Ontem estava olhando um post no R-bloggers ensinando como pegar
dados do Google de movimentação em áreas específicas em diversos países (link
aqui). Por conta disso resolvi olhar o relatório para o Brasil e avaliar como o
isolamento está afetando o movimento nessas áreas por aqui e agora compartilho
alguns números com os leitores do blog. Os dados são Google - COVID-19
Community Mobility Reports (link aqui).
Os indicadores são calculados tomando como referência as
idas em tempos de permanência em cada tipo de área em proporção ao período de
referência que é definido como a mediana para o mesmo dia da semana no período
entre três de janeiro e seis de fevereiro de 2020. Para este post vou usar os
dados referentes a cinco de abril que é o último período da amostra, desta
forma o período de referência é a mediana dos domingos entre três de janeiro e
seis de fevereiro. Quando os dados estiverem maias atualizados eu já devo ter conseguido
puxar os dados para todos os dias, afinal é do que trata o post no R-bloggers,
e vou tentar fazer comparações com outros dias da semana, se ficar interessante
coloco os resultados em outro post.
São avaliadas as movimentações nos seguintes tipos de áreas:
- Compras e recreação (Retail & recreation): restaurantes, cafés, shopping centers, parques temáticos, museus, bibliotecas e cinemas.
- Mercados e farmácias (Grocery & pharmacy): mercearias, armazéns, quitandas, mercados, drogarias e farmácias.
- Lazer (Parks): parques e jardins públicos, praias, marinas, praças e parques para cães.
- Terminais de transportes (Transit stations): estações de metrô, trem e pontos de ônibus.
- Locais de trabalho (Workplaces): locais de trabalho.
- Áreas residenciais (Residential): áreas residenciais.
A figura abaixo mostra o indicador em cada uma das áreas
para o Brasil.
A maior queda de movimento ocorreu nas áreas de compras e
recreação (67%), seguida de perto pelas áreas de lazer (66%), a menor queda foi
nas áreas dedicadas a mercados e farmácias. O movimento nos locais de trabalho
pode estar comprometido pela data ser um domingo, mas, mesmo assim, ocorreu uma
queda de 30%. Como esperado o movimento em áreas residenciais aumentou. A
magnitude da queda e áreas associadas a recreação e lazer, atividades
voluntárias, sugere que houve adesão da população às medidas de isolamento. Naturalmente
em locais que estavam fechados ou com acesso proibido por conta de decisão de
prefeitos ou governadores a adesão não pode ser classificada de voluntária.
Apesar do Google dos riscos de comparar regiões diferentes, precisão
e classificação de locais mudam de uma região para outra, no restante do post
vou mostrar o movimento nas áreas acima por unidades da federação. A figura
abaixo mostra a variação de movimento em locais dedicados a compras e recreação.
As maiores quedas ocorreram no Ceará e em Santa Catarina, ambos
74%, na sequência vieram Paraíba, Pernambuco e Amapá. As menores queda
ocorreram em Tocantins, Rondônia e Mato Grosso. Apesar de inicialmente terem se
destacado como áreas de preocupação o Distrito Federal, o Rio de Janeiro e São
Paulo não se destacaram na redução de movimento em áreas de compras e
recreação. Dessas três unidades da federação a maior queda foi no Rio de Janeiro
(69%), seguida de São Paulo (67%) e Distrito Federal (64%).
A próxima figura mostra a queda na movimentação em áreas de
mercados e farmácias. É natural que essa queda tenha sido menor que em outras
áreas, afinal são comércios essenciais. Nessas áreas a maior queda ocorreu em
santa Catarina (37%), seguida pela queda na Bahia (33%) e Piauí (32%). A menor
queda ocorrer em Rondônia (11%), no Pará a queda foi de 16%, Goiás e Maranhão
tiveram queda de 18%. Mais uma vez Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal
não tiveram entre as unidades com maiores quedas.
Nas áreas de lazer novamente Santa Catarina liderou a queda
(80%), desta vez o Rio de Janeiro teve destaque com uma queda de 78% segundo do
Espírito Santo com queda de 72%. As menores quedas ocorreram em Tocantins
(29%), Rondônia (30%) e Goiás (37%), é possível que o fato de nenhum dos três
ter praias tenha contribuído para esse resultado. De fato, a queda média do
movimento em áreas de lazer foi de 71% nos estados cuja capital tem praia e 50%
nos estados onde as capitais não têm praia.
As maiores queda em áreas de transporte foram observadas em
Sergipe (79%), no Piauí (77%) e no Amapá (73%). A data de referência ser um
domingo ajuda aumentar o tamanho da queda no uso de transportes, mas a análise
dos gráficos com o período completo que está no documento do Google sugere que nos
outros dias também ocorreram fortes quedas.
O movimento no local de trabalho também sofre efeitos da comparação
ser feito entre domingos, ao contrário do uso de transportes nos locais de
trabalho a queda nos domingos tende a ser menor que nos outros dias. De toda
forma, vale registrar que Rio de Janeiro e Santa Catarina tiveram a menor
redução de movimentos nessas áreas (35%), seguidos do Distrito Federal (33%) e
São Paulo (32%). A referência no domingo pode ter uma vantagem na análise do DF
porque muitos servidores públicos normalmente não trabalham aos domingos, dessa
forma a variação tem menos efeito do serviço público.
O movimento nas áreas residenciais, como esperado, aumentou
em todos os estados e no Distrito Federal. Os maiores aumentos ocorreram no Rio
Grande do Sul e no Rio Grande do Norte (18%), seguidos por Santa Catarina, Distrito
Federal e Piauí (17%). Parte desse aumento pode por conta de pessoas que trocaram
idas a shoppings, parque ou praias por movimentação nas redondezas de onde
moram.
Para encerrar o post calculei as médias dos indicadores, com
exceção do movimento nas áreas residenciais, depois de imaginar várias possíveis
formas de ponderar cada área decidi usar uma média simples. A figura abaixo
mostra os resultados. Pelo critério de média simples o estado onde ocorreu o
maior isolamento foi Santa Catarina, queda de 59,6% na média de movimento das áreas,
seguido da Bahia (54,6%) e do Ceará (53,8%).
Os menores isolamentos ocorreram em Rondônia (36,2%), Tocantins (36,8%)
e Mato Grosso (37%).
No computo geral os números mostram que houve um engajamento
da população, em alguns casos por conta de intimidação, nos esforços de
isolamento. As quedas de 67% e 66% no movimento em áreas de compras e recreação
e de lazer me parecem significativa (se eu conseguir arrumar os dados faço uma
comparação com outros países, mas como referência as quedas nos EUA no mesmo
período foram de 49% e 20%, respectivamente), as quedas menores em outras áreas
podem ser explicadas por necessidades de compras, como em mercados e farmácias,
ou por necessidade de trabalhar. Também é possível observar que, mesmo com
diferentes graus de adesão, os esforços de isolamento podem ser percebidos em
todos as unidades da federação.
É possível o cálculo para municípios?
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