Ontem na conversa entre Guido Mantega e Armínio Fraga
mediada por Miriam Leitão (link aqui) o ministro insistiu novamente em culpar a
crise internacional pelo baixo crescimento da economia brasileira. Como pode
ser visto no vídeo o ministro afirma que o baixo crescimento decorre da queda
da demanda internacional por nossos produtos. É um argumento que não me
convence, é fato notório que o Brasil é uma economia fechada para o comércio
internacional e que depende pouco das exportações para crescer. Porém resolvi
olhar os dados com mais cuidado. O Ipeadata tem uma série que mostra a
contribuição das exportações para o crescimento do PIB. A série é construída
como o produto entre a participação das exportações no PIB e o crescimento das
exportações e está disponível para o período 1991 a 2013, os dados estão na
figura abaixo.
Se considerarmos o período como um todo a contribuição média
das exportações para o crescimento do PIB foi de 0,65%, no governo Dilma (2011
a 2013) a média foi de 0,29%. Sendo assim é verdade que a contribuição das
exportações para o crescimento durante o governo Dilma foi abaixo da média, mas
será que foi menor o suficiente para explicar o baixo crescimento? A diferença
entre a média de todo o período e a média do governo Dilma é de 0,36%. Nos três
primeiros de Dilma o crescimento foi de 2,73%, 1,03% e 2,49%, respectivamente,
para 2014 a previsão é de crescimento de 0,3%. Se somarmos os 0,36% que podem
ser debitados das exportações as taxas seriam de 3,09%, 1,39%, 2,85% e 0,66%, a
média seria de 2,0% o que ainda garantiria ao governo Dilma a menor taxa de
crescimento desde a estabilização.
Olhando com mais atenção aos dados podemos ver que a
explicação do ministro é ainda mais frágil do que parece. Ao compararmos a
contribuição das exportações para o crescimento do PIB entre os governos
pós-estabilização vemos que o governo cujo as exportações menos contribuíram para
o crescimento foi o primeiro mandato de FHC. Entre 1995 e 1998 as exportações contribuíram
com 0,21% para o crescimento do PIB contra 0,29% no governo Dilma, ainda assim
a economia cresceu em média 2,49% ao ano no primeiro mandado de FHC. A
conclusão é que o argumento das exportações se aplicaria melhor ao primeiro
governo de FHC do que ao governo Dilma. Será que nenhum assessor fez esta conta
para o ministro? Será que ele sabia e falou apostando que ninguém fosse olhar
os dados? Não sei dizer o que aconteceu, mas sei que os dados não parecem
confirmar a, vá lá, tese do ministro.
O argumento do ministro fica ainda mais frágil quando
olhamos para o segundo mandato de Lula, quando correu a crise. Naquele período
as exportações colaboraram com apenas 0,25% para o crescimento do PIB, mais do
que no primeiro mandato de FHC, porém menos do que no governo Dilma.
Ironicamente foi o período que o Brasil mais cresceu desde a estabilização, no
segundo mandato de Lula a economia cresceu a uma taxa de 4,62% ao ano. O fato é
que a grande queda das exportações ocorreu em 2009 quando as exportações
tiveram uma queda de 9,2%, em 2010 as exportações cresceram 11,52% e até 2013
não voltaram a cair. Antes de seguir adiante peço para que os que estão
pensando em argumentar com multiplicadores que lembrem que o efeito
multiplicador, se existir, não ocorre apenas no governo Dilma.
Como podem ver os números são cruéis para tese de Mantega e
dos economistas governistas, mas não é só de base empírica que carece o
argumento oficial, existem outras questões. Até que ponto o fraco desempenho
das exportações no governo Dilma é culpa apenas do setor externo? Mas ela
desvalorizou o câmbio em 50% (isso mesmo, começou em R$ 1,60 e está em R$
2,40), eu sei, ocorre que existem muito mais coisas entre o câmbio e as
exportações do que pensa a vã sabedoria da “turma do câmbio”. A política
protecionista de Dilma afastou as empresas brasileiras das cadeias globais; a
abordagem ideológica para o investimento comprometeu a infraestrutura, mesmo a
Lei dos Portos que tinha tudo para ser o grande trunfo do governo Dilma acabou comprometida
pela agenda política do governo; a estratégia geopolítica de virar as costas
para os países ricos também pode ter ajudado no fraco desempenho das
exportações; para não perder o costume termino a lista lembrando que a
produtividade no Brasil é baixa e cresce pouco, é difícil competir quando se é
menos eficiente. Em suma, a tese que o fraco desempenho as exportações é o
culpado pelo baixo crescimento não se sustenta pelos dados, porém, que mesmo os
dados sustentassem a tese ainda haveria a discussão a respeito de quanto do desempenho
da exportações é culpa de fatores internos.
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