Ontem comentei no Twitter e no Facebook a respeito de um
trabalho elaborado por Ceyhun Elgin, Gokce Basbug e Abdullah Yalaman (link
aqui) a respeito das medidas que os países estão tomando para combater e
aliviar os efeitos econômicos da Covid-19. No trabalho os autores apresentam
várias métricas que tentam capturar a intensidade das políticas fiscais,
monetárias e de balanço de pagamentos e elaboram um índice para medir a
intensidade dos estímulos à economia em resposta à pandemia de Covid-19, o
índice é chamado de CESI (do inglês: Covid-19 Economic Stimulus Index). Nesse
post analiso os indicadores de política monetária e fiscal para ver como o
Brasil está se saindo na comparação com outros países.
Como vou comentar vários indicadores considerei apenas os
países em que estão disponíveis dados para todos os indicadores de política
fiscal e monetária bem como o PIB per capita e o CESI, dessa forma fiquei com cento
e quarenta e três países da amostra original de cento e sessenta e seis países.
O CESI do Brasil foi de 0,09, de todos os países da amostra o maior foi
observado no Bahrein, 4,85, e o menor na Argélia, -4,25. Nossos estímulos para amenizar
os efeitos econômicos da Covid-19 medidos pelo CESI estão abaixo da média, 0,15,
mas estão acima da mediana, -0,21. A figura abaixo mostra a CESI de todos os
países da amostra e destaca alguns países da América Latina, China, Estados
Unidos, Itália, Japão e Suécia. A reta de regressão é apenas ilustrativa, não
recomendo tirar conclusões sem maiores cuidados. No grupo em destaque da
América Latina apenas o Chile teve um CESI maior que o do Brasil.
O indicador fiscal leva em conta o tamanho dos gastos
realizados para enfrentar a Covid-19 como proporção do PIB, no artigo essa medida
para o Brasil é de 3,5. Na amostra como um todo a média é de 2,4 e a mediana é
de 1. Em vinte e dois países o esforço fiscal foi zero e em dois países foi
negativo, retirando esses países da amostra a média sobe para 2,9 e a mediana
vai para 1,4, ainda estamos acima da média e da mediana. No grupo da América Latina
em destaque apenas o Chile teve um pacote fiscal maior do que o brasileiro como
proporção do PIB. A figura abaixo mostra o indicador fiscal para os países onde
esse indicador foi maior que zero.
O próximo indicador que vou comentar mede o corte nos juros em
relação à taxa vigente no começo de fevereiro. No Brasil esse indicador é de
28,5, a média da amostra é 13,20 e a mediana é zero, o maior valor foi igual a 100
e ocorreu nos Estados Unidos. Em setenta e sete países o indicador é zero, ou
seja, não houve corte de juros, e em quatro o indicado é negativo. Retirando
esses países da amostra a média passa ser 31,7 e a mediana 22,2, desta forma
nosso corte de juros foi menor que a média dos países que cortaram, que é muito
afetada pelos Estados Unidos, e menor que a mediana. No grupo da América Latina
mais uma vez apenas o Chile teve o indicador maior que o do Brasil. A figura
abaixo mostra o PIB per capita e a indicador de corte de juros para os países
onde o indicador é positivo.
O indicador de medidas macro-financeiras mede a intensidade
das medidas tomadas para estabilizar o mercado financeiro e é medido como o
tamanho desse pacote em relação ao PIB. No Brasil esse indicador foi de 3,2, a
média da amostra é de 2,2 e a mediana é zero. Oitenta e um países não tomaram
medidas macro-financeiras, retirando esses países da amostra a média passa a
ser 5 e a mediana 2,9, dessa forma o Brasil está abaixo da média, mas acima da
mediana, dos países que tomaram medidas macro-fianceiras. Nesse indicador o
Brasil teve o maior valor dentre os países destacados da América Latina.
A tabela resume os resultados dos parágrafos anteriores,
quando for o caso média e mediana 1 são as da amostra completa e média e
mediana 2 são a das amostras com os países onde o indicador é positivo.
Indicador
|
Brasil
|
Média 1
|
Média 2
|
Mediana 1
|
Mediana 2
|
CESI
|
0,09
|
0.15
|
---
|
-0.21
|
---
|
Fiscal
|
3,5
|
2,4
|
2,9
|
1,0
|
1,4
|
Corte de juros
|
28,5
|
13,2
|
31,7
|
0
|
22,2
|
Macro-financeiro
|
3,2
|
2,2
|
5,0
|
0
|
2,9
|
Um último indicador quantitativo que está no artigo e vou
comentar mede o rigor das medidas não econômicas tomadas pelo governo (no
original é chamado de stringency), basicamente considere medidas na área de
saúde (mais aqui). O indicador está disponível para setenta e três países, no
Brasil o valor é de 71, a média da amostra é de 54,2 e a mediana é de 57. Como
referência na Argentina o indicador de rigor é de 43, na Itália 81, no Japão 62
e nos Estados Unidos é de 19. O maior valor observado foi de 95 na Áustria e no
Qatar.
Pelos números apresentados não creio ser correto afirmar que
as medidas tomadas pelo governo brasileiro são modestas. Via de regra estamos
acima da mediana nos indicadores e em muitos casos estamos acima da média, o
resultado acima da mediana permanece quanto dão retirados da amostra os países
que não tomaram a medida em questão.
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