No começo não estava entusiasmado nem com a campanha nem com
Aécio, meu plano era fazer como nas outras eleições: votar em um candidato sem
chances no primeiro turno, tradicionalmente o Eymael, e no segundo turno votar
no candidato tucano. Com o trágico acidente que levou Eduardo Campos me senti
obrigado a mudar de estratégia, diante da possibilidade de um segundo turno
entre Dilma e Marina não apenas decidi votar em Aécio já no primeiro turno como
tornei pública minha decisão. A decisão não foi exatamente acompanhada de
empolgação, cheguei a temer que Aécio não fosse para segundo turno, embora nunca
tenha me juntado aos que sugeriram o abandono da candidatura e um apoio a
Marina. Estava pouco confiante mas certo que Aécio era a única opção palatável.
Veio o primeiro turno, Aécio não apenas foi para o segundo turno como se saiu
muito melhor do que o previsto pelos principais institutos de pesquisa do país.
Com o segundo turno começou a vir a empolgação. É bem
verdade que já no primeiro turno Aécio tinha dado sinais que não faria a oposição
burocrática que os tucanos fizeram nas campanhas anteriores. Aécio não passou a
sensação que queria mesmo era estar do outro lado, como fez Serra, nem teve
vergonha de defender a agenda de reformas dos anos 90 e o governo FHC, como
teve Alckmin. Apresentou-se como candidato de oposição, foi duro nas críticas ao
petismo e ao desastroso governo de Dilma, não se acovardou e não se intimidou.
Fique claro que Aécio não é meu candidato dos sonhos e o PSDB não é um partido
que eu me identifique. Reconheço o PSDB como um legitimo representante da
social democracia moderna, as reformas de FHC não foram essencialmente
diferentes das feitas por governo sociais democratas por toda a Europa, negar
isso é negar a realidade. Como liberal eu gostaria de ter um candidato que
defendesse a agenda liberal, mesmo que fosse um candidato sem chances. Ficaria
feliz de votar em candidato por princípios no primeiro turno (como fizeram os
verdes) e um candidato de conveniência no segundo turno (como também fizeram os
verdes), mas não tenho essa opção. Entre a social democracia moderna do PSDB e
o populismo autoritário do PT eu fico com os tucanos.
O fato é que mesmo sem ser o candidato ideal para muitos
Aécio conseguiu canalizar o sentimento de revolta e/ou cansaço com o petismo e
deu vida à oposição. Pela primeira vez parte expressiva da população perdeu o
medo de se declarar contra o PT. Artistas, esportistas, intelectuais e tantos
outros declararam publicamente apoio a Aécio, o povo foi para rua e disse “fora
PT”. Pode parecer pouco perto de uma militância que há mais de 20 anos diz “fora”
para qualquer presidente que não seja do partido mesmo antes do cidadão tomar
posse, mas é muito se olharmos como foram as campanhas anteriores. Aécio deu
voz e orgulho a milhões de brasileiros que não aprovam o governo petista, não
aprovam a forma petista de governar ou simplesmente não aguentam mais as
trapalhadas de Dilma. Hoje em Brasília pude sentir isso nas ruas. Fui com minha
esposa sem combinar com mais ninguém, encontrei amigos, colegas de
departamento, alunos e várias pessoas que saíram espontaneamente de suas casas
para marcar presença no ato em prol da candidatura tucana. Pessoas que na segunda-feira,
não importa quem ganhe, estarão tocando suas vidas normalmente que estarão
trabalhando, estudando, cuidando de suas casas ou famílias, praticando esportes
ou seja lá o que fazem todo santo dia.
Por mostrar que o Brasil não tem dono, por mostrar que
pensar diferente do governo não é vergonha, por criar um sentimento de
pertencimento aos que não veem no PT o caminho da salvação eu agradeço a Aécio
e a campanha tucana dessas eleições. Liberais, conservadores, sociais democratas,
esquerdistas, direitistas, quem não tem nada isso mas não aguenta mais o
governo dos companheiros todos cantaram “agora é Aécio”. Não importa o que
acontecer amanhã, Aécio é um vitorioso que sai dessa campanha muito maior do
que entrou, mas vitórias trazem responsabilidades, se perder amanhã Aécio tem obrigação
moral de não se acovardar nem se acomodar e liderar a oposição pelos próximos
quatro anos. Uma oposição tão dura e combativa como será a oposição que o PT
fará se Aécio for eleito, uma oposição que faça justiça aos sentimentos que
essa campanha despertou. Ganhando ou perdendo amanhã o bom combate continua.
Por que o Aécio não falou algo tipo: Dilma, como a senhora pode se orgulhar de ter 54 milhões recebendo Bolsa Família? Como se orgulhar de que 1/4 da população do país depende de uma esmola do Governo para sobreviver?
ResponderExcluirMas ao invés disso, ele dizia que iria manter e ampliar o programa...
Maldito populismo.