrutura e quando falta mão
de obra especializada.
Se eu te emprestasse o dinheiro a juros baixos você
construiria uma ferrovia no Brasil? Antes de responder pense no tempo e na dificuldade
para conseguir as licenças necessárias, nos embargos, nas ocupações do MST, nos
desvios de trajeto para atender “lideranças locais”, nos desvios e/ou nos
acordos para atender as demandas das populações originárias que aparecerão
depois que começar a empreitada, na desvalorização do câmbio para anteder a “indústria
local” que vai encarecer suas importações e, se for o caso, reduzir o valor em
dólares de suas remessas de lucros... É tanta coisa que se você tiver juízo
provavelmente não vai querer construir a ferrovia. Daí eu te pergunto se você
não faria mesmo que eu te emprestasse dinheiro a juros menores que os que você
consegue aplicando no mercado, juros menores até que a inflação. Agora pode ser
que você aceite, não para fazer a ferrovia, mas para aplicar em outras opções
mais rentáveis enquanto atrasa a obra. Parece familiar? É mais ou menos isto
que acontece no Brasil. Não é por acaso que os empréstimos do BNDES só aumentam
e o investimento só cai.
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