Com a divulgação dos dados do Outlook do FMI (ver aqui) é possível
ter uma visão mais ampla das estimativas de impacto da Covid-19 no crescimento
dos diversos países. Para fazer esse post considerei todos os países com mais
de dez milhões de habitantes e com previsão para crescimento em 2020 na base de
dados de outubro de 2019 e na base de dados de abril de 2020, foram 87 países. A diferença entre a previsão de crescimento em
outubro de 2019 e abril de 2020 é o que vou chamar de impacto da Covid-19 na
estimativa de crescimento.
A figura abaixo mostra e compara o impacto da pandemia no
Brasil e em outros países selecionados com o impacto em todos os países da
amostra. No eixo horizontal está o impacto em cada país, o eixo vertical mostra
quantos países sofrerão um impacto maior que o do país. Por exemplo, em outubro
de 2019 a estimativa de crescimento para Argentina era de -1,281%, em abril de
2020 essa estimativa caiu para -5,719, o impacto da Covid-19 na estimativa de
crescimento da Argentina é de -5,719 - (-1,281) = -4,438 e 75,9% dos países
sofrerão um impacto maior do que a Argentina.
Como mostra a figura o impacto no Brasil será menor que no
Chile, México, EUA e Alemanha, porém maior que na Bolívia, Equador e Colômbia.
De forma mais precisa, o impacto no Brasil será de -7,342 e 32% dos países da
amostra sofrerão um impacto maior que o Brasil, ou seja, se as estimativas do
FMI estiverem corretas vamos sofrer um impacto significativo.
A previsão para o Brasil é de queda de 5,3% do PIB, é uma
queda forte mesmo considerando nossa renda per capita em 2019. A figura abaixo
mostra a relação entre PIB per capita e crescimento previsto para 2020
destacando os mesmos países da figura anterior e os grupos de países conforme
classificação do FMI. Repare que a queda no PIB será mais acentuada nos países
avançados. O grupo com melhor desempenho é a África subsaariana, 17 dos 27
países com previsão de crescimento em 2020 pertencem a esse grupo.
A próxima figura mostra o crescimento previsto em abril de
2020 em comparação ao crescimento previsto em outubro de 2019. Em todos os
países o crescimento previsto em 2020 e menor que o previsto em 2019, isso
deixa claro o impacto global da Covid-19. A reta de regressão está na figura
apenas para ajudar na visualização, uma reta de 45º, mais adequada para esse tipo
figura, só causaria distorções pois passaria muito acima de todos os pontos.
A avaliação do impacto por grupos de países confirma que os
países avançados serão os mais atingidos. Tomando a média dos países de cada
grupo, nos países avançados o crescimento de 2020 previsto em abril deste ano ficou
8,3% menor que o previsto em outubro do ano passado. Na África subsaariana a
queda estimada foi de 4,6%, na América Latina e Caribe, a nuestra America, a
queda foi de 6,5%. A figura abaixo mostra o impacto da Covid-19 em todos os
grupos de países.
Considerando apenas os países que ficaram na amostra, as
estimativas do FMI apontam que o impacto do coronavírus no Brasil vai ser menor
do que no Peru, no México e no Chile. O menor impacto corre na Argentina,
talvez por ser o único país do grupo onde havia previsão de queda do PIB já em
2019.
Em termos de previsão de crescimento para 2020 a maior queda
deve ser no México, seguido de Equador e Argentina, logo após vem o Brasil. A
menor queda está prevista para acontecer na República Dominicana. Dos países da
América do Sul que estão na amostra a menor queda deve ser na Colômbia.
O balanço geral da comparação das estimativas de crescimento
é desolador. A média de crescimento dos 87 países da amostra que era de 3,6% em
outubro de 2019 virou uma queda de 2,6% em abril de 2020, a mediana foi de 3,1%
para -3%. Nas previsões de 2019 apenas o Sudão (-1,5%) e a Argentina (1-,3%)
teriam queda no PIB em 2020, agora a previsão é que 60 países terão queda no
PIB. As maiores quedas estão previstas para Grécia, 10%, Itália, 9,1%, Portugal
e Espanha, ambos com 8%.
Se serve de consolo registro que a incerteza é tão grande
que mesmo previsões de instituições renomadas como o FMI devem ser olhadas com
muita cautela, há uma enorme margem para erros. O problema é que não temos a menor
ideia se os erros são para mais ou para menos;
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