segunda-feira, 6 de abril de 2020

Medidas econômicas para enfrentar a Covid-19 no Brasil e no mundo


Ontem comentei no Twitter e no Facebook a respeito de um trabalho elaborado por Ceyhun Elgin, Gokce Basbug e Abdullah Yalaman (link aqui) a respeito das medidas que os países estão tomando para combater e aliviar os efeitos econômicos da Covid-19. No trabalho os autores apresentam várias métricas que tentam capturar a intensidade das políticas fiscais, monetárias e de balanço de pagamentos e elaboram um índice para medir a intensidade dos estímulos à economia em resposta à pandemia de Covid-19, o índice é chamado de CESI (do inglês: Covid-19 Economic Stimulus Index). Nesse post analiso os indicadores de política monetária e fiscal para ver como o Brasil está se saindo na comparação com outros países.

Como vou comentar vários indicadores considerei apenas os países em que estão disponíveis dados para todos os indicadores de política fiscal e monetária bem como o PIB per capita e o CESI, dessa forma fiquei com cento e quarenta e três países da amostra original de cento e sessenta e seis países. O CESI do Brasil foi de 0,09, de todos os países da amostra o maior foi observado no Bahrein, 4,85, e o menor na Argélia, -4,25. Nossos estímulos para amenizar os efeitos econômicos da Covid-19 medidos pelo CESI estão abaixo da média, 0,15, mas estão acima da mediana, -0,21. A figura abaixo mostra a CESI de todos os países da amostra e destaca alguns países da América Latina, China, Estados Unidos, Itália, Japão e Suécia. A reta de regressão é apenas ilustrativa, não recomendo tirar conclusões sem maiores cuidados. No grupo em destaque da América Latina apenas o Chile teve um CESI maior que o do Brasil.




O indicador fiscal leva em conta o tamanho dos gastos realizados para enfrentar a Covid-19 como proporção do PIB, no artigo essa medida para o Brasil é de 3,5. Na amostra como um todo a média é de 2,4 e a mediana é de 1. Em vinte e dois países o esforço fiscal foi zero e em dois países foi negativo, retirando esses países da amostra a média sobe para 2,9 e a mediana vai para 1,4, ainda estamos acima da média e da mediana. No grupo da América Latina em destaque apenas o Chile teve um pacote fiscal maior do que o brasileiro como proporção do PIB. A figura abaixo mostra o indicador fiscal para os países onde esse indicador foi maior que zero.




O próximo indicador que vou comentar mede o corte nos juros em relação à taxa vigente no começo de fevereiro. No Brasil esse indicador é de 28,5, a média da amostra é 13,20 e a mediana é zero, o maior valor foi igual a 100 e ocorreu nos Estados Unidos. Em setenta e sete países o indicador é zero, ou seja, não houve corte de juros, e em quatro o indicado é negativo. Retirando esses países da amostra a média passa ser 31,7 e a mediana 22,2, desta forma nosso corte de juros foi menor que a média dos países que cortaram, que é muito afetada pelos Estados Unidos, e menor que a mediana. No grupo da América Latina mais uma vez apenas o Chile teve o indicador maior que o do Brasil. A figura abaixo mostra o PIB per capita e a indicador de corte de juros para os países onde o indicador é positivo.



O indicador de medidas macro-financeiras mede a intensidade das medidas tomadas para estabilizar o mercado financeiro e é medido como o tamanho desse pacote em relação ao PIB. No Brasil esse indicador foi de 3,2, a média da amostra é de 2,2 e a mediana é zero. Oitenta e um países não tomaram medidas macro-financeiras, retirando esses países da amostra a média passa a ser 5 e a mediana 2,9, dessa forma o Brasil está abaixo da média, mas acima da mediana, dos países que tomaram medidas macro-fianceiras. Nesse indicador o Brasil teve o maior valor dentre os países destacados da América Latina.




A tabela resume os resultados dos parágrafos anteriores, quando for o caso média e mediana 1 são as da amostra completa e média e mediana 2 são a das amostras com os países onde o indicador é positivo.

Indicador
Brasil
Média 1
Média 2
Mediana 1
Mediana 2
CESI
0,09
0.15
---
-0.21
---
Fiscal
3,5
2,4
2,9
1,0
1,4
Corte de juros
28,5
13,2
31,7
0
22,2
Macro-financeiro
3,2
2,2
5,0
0
2,9


Um último indicador quantitativo que está no artigo e vou comentar mede o rigor das medidas não econômicas tomadas pelo governo (no original é chamado de stringency), basicamente considere medidas na área de saúde (mais aqui). O indicador está disponível para setenta e três países, no Brasil o valor é de 71, a média da amostra é de 54,2 e a mediana é de 57. Como referência na Argentina o indicador de rigor é de 43, na Itália 81, no Japão 62 e nos Estados Unidos é de 19. O maior valor observado foi de 95 na Áustria e no Qatar.

Pelos números apresentados não creio ser correto afirmar que as medidas tomadas pelo governo brasileiro são modestas. Via de regra estamos acima da mediana nos indicadores e em muitos casos estamos acima da média, o resultado acima da mediana permanece quanto dão retirados da amostra os países que não tomaram a medida em questão.


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