domingo, 12 de abril de 2020

Covid-19 e o movimento por áreas de interesse no Brasil


Ontem estava olhando um post no R-bloggers ensinando como pegar dados do Google de movimentação em áreas específicas em diversos países (link aqui). Por conta disso resolvi olhar o relatório para o Brasil e avaliar como o isolamento está afetando o movimento nessas áreas por aqui e agora compartilho alguns números com os leitores do blog. Os dados são Google - COVID-19 Community Mobility Reports (link aqui).

Os indicadores são calculados tomando como referência as idas em tempos de permanência em cada tipo de área em proporção ao período de referência que é definido como a mediana para o mesmo dia da semana no período entre três de janeiro e seis de fevereiro de 2020. Para este post vou usar os dados referentes a cinco de abril que é o último período da amostra, desta forma o período de referência é a mediana dos domingos entre três de janeiro e seis de fevereiro. Quando os dados estiverem maias atualizados eu já devo ter conseguido puxar os dados para todos os dias, afinal é do que trata o post no R-bloggers, e vou tentar fazer comparações com outros dias da semana, se ficar interessante coloco os resultados em outro post.

São avaliadas as movimentações nos seguintes tipos de áreas:
  • Compras e recreação (Retail & recreation): restaurantes, cafés, shopping centers, parques temáticos, museus, bibliotecas e cinemas.
  • Mercados e farmácias (Grocery & pharmacy): mercearias, armazéns, quitandas, mercados, drogarias e farmácias.
  • Lazer (Parks): parques e jardins públicos, praias, marinas, praças e parques para cães.
  • Terminais de transportes (Transit stations): estações de metrô, trem e pontos de ônibus.
  • Locais de trabalho (Workplaces): locais de trabalho.
  • Áreas residenciais (Residential): áreas residenciais.

A figura abaixo mostra o indicador em cada uma das áreas para o Brasil.




A maior queda de movimento ocorreu nas áreas de compras e recreação (67%), seguida de perto pelas áreas de lazer (66%), a menor queda foi nas áreas dedicadas a mercados e farmácias. O movimento nos locais de trabalho pode estar comprometido pela data ser um domingo, mas, mesmo assim, ocorreu uma queda de 30%. Como esperado o movimento em áreas residenciais aumentou. A magnitude da queda e áreas associadas a recreação e lazer, atividades voluntárias, sugere que houve adesão da população às medidas de isolamento. Naturalmente em locais que estavam fechados ou com acesso proibido por conta de decisão de prefeitos ou governadores a adesão não pode ser classificada de voluntária.

Apesar do Google dos riscos de comparar regiões diferentes, precisão e classificação de locais mudam de uma região para outra, no restante do post vou mostrar o movimento nas áreas acima por unidades da federação. A figura abaixo mostra a variação de movimento em locais dedicados a compras e recreação.




As maiores quedas ocorreram no Ceará e em Santa Catarina, ambos 74%, na sequência vieram Paraíba, Pernambuco e Amapá. As menores queda ocorreram em Tocantins, Rondônia e Mato Grosso. Apesar de inicialmente terem se destacado como áreas de preocupação o Distrito Federal, o Rio de Janeiro e São Paulo não se destacaram na redução de movimento em áreas de compras e recreação. Dessas três unidades da federação a maior queda foi no Rio de Janeiro (69%), seguida de São Paulo (67%) e Distrito Federal (64%).

A próxima figura mostra a queda na movimentação em áreas de mercados e farmácias. É natural que essa queda tenha sido menor que em outras áreas, afinal são comércios essenciais. Nessas áreas a maior queda ocorreu em santa Catarina (37%), seguida pela queda na Bahia (33%) e Piauí (32%). A menor queda ocorrer em Rondônia (11%), no Pará a queda foi de 16%, Goiás e Maranhão tiveram queda de 18%. Mais uma vez Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal não tiveram entre as unidades com maiores quedas.

  
Nas áreas de lazer novamente Santa Catarina liderou a queda (80%), desta vez o Rio de Janeiro teve destaque com uma queda de 78% segundo do Espírito Santo com queda de 72%. As menores quedas ocorreram em Tocantins (29%), Rondônia (30%) e Goiás (37%), é possível que o fato de nenhum dos três ter praias tenha contribuído para esse resultado. De fato, a queda média do movimento em áreas de lazer foi de 71% nos estados cuja capital tem praia e 50% nos estados onde as capitais não têm praia.




As maiores queda em áreas de transporte foram observadas em Sergipe (79%), no Piauí (77%) e no Amapá (73%). A data de referência ser um domingo ajuda aumentar o tamanho da queda no uso de transportes, mas a análise dos gráficos com o período completo que está no documento do Google sugere que nos outros dias também ocorreram fortes quedas.




O movimento no local de trabalho também sofre efeitos da comparação ser feito entre domingos, ao contrário do uso de transportes nos locais de trabalho a queda nos domingos tende a ser menor que nos outros dias. De toda forma, vale registrar que Rio de Janeiro e Santa Catarina tiveram a menor redução de movimentos nessas áreas (35%), seguidos do Distrito Federal (33%) e São Paulo (32%). A referência no domingo pode ter uma vantagem na análise do DF porque muitos servidores públicos normalmente não trabalham aos domingos, dessa forma a variação tem menos efeito do serviço público.




O movimento nas áreas residenciais, como esperado, aumentou em todos os estados e no Distrito Federal. Os maiores aumentos ocorreram no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte (18%), seguidos por Santa Catarina, Distrito Federal e Piauí (17%). Parte desse aumento pode por conta de pessoas que trocaram idas a shoppings, parque ou praias por movimentação nas redondezas de onde moram.




Para encerrar o post calculei as médias dos indicadores, com exceção do movimento nas áreas residenciais, depois de imaginar várias possíveis formas de ponderar cada área decidi usar uma média simples. A figura abaixo mostra os resultados. Pelo critério de média simples o estado onde ocorreu o maior isolamento foi Santa Catarina, queda de 59,6% na média de movimento das áreas, seguido da Bahia (54,6%) e do Ceará (53,8%).  Os menores isolamentos ocorreram em Rondônia (36,2%), Tocantins (36,8%) e Mato Grosso (37%).




No computo geral os números mostram que houve um engajamento da população, em alguns casos por conta de intimidação, nos esforços de isolamento. As quedas de 67% e 66% no movimento em áreas de compras e recreação e de lazer me parecem significativa (se eu conseguir arrumar os dados faço uma comparação com outros países, mas como referência as quedas nos EUA no mesmo período foram de 49% e 20%, respectivamente), as quedas menores em outras áreas podem ser explicadas por necessidades de compras, como em mercados e farmácias, ou por necessidade de trabalhar. Também é possível observar que, mesmo com diferentes graus de adesão, os esforços de isolamento podem ser percebidos em todos as unidades da federação.

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