segunda-feira, 15 de julho de 2019

Sobre a queda nas expectativas de crescimento e o excesso de otimismo de (quase) todo janeiro


Em abril de 2014 fiz um post (link aqui) mostrando que o pessoal do mercado pecava por excesso de otimismo, na época o objetivo era desmistificar a tese que o mercado era pessimista e fazia terrorismo econômico. A verdade é que os números do Boletim Focus (link aqui), que resume as expectativas de mercado, mostravam o exato contrário: nos anos anteriores a 2014 o mercado estimava crescimento maior e inflação menor do que o crescimento e a inflação que de fato ocorreram.

Hoje volto ao otimismo de mercado, mas com outra perspectiva. Se em 2014 o otimismo do mercado era estranhamente percebido como pessimismo em 2019 a correção do otimismo do mercado durante o ano é vista como sinal de aprofundamento da crise. Por certo a recuperação é lenta e está ameaçada, não há questionamentos aqui, meu ponto é que a redução das expectativas de crescimento do Focus não é um bom termômetro para isso. A verdade é que normalmente as expectativas de crescimento para baixo são corrigidas para baixo durante o ano. A figura abaixo mostra a expectativa de crescimento na última semana de janeiro e na última semana de junho entre 2001 e 2019.




Com exceção do período 2006-08 e de 2010 em todos os anos a expectativa de crescimento em junho era menor do que em janeiro. É verdade que a queda deste ano ficou acima da média, mas isso se deve mais ao excesso de otimismo em janeiro do que a dinâmica da economia propriamente dita. Desde que a crise saiu do armário em 2014 até 2018 a economia brasileira encolheu em média 0,96% ao ano, neste mesmo período o maior crescimento foi de 1,1% em 2018. De onde o pessoal do mercado tirou a ideia que o crescimento em 2019 seria de 2,5%?

Terá sido empolgação com a vitória de Bolsonaro? Pode ser, mas, como eu já disse antes, esse padrão de superestimar o crescimento em janeiro não é atípico. Em onze dos dezoitos anos decorridos entre 2001 e 2018 o crescimento previsto em janeiro foi maior que o crescimento ocorrido de fato. A figura abaixo mostra a expectativa de crescimento em janeiro e o crescimento ocorrido no período posterior à crise.




Repare que apenas em 2017 o pessoal do mercado previu um crescimento menos que o ocorrido, mas foi por pouca coisa. Em 2018 mesmo após anos de crise o mercado em janeiro falava que a economia cresceria 2,66%! Os números dos anos anteriores não sugerem que o erro de 2019 foi excesso de empolgação com Bolsonaro, na verdade a comparação da série histórica de previsões em janeiro e da série de crescimento do PIB aponta que costuma ocorrer um excesso de otimismo em janeiro. Será que o pessoal do mercado acredita em Papai Noel?


0 comentários:

Postar um comentário